Depois de muita observação, ideias e rabiscos, cinco arquitetos, entre eles o especialista em conservação arquitetural e doutor em artes visuais do Rio de Janeiro, Cyro Ilídio de Oliveira Lyra, chegaram ao consenso que a praça Felix Busso Asseburg precisa ser humanizada. As ideias foram reunidas num relatório que foi entregue sexta-feira ao poder público.
Apesar do marcante cheiro de pescados frescos e a variedade de produtos agradarem a clientela, os especialistas avaliam que a fachada do mercado do Peixe tá ultrapassada. Pra superar isso, basta começar com pequenos detalhes, como abrir janelões e permitir que quem passe na rua aviste os expositores.
Outra sugestão é aproveitar melhor a atual estrutura do mercado do Peixe. O ideal seria colocar mezaninos e criar um segundo andar. Além de ampliar o número de bancas do mercado, a mudança possibilitaria a instalação de bares e restaurantes.
Todas as ideias dos arquitetos vão contra as ações da prefa de remover o mercado da praça e abrir vagas de estacionamento no local. No relatório, eles reforçam que essa mudança de local é um erro. Os dois mercados funcionam como um conjunto indissociável. Não há sentido na transferência do mercado do Peixe pra outro local. Isso acarretaria na decadência do mercado Velho e do projeto de restauração realizado, sentencia Cyro.
Os sabichões recomendam a criação do parque da Marejada. Isso significa criar uma extensa área de lazer e turística. A ideia é vincular o mercado Público ao do Peixe, alargar as calçadas da avenida Ministro Victor Konder, abrir o pátio do Centreventos pra acesso público e pra estacionamento durante o dia. No local onde hoje fica uma fábrica de gelo, bem nos fundos do mercado do Peixe, a proposta é remover a empresa, demolir a estrutura e construir um deck com bancos na beira do rio. Todas essas ações visam criar um ambiente convidativo às famílias no parque.
Prefeito diz que vai repensar
O prefeito Jandir Bellini (PP) afirma ter ficado feliz com as propostas e concorda que aquela região precisa ficar mais aconchegante. Mesmo já tendo investido mais de meio milhão de reales nas obras do novo mercado do Peixe, que já começou e parou várias vezes, o prefeito não descarta a possibilidade de cancelar tudo e deixar o prédio onde está. Os dois mercados precisam caminhar juntos e essa separação acaba prejudicando. Vamos repensar a ideia do novo mercado, afirma. No entanto, frisa que essa medida ainda tá no campo das ideias e que precisa analisar com mais rigor as propostas dos sabichões.
Ideia velha mas atual pra aproveitar o rio
Um mirante panorâmico, com vista 360º pra toda a Itajaí. A ideia não é nova, já foi proposta na Cidade Revelada de 2002, mas o urbanista César Floriano dos Santos, 59, peixeiro que hoje trampa na prefa de Floripa, lembra da importância do empreendimento: uma torre de 80 metros de altura com restaurantes e lojinhas na praça do Gonzaga, conhecida como praça dos cachorros, em frente ao porto peixeiro.
Esse é um grande atrativo turístico que precisa ser explorado, defende. O prefeito Jandir Bellini se lembra da proposta, chamada de Itajaí Tower, e justifica o engavetamento de mais de 10 anos pela falta de recursos.
Passarela até o molhe pode valorizar a Beira-rio
Outra sugestão de César é construir uma passarela que ligue o mercado Público ao molhe da barra. Ele acredita que o molhe acaba ficando deserto porque é muito distante do povão. Mas com a passarela, um empreendimento fácil e de baixo impacto ambiental, na opinião dele o povão poderia estacionar no centro e ir caminhando até a boca da barra.
Pra César, a Beira-rio é um dos locais que mais merece ser valorizado turisticamente. Ele sugere a construção de um restaurante flutuante, do qual seja possível observar a lua refletida no rio e o movimento das águas. Ainda pra aproveitar o rio, o transporte de passeio e de passageiros poderia rolar.
Hercílio Luz e Estefano José Vanolli têm que ser pro povão caminhar
Brincadeira de criança nas ruas. Sentar num banquinho e papear até o sol se pôr. Caminhar sob as sombras das árvores. Esse é o sonho do arquiteto e urbanista Dalmo Vieira Filho para a cidade em que se criou. Atual secretário de Planejamento de Florianópolis, Dalminho bate na tecla de trazer o povão pras ruas. É o que ele chama de incentivar o convívio urbano.
Nas duas vias em que predomina o comércio, o calçadão da Hercílio Luz, no centro, e a rua Estefano José Vanolli, no São Vicente, o arquiteto defende que as calçadas precisam ser confortáveis para permitir um caminhar sossegado. Nos canteiros, árvores, flores e plantinhas devem embelezar e juntamente com os banquinhos, estimular a permanência no local. Essas ruas não podem ser apenas de passagem. Elas devem ser pontos de encontro, opina.
De barco pro centro e vice-versa
No Cordeiros, outro ponto que merece atenção é a orla do Parque Náutico. Os barquinhos enfileirados, cada um com a sua cor, deveriam voltar a atracar por ali. Dalmo Vieira Filho acredita que isso traria nova vida ao bairro.
A medida poderia inclusive ajudar no trânsito. As pessoas poderiam vir pro centro ou pra Fazenda em barcos de linha, como rola com os chamados Vaporetto, em Veneza, reduzindo a quantidade de carangos e busões em algumas partes da city peixeira.