Neste ano, o programador de computador Allan May, 30 anos, de Curitiba/PR, não vai rodar de moto por países vizinhos, como fez em 2012. Um de seus destinos pra fazer o turismo já clássico de final de ano é vir a Balneário Camboriú. “Vou aí pra Santa Catarina com a minha mãe, a minha tia, o meu tio e uma prima. Ah! E talvez a namorada”, diz, listando a turma que embarca para o litoral da Santa & Bela em meados do mês que vem. Passada a festança do papai noel em família, informa ainda Allan, vai dar mais uma pernada. “Depois do natal, vamos seguir viagem para algum lugar, ainda desconhecido, mas vai ser no Brasil”, avisa, reforçando a intenção de um roteiro doméstico para as férias deste ano.

O paranaense não é o único a querer conhecer terras brazucas. Ele faz parte de um grupo de turistas cada vez maior no país: os que escolhem destinos nacionais na hora de preparar as malas – ou o alforge da moto, no caso de Allan. Levantamento feito pelo ministério do Turismo dá conta de que 76% dos brasileiros que viajarão pelos próximos seis meses querem conhecer ou revisitar roteiros tupiniquins.

O resultado da pesquisa Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem mostra dois crescimentos. Um deles é o aumento na intenção de viajar. No finalzinho do ano passado, 32% dos brasileiros afirmavam que iriam fazer algum tipo de turismo pelos próximos semestres. Agora, já são 35%. Se considerar que a população braseira passa dos 201 milhões de habitantes, já são perto de 18 milhões de pessoas interessadas a bater perna pelaí.

Decidir pelos roteiros domésticos foi o outro resultado que cresceu no levantamente deste finalzinho de ano. No ano passado, passava de pouco mais de 70%. Um resultado que já é considerado grande pelos especialistas. “As pessoas estão sentindo o que é verdadeiramente o Brasil e que os destinos daqui têm não deixam nada a desejar a qualquer destino turístico do mundo”, avalia Ademar Schneider, profissional que atua no ramo hoteleiro e é secretário de Turismo da prefa de Balneário Camboriú.

O ministro Gastão Vieira, do Turismo, concorda com o abobrão de Balneário. “É uma demonstração de que o setor acumula um crescimento sustentável e que os destinos brasileiros são competitivos e atraem um público cada vez maior”, afirma.

Entre dezembro de 2012 e fevereiro deste ano, Balneário Camboriú recebeu cerca de dois milhões de turistas, calcula Ademar Schneider. “Nossa estimativa é que esse número cresça 10% na próxima temporada”, aposta o abobrão.

Quem opera o turismo já sentiu a vontade dos brazucas

O resultado da pesquisa feita pelos técnicos do ministério do Turismo, que aponta o crescimento da intenção de viagens pelo Brasil, já vinha sendo sentido na prática por quem opera os equipamentos turísticos ou está à frente da gestão pública no setor. Até mesmo a forma como os visitantes chegam nos destinos mudou e já foi percebida, afirma Ademar Schneider, secretário de Turismo de Balneário Camboriú. “De uns cinco ou seis anos pra cá, chegou até a mudar o perfil dos turistas. Se antes 70% vinham em excursões, agora esse público representa apenas 30%, e a grande maioria vem de carro próprio ou chega de avião. E são famílias”, analisa o abobrão

E Ademar está certíssimo na percepção. A pesquisa Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem aponta que a intenção de vir de carro próprio ou chegar de avião é a opção de 86% dos turistas. Vir de busão, atualmente, só 11% têm coragem.

O paranaense Allan May, que apareceu no comecinho desta reportagem, vai viajar pra um destino doméstico, vem a Balneário Camboriú de condução própria e ainda vai se hospedar em imóvel da família (outro resultado expressivo do levantamento do ministério do Turismo). Até parece que ele respondeu a pesquisa.

E para mostrar que a intenção é mesmo conhecer o Brasil na hora de fazer turismo, na semana passada ele foi a um dos mais belos cenários nacionais: os cânions que ficam entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Acompanhou um grupo de cerca de 40 motociclistas da Santa & Bela à região gaúcha de Aparados da Serra.

E quem opera por lá também está ligado nessa vontade dos brazucas em conhecer o país. De olho no aumento da turistada que viaja por destinos domésticos, a direção do hotel Parador, do grupo Casa da Montanha, anunciou investimentos de R$ 1 milhão na ampliação das instalações de hospedagem. “A gente aqui, na serra gaúcha, basicamente tem trabalhado com turismo doméstico. Há poucos estrangeiros. O europeu e o americano vêm mais em busca de praias”, avalia Rafael Peccin, que é diretor de marketing do grupo.

Mas para Rafael o aumento da preferência dos brasileiros por destinos domésticos tem mais a ver com a intenção do próprio turista e com as ações do setor privado do que uma política de incentivo do governo estadual e federal. “Há 10 anos, quando chegamos aqui, esperávamos que a região fosse despertar de forma agressiva, por ser o maior cânyon do país e por estar em rota de passagem do turismo do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Mas não houve investimento público para isso acontecer”, dispara o executivo, numa crítica aos governantes. E completa: “Se houve crescimento, foi porque temos uma marca forte e conseguimos trazer público”.