Duas fugas aconteceram ao mesmo tempo, por volta das 18h30. Dois internos que tavam no seguro (uma cela separada pra onde vão os pivetes que se sentem ameaçados por outros) iam tomar banho quando um carro entrou no Casep. Ao ver o portão aberto, eles não hesitaram e deram no pé, numa baita carreira. Alguns funcionários ainda correram atrás dos moleques, mas não chegaram nem perto deles. A polícia Militar foi acionada, mas quando os homi pintaram, os rapazes já tavam longe.
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Cerca de duas horas depois, os fardados tiveram que voltar pro Casep. Dessa vez, um dimenor de 17 anos rendeu um dos educadores com um espeto feito com um cabo de vassoura. O funcionário foi atacado na hora em que entregava o jantar nas celas. Depois de trancar o cara num dos quartos, o menor também acertou uma pancada na cabeça de um agente do Dease que tava na unidade pra fazer a transferência de um dos internos. Como o guri tava armado, os educadores não puderam fazer nada pra impedir a fuga. Simplesmente o assistiram pular o muro de dois metros e meio de altura, usando como apoio de pé a caixa do motor do portão elétrico, que fica a um metro do chão. O fujão também não foi encontrado.
Enquanto a polícia Militar chegava por lá, um outro dimenor tentou promover um tumulto. Ele conseguiu sair da cela e tentou abrir as demais, incitando os colegas a iniciar uma rebelião. O pivete foi contido antes de conseguir libertar os dimenores. Ainda na noite de segunda-feira, a polícia Militar fez um pente-fino e encontrou alguns espetos feitos artesanalmente.
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Entenda por que o Casep vai sofrer uma intervenção
A investigação tocada pelo promotor de justiça Fernando Comin e pelo defensor público Tiago Rummler aponta que os menores foram torturados física e psicologicamente por Raimundo Ivo dos Santos, chefe de segurança do Casep peixeiro. Os chefões da ONG, Maurício e Joana, teriam conhecimento da violência, acreditam os dotores. Por isso, a justiça também pediu o afastamento deles. Além do depoimento dos dimenores, há a deduragem de uma testemunha que está sob sigilo.
O fato da direção da ONG não ter entregue à dona justa as imagens das câmeras de monitoramento do Casep reforçaram as suspeitas. Pelo canetaço do juiz Ademir Wolff, Maurício e Ivo devem ser afastados imediatamente. Joana poderia ficar até que o governo do estado mande um servidor público pra dirigir a unidade como interventor. Quando o barnabé chegar, ela vai ter que carcar fora também.
Ontem à noitinha, Maurício Nonato afirmou que ainda não tinha recebido a liminar caneteada pelo juiz Ademir Wolff. Ele só estaria sabendo do perrengue através da imprensa. Não fui intimado oficialmente, garantiu.
Por isso, Maurício e a esposa Joana, que é coordenadora do Casep, continuam trampando por lá. Raimundo Ivo dos Santos, o chefe de segurança que também deveria ser afastado, tá em licença-saúde e por isso não tá trabalhando.
Maurício Nonato disse ainda que o Ministério Público não tem prova das agressões que os menores alegam ter sofrido e que, se nada for provado, Ivo vai continuar lá como responsável pela segurança. Se não fosse o chefe de segurança, várias outras fugas já teriam rolado, carcou. Pra Maurício, falta o Ministério Público acompanhar de perto o trabalho da ONG pra saber o que realmente acontece lá dentro.
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Notícia da vinda do Dease revoltou molecada
Pra Maurício Nonato, presidente da ONG Sonhos de Liberdade, responsável por administrar o Casep e que era pra tá afastado da unidade, as fugas e a revolta de ontem à noite foram resultado das notícias de que o Dease irá intervir na instituição. Maurício diz que os menores ficaram receosos com a volta de agentes daquele órgão e por isso decidiram promover as muvucas.
O que deixou o chefão da ONG espantado é que um dos rapazes que simandou tinha bom comportamento, frequentava cursos fora do Casep e já poderia ter fugido antes. Eles tão com medo que os agentes voltem, falou Maurício. A coordenadora da ONG e esposa do presidente, Joana Nonato, reforçou o discurso. Eles tão muito apavorados porque o Estado pode voltar.
Na tarde de segunda-feira, os gurizões já tinham dito pro DIARINHO que tinham mais receio dos agentes do Dease do que do chefe de segurança da ONG, Raimundo Ivo dos Santos, também afastado do trampo por ordem da dona justa, sob acusação de tortura. Quem batia na gente era o Ivo. Tiraram o Ivo e o problema acabou. Não queremos o Estado aqui. Queremos que a ONG fique, disse um guri de 17 anos.
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Na edição de ontem do DIARINHO, Roberto Augusto Carvalho, diretor do Dease, negou as acusações de violência supostamente praticadas pelos agentes do órgão, que no começo deste mês deram uma incerta no Casep peixeiro pra ver se tava tudo correto por lá.
Promotor também investiga denúncias contra Dease
O promotor de justiça Fernando da Silva Comin revelou ontem à tarde que também tá investigando duas acusações de agressão a dimenores do Casep de Itajaí supostamente praticadas por agentes do departamento de Administração Socieducativo (Dease). Uma delas teria ocorrido há três meses e a outra em 12 de setembro.
De acordo com o promotor, a primeira denúncia chegou através da mãe de um dos menores. O dotô foi pessoalmente ao Casep pra ouvir os internos, que teriam confirmado o caso.
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Enquanto apurava tanto a denúncia de violência supostamente praticada pelo agente do Dease quanto as agressões que teriam sido feitas por um funcionário da ONG Sonhos de Liberdade, o promotor recebeu a segunda deduragem contra os barnabés do departamento de Administração Socieducativo. A denúncia veio através da dona justa e se referia ao tempo em que agentes do órgão estiveram no Casep no início deste mês. Já instaurei um inquérito pra apurar as denúncias do Dease, informou o dotô Fernando.
Pro defensor público Tiago Rummler, o Casep de Itajaí seria a pior instituição do gênero no estado quando o assunto é violência contra os internos. A maioria dos menores que sai da nossa unidade e vai pra outras relata as agressões dentro do Casep de Itajaí, reforçou o promotor.
Agora, por conta das muvucas de segunda-feira, o promotor abriu uma nova investigação. Vou ficar muito triste se descobrir que houve algum tipo de facilitação na fuga e se isso foi uma espécie de retaliação pela intervenção. Se foi, vamos descobrir, carcou, avisando que vai instaurar um inquérito pra tirar a história a limpo.
O interventor chega hoje
A direção da secretaria de Justiça e Cidadania do governo da Santa & Bela recebeu ontem a notificação judicial sobre a intervenção do Casep peixeiro. Por conta disso, o agente que vai atuar como interventor do internato, acompanhado por Bruno Bertan Sartor, assessor jurídico do Dease, estará hoje em Itajaí pra cumprir a decisão da dona justa e assumir a direção do Casep, informou o promotor Fernando Comin.