Por James Dadam
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james@diarinho.com.br
Quem pensa em veleiro, pode imaginar uma embarcação luxuosa, com muito conforto e regalias, mas os barcos da Transat Jacques Vabre são bem diferentes disso. Morada dos velejadores por várias semanas, eles levam apenas o mínimo, indispensável para a sobrevivência, com o objetivo de não deixar o barco pesado. Por isso, nada de banheiro. As necessidades são feitas em um balde e tudo vai parar no mar.
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Banho é outro luxo que os navegadores só devem ter quando chegarem ao Brasil, depois de três ou quatro semanas sujinhos. Em áreas de mar calmo, o pessoal até arrisca um banho, mas onde o mar é agitado, a única forma de manter um mínimo de higiene é usar lenços umedecidos, aqueles para limpar o bumbum dos bebês.
Apesar de estarem em alto-mar, ninguém tem tempo de pescar. Todos os esforços são para chegar o quanto antes no destino. Comida, só desidratada ou pronta, que em poucos minutos de aquecimento já pode ser consumida. E quando a coisa aperta, barrinhas de cereal servem para enganar a fome e dar energia na hora do sufoco.
A rotina é dura. Enquanto um dos velejadores fica fora da cabine, guiando o barco, o outro vai para dentro para controlar os dados de navegação, comer e descansar. Quando o mar fica agitado, não pode dar bobeira, pois é neste momento que o trabalho de equipe entra em ação: um vigiando e controlando as condições do mar, o outro guiando. Trocas de direção e mudança de velas também exigem a presença dos dois velejadores fora da cabine. É muito trabalho e pouco descanso, diz Benoït Piquemal, coordenador da equipe técnica do barco Edmond de Rothschild, da categoria Mod70.
Dentro da cabine, encontram-se os equipamento de comunicação: computador com internet e programas para avaliar qual a melhor rota a seguir, rádio, telefone via satélite, piloto automático e outras geringonças que auxiliam na tarefa de levar os barcos até o outro lado do Atlântico.
O americano Rob Windsor, 42 anos, do barco 11th Hour Racing, categoria Class40, explica que, diferentemente de equipes maiores, que possuem uma equipe de terra especializada em estratégia de navegação, no caso dele e da companheira de barco, a britânica Hannah Jenner, 33, terceira colocada da categoria na regata de 2011, toda a decisão sobre que rumo tomar depende apenas deles. A nossa equipe é pequena e trabalha basicamente com logística e comunicação, explica Rob.
Responsáveis por tudo, Hannah diz que é preciso ter a cabeça no lugar para manter a calma nos momentos difíceis. Quando a coisa fica feia, o negócio é se segurar. Se ficar pior, a gente entra na cabine e fecha a entrada. A gente se esconde aqui dentro para escapar da tempestade, brinca.
Uma das cinco mulheres presentes na competição, Hannah diz que o trabalho dela não difere daquele de Rob. É uma atividade essencialmente física, mas eu tenho que fazer, mesmo sendo mulher, diz. O companheiro de barco alega que as mulheres não possuem nenhuma desvantagem em relação aos homens e que Hannah é muito determinada. Ela é durona, mais do que eu, afirma.
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O italiano Andrea Mura, 49, do barco Rennes Metropole/Saint-Malo Agglomeration, categoria Multi50, diz que o desafio é o que o leva a enfrentar todas essas dificuldades. Andar em um veleiro, para mim, é um desafio tecnológico. Eu gosto muito da tecnologia, é a minha especialização. Procurar entender o que o barco necessita para oferecer a ele. É isso que me leva a velejar, diz.