Aos poucos, fui-me afastando da paixão pelo futebol. Na medida em que o processo de mercantilização avançava, inversamente, minha paixão pelo esporte caía. Escravização de jogadores, multi-patrocínios nas camisetas (antes mantos sagrados), definição de resultados extra-campo, horários de jogos para agradar canais televisivos, venda de espaços dos clubes para empresas, empresas administrando clubes... São várias as provas do processo infame de mercantilização do futebol.
A morte do futebol arte, do esporte das multidões, é evidente. A paixão nacional foi vendida para o capital e é alugada a preços altos para o torcedor. Quem move o futebol é o torcedor, a audiência (com ou sem dinheiro). As fontes patrocinadoras são consequência do público. A demanda nasce antes da oferta. Arena empresa-X, Copa empresa-Y. Triste fim alcançou o esporte do povo.
Quando a seleção brasileira deixou de subir ao pódio olímpico em 1996 (Atlanta) para ganhar a medalha de bronze, só porque a grande medalhista de ouro foi a seleção Argentina, meu desgosto pela amarelinha começou a fluir. Ainda em 1994, houve aquela bagunça com o avião da muamba (os melhores do mundo comprando geladeira). Já em 1998, a fatídica final com toda a influência da distribuidora de uniformes. Amistosos que pouco preparam, influência de empresários e de dirigentes da confederação em convocações dão a tônica de um símbolo nacional fake, de mentira, que é a canarinho.
A movimentação financeira que gira em torno do futebol, com as imigrações de jogadores daqui para acolá, é o grande negócio. Salários fora de si, esporte de alto rendimento com a exposição do corpo à exaustão máxima, maltratando o físico humano e aleijando os jogadores.
E a Fifa cada vez mais imponente. Ditam regras para os países que se digladiam (arena?) para sediar um evento de menos de 30 dias. Trabalhadores morrem no Brasil já foram três, mas dizem que há mais na construção frenética de estádios (digo, arenas). Outros tantos são desalojados de suas ca¬sas para a abertura de trevos, elevados, estações e outras intervenções atrasadas e desmedidas (sem mencionar orçamentos). Logicamente, não haverá tempo. Mas isso já se sabia há anos. Tudo é engodo no país do futebol.
Em um ambiente que se denomina arena, não se pode esperar outra coisa senão violência (ainda que psicológica). Arena é de gladiadores, que lutam para agradar a multidão, a patuleia. Vaiar e aplaudir faz parte do esporte. Violentar, ofender... Esporte de macho? Acho que não, porque a torcida insiste em levar filhos, mulheres e avós. E nos divertimos com isso, sem nos darmos conta do quão gado somos, ao derramar lágrimas diante de tão artificial cena. Alimentamos a já consagrada mercantilização do futebol. Os clubes viraram marcas. Os jogadores, mercadoria. A torcida, cifrão. Os títulos, só engodo.
O futebol arte ficou nas telas em preto e branco, nas vozes arquivadas do rádio. Hoje e há muito tempo, só sobrou o business. Mercado da Bola, mais uma adestração social que rende lucros para meia dúzia de bem-aventurados. E que se dane o torcedor. Que lástima.
(*) O autor é bacharel em Direito, mestre em gestão de políticas públicas, doutorando em ciências jurídicas e doutorando em ciências jurídicas e sociais, advogado e professor universitário
LEITOR (A): Como pode o Fluminense, pela terceira vez, subir no tapetão? A Portuguesa escalou o rapaz no segundo tempo, nem teve importância... Como pode?
OZAWA: No caso, não parece ser tapetão ou virada de mesa como definem os futebolistas, para o caso de haver mudança de resultados extra-jogo, no caso, fora do campo. A Portuguesa parece ter infringido o regulamento. Deve arcar com as penas. Pode haver interpretação, como todo o direito. Parece haver precedentes. No ano da copa, tudo pode acontecer. Se a Portuguesa for punida, não há outro resultado: o Fluminense fica. É regra do jogo, e quem joga sabe. Diferente das outras vezes, o presente parece ser legal.
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