A confusão de ontem começou às 8h15. Giuliano levantou cedo pra lavar a garagem e a calçada com creolina, o que costuma fazer todas as sextas pra desinfetar bem o quintal. A comerciante Eluci Hilha Testa, 44 anos, mora na casa ao lado e tá de saco cheio do fedor. Além disso, a mulher tá preocupada com a saúde do filho, que sofre de um problema crônico no pulmão. Indignada, Eluci foi tirar satisfação com Giuliano e, segundo ela, ouviu como resposta um monte de desaforos. A comerciante resolveu, então, chamar o pai pra ajudar.
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Foi aí que seu Ibrail Hilha, 65 anos, entrou na história. O aposentado foi até a casa de Giuliano e disse que queria resolver a situação no tête-à-tête. Eu disse que se ele fosse homem era pra dizer pra mim as coisas que disse pra ela, narra seu Ibrail. Segundo ele, Giuliano usou termos como vagabunda e vaca louca pra xingar Eluci. O aposentado mora há 12 anos no Ariribá e diz nunca ter se incomodado tanto com um vizinho. Nem o diabo faz amizade com ele, carca.
A versão de Giuliano é diferente. O administrador alega que se sentiu ameaçado com a presença de seu Ibrail e Eluci na frente do portão de casa. Eles vieram aqui e me chamaram de vagabundo, eu fiquei quieto, garante. O administrador explica que uma vez por semana usa a creolina como antibactericida pra deixar a garagem nos trinques, por conta da sujeira que os cachorros dele fazem no dia a dia.
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Giuliano acredita que a reação dos vizinhos por causa do cheiro do produto é exagerada. Eu chamei a polícia porque tô com minha integridade física prejudicada, afirmou o homem, sexta-feira. Os homisdalei deram um chego no lugar e registraram o boletim de ocorrência por ameaça.
Não foi a primeira discussão entre eles
Quando ele não bota fogo, ele larga creolina aí, reclama Eluci. Segundo os vizinhos, volta e meia Giuliano junta as folhas que recolhe do quintal e queima, provocando uma baita fumaça na vizinhança. Mas o desentendimento entre os vizinhos não para por aí. Giuliano e Eluci trocam farpas o tempo todo e já fizeram até guerrinha de água com lava-jato, enquanto lavavam as calçadas. A família da comerciante registrou BO contra o cara por perturbação de sossego e o processo tá correndo no fórum.
As calçadas das casas também são motivo de desavença. Giuliano diz que a rampa de acesso à casa dele é muito escorregadia, e a mulher dele já se esborrachou no chão algumas vezes por conta disso, inclusive quando ainda tava esperando o filho mais novo do casal. E como a rampa fica ainda mais lisa quando molhada, Giuliano pediu pra vizinha não jogar mais água na calçada dele quando lava a frente da casa dela. Mas o pedido não adiantou e os vizinhos arrumaram mais um motivo pra brigar.
No muro que liga as duas casas, ainda é possível ler o aviso: Favor não molhar calçada, escrito por Giuliano. E essa não teria sido a única pichação de autoria do morador. Bem pertinho da baia de Eluci alguém escreveu vaca loka num poste. Justamente o nome da sorveteria que Giuliano tá inaugurando e, segundo os vizinhos, seria também o apelido usado frequentemente por ele pra se referir à vizinha Eluci. O administrador nega ter pichado o poste e jura de pés juntos que nunca xingou a comerciante.
Usar creolina não é proibido
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Giuliano diz que prefere usar a creolina pra fazer a limpeza da garagem e da calçada porque só assim consegue matar fungos e bactérias. E se fosse proibido não se vendia, argumenta. O diretor da Vigilância Sanitária de Balneário Camboriú, Sandro Alexandre Franco, confirma que o uso do produto é liberado. Segundo ele, a creolina é um sanitizante usado pra desinfetação de ambientes e o único mal é exalar o tal cheiro característico, que irrita a vizinhança.
O cheiro ruim, segundo o mandachuva, pode ser diminuído com a diluição adequada da creolina em água. Em geral, a indicação é de que cada 50 ml do produto sejam diluídos em cinco litros de água. Mas isso varia de acordo com o fabricante, e por isso os usuários devem prestar atenção nos rótulos das embalagens.
Segundo o diretor, a creolina é mais utilizada nas áreas rurais, em alojamento de animais, mas também serve pra limpeza de áreas abertas na área urbana, desde que não haja um desconforto da comunidade. Quem se sentir incomodado com o cheiro do produto pode fazer uma denúncia pro setor de controle de pragas da Vigilância Sanitária pelo telefone (47) 3366-4593. Nesses casos, uma equipe vai até o local pra dar um bizu no perrengue. Se está colocando em risco a saúde de terceiros, vamos tentar mediar essa situação, afirma Franco.
Segundo ele, a Vigilância Sanitária emite notificações e passa o caso pra polícia Civil, quando necessário.
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