Chegar na escola, assinar o livro-ponto e a partir daí cumprir a carga horária, que é de 40 horas semanais. Esse deveria ser o procedimento de três diretores e uma diretora-geral da escola Estadual Básica Júlia Miranda de Souza, em Navega. Mas segundo o professor Maicon César Crispim, que dava aula no colégio, na prática isso é bem diferente. Ele garante que quando os bagrões faltam no período da manhã, os nomes são anotados a lápis por um funcionário de confiança da diretoria.
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Quando chegam à tarde, assinam de caneta sobre o lápis o livro como se tivessem trabalhado a manhã normalmente, denuncia. Indignado, o profe fez uma queixa na Ouvidoria do governo da Santa & ...
Quando chegam à tarde, assinam de caneta sobre o lápis o livro como se tivessem trabalhado a manhã normalmente, denuncia. Indignado, o profe fez uma queixa na Ouvidoria do governo da Santa & Bela e na secretaria de Desenvolvimento Regional de Itajaí (SDR). Até ontem, contudo, os reclamos ainda tavam sem resposta. Semana passada, Maicon foi exonerado do cargo e entrou com um pedido liminar na dona justa contra o afastamento. Pra ele, o chega pra lá rolou por causa das denúncias. Isso é arbitrário, não tem embasamento nenhum.
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Douglas Lopes, um dos diretores dedados por Maicon, garante que a denúncia é falsa. Nós cumprimos nosso horário. Isso é fofoca, jurou. Douglas explica que, às vezes, alguns professores não dão as duas primeiras aulas e chegam atrasados, por isso os nomes escritos a lápis no caderno-ponto. Entretanto, reconhece, que isso é errado. O livro-ponto é sagrado, completou.
Ele é encrenqueiro
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Douglas acusa Maicon de ser encrenqueiro. E diz que ele só fez a denúncia contra os diretores porque já estaria encrencado e prestes a ser demitido. Agora, está botando lenha na fogueira, criando fofocas. Se fosse um bom elemento, não teria sido exonerado, carcou Douglas.
Segundo ele, Maicon teria ameaçado alguns alunos, agredido uma das diretoras, desrespeitado professoras e até o desacatado na frente dos alunos. O diretor revela que a direção da escola registrou quatro boletins de ocorrência contra o professor. O delegado Rodrigo Carriço, da polícia Civil de Navegantes, disse que não falaria sobre o caso, que tá na responsa dum delegado que tá de férias. Se eles tão falando isso, deve ser verdade, se limitou a dizer sobre os BOs contra o profe Maicon.
Ninguém pode receber sem trabalhar
O DIARINHO entrou em contato com a Ouvidoria do governo do estado e conversou com Dejair Vicente Pinto. Ele informou à reportagem que, geralmente, as reclamações demoram entre cinco e 20 dias pra serem investigadas. Como Maicon fez a queixa há mais tempo, ele já deveria ter recebido um retorno. Vou encaminhar um e-mail para a secretaria de Educação pedindo resposta, prometeu Dejair. Caso seja aberta uma sindicância, explica, o tempo de espera é maior.
Abobrão tava por fora
A gerente Regional de Educação da SDR, Isabel Belizário, disse não ter conhecimento da denúncia do professor. Sobre o livro-ponto, informou que preencher a lápis pra mais tarde assinar é ilegal. É por isso que cada colégio tem um conselho deliberativo escolar para conferir os livros-pontos. De acordo com ela, a fiscalização dos livros rola uma vez por mês.
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Isabel confirma, contudo, que o professor Maicon é um baita dum barraqueiro e já teria causado alguns problemas internos, o que causou a demissão dele da rede de ensino. Ela explica que, de acordo com a legislação estadual de educação, os diretores devem cumprir 10 períodos de quatro horas. Pode ser cinco na parte da tarde e cinco à noite, por exemplo, pra não trabalharem de manhã. Isabel pontua que é por isso que existem quatro diretores, para que a escola sempre tenha um mandachuva por perto.
O secretário de Desenvolvimento Regional de Itajaí, Claudir Maciel, no cargo há uma semana, não sabia da encrenca. Mas garantiu que vai se inteirar do caso e que se for confirmada a treta nos cadernos-ponto, vai simexer. Ninguém pode receber sem trabalhar. Estou reunido agora [segunda à tarde] com a gerente de Educação e vou averiguar a denúncia, completou.