Juvan Neto

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O sábado, 19 de dezembro, foi um dia trágico para a política de Itajaí. O ex-vereador, professor de história e assessor parlamentar Manoel Jesus da Conceição, o Maneca do PT, 51 anos, morreu após acertar o carro contra um cavalo no quilômetro 87 da BR-101, em Barra Velha.

De acordo com informações do filho Guilherme, Maneca e a esposa tinham ido a Barra Velha fazer compras na parada Havan, e o acidente aconteceu quando retornavam a Itajaí, por volta das 21 horas.

Maneca já tava na BR-101, com seu veículo Golf, quando tentou desviar do cavalo que o atingiu – testemunhas apontaram nas redes sociais que eram dois animais na pista, em sentido contrário, e ele acabou colidindo gravemente com um deles.

O impacto foi violento, o ex-vereador morreu no local e a esposa teve escoriações leves. Ela foi atendida no pronto atendimento 24h da Barra Velha e chegou a ser encaminhada para um hospital de Joinville, onde fez exames e foi liberada. Um dia antes, Maneca havia coordenado em Itajaí a inauguração do escritório político do deputado federal Décio Lima, também do PT.

Petista histórico e historiador por formação, Manoel Jesus da Conceição foi professor na antiga Fepevi, atual Univali. Viveu no bairro Cordeiros, pai de dois filhos – Ivana Laís e Guilherme –, era aficionado pelo Botafogo, seu time do coração. Na juventude, trabalhou como metalúrgico para custear os estudos, e aí encontrou o sindicalismo e mais tarde, a política partidária. Influenciado pelos movimentos de base do catolicismo, ingressou no PT, e era o atual presidente do diretório municipal itajaiense.

Segundo o irmão, Murilo José, atual secretário de comunicação do governo Jandir Bellini (PP), ele dirigiu por mais de uma gestão o sindicato dos professores da rede particular, e elegeu-se vereador para o mandato 1992 a 1996, em oposição ao prefeito Arnaldo Schmitt (PMDB). Em 2002, fez votação histórica para deputado federal – somou mais de 36 mil votos, pleito em que faltaram apenas 800 para se eleger.

Chegou a adjunto do ministério da Pesca

No governo do ex-presidente Lula, foi ministro adjunto da Pesca, e em Itajaí, secretário de Obras e de Habitação entre 2005 e 2008, no governo Volnei Morastoni. Em postagem nas redes sociais, Murilo José admitiu que ficou cinco anos sem falar com o irmão por questões políticas e ideológicas, mas a amizade havia voltado e amadurecido.

“Estávamos bem, conversávamos sobre várias coisas, mas quando entrava no assunto política, às vezes saía faísca”, detalhou. “Aprendemos juntos a respeitar a ideologia do outro, e ele me cuidou e protegeu quando eu mais precisei,” relembrou Murilo.

A repercussão, o velório, a dor

A câmara de vereadores ficou lotada durante o velório. Uma bandeira da casa do povo e outra do PT ficou em cima do caixão durante todo o funeral. Políticos de diferentes partidos levaram solidariedade à família. Ao lado do corpo, a mãe dele, Laura Conceição, estava muito abalada. Além dela, Maneca deixou seis irmãos. A esposa Maria Terezinha e os dois filhos, Guilherme e Ivana, recebiam parentes, autoridades e colegas de militância.

Segundo informações do irmão Murilo José, era desejo de Maneca que seu corpo fosse cremado, e como a morte foi consequência de acidente, foi necessário entrar com um pedido judicial para atender o pedido de Maneca.

O prefeito Jandir Bellini (PP) esteve presente. O clima era de consternação. “É uma grande perda para a cidade. Eu estou muito chateado. Além de ser irmão do meu secretário de Comunicação, que é uma pessoa que gosto muito, ele era uma pessoa que participava das construções políticas, sempre buscando o melhor à cidade”, disse o prefeito.

O deputado Décio Lima relembrou que foi ele quem fez a filiação de Maneca ao PT de Itajaí e demonstrou agradecimento pelo trabalho do amigo. Segundo Décio, Maneca foi fundamental para que o PT pudesse passar pelas turbulências deste ano, com a saída de Volnei Morastoni, hoje no PMDB. Nos últimos meses, ele atuava na reestruturação do partido e na mobilização da militância.

“Ele fazia visitas aos companheiros desmotivados e lembrava o quanto alcançamos de melhorias para o país, ia de casa em casa, resgatando o orgulho das pessoas. Sem dúvida ele era um militante a toda prova”, lembrou Décio. Nos últimos dias, tava dedicado à inauguração do escritório regional em Itajaí. “O PT perdeu a sua bússola em Itajaí”, concluiu.

O vereador do PT, Thiago Morastoni, referiu-se ao colega de partido como um homem valoroso. “Ele se despede da vida num momento em que estava muito feliz”, disse o vereador.

A ex-secretária regional Eliane Rebello (PMDB) destacou a relação de Maneca com lideranças de outros partidos. “É uma grande tristeza. Ele tinha trânsito em todos os partidos porque caminhou em direção da flexibilidade”, disse Eliane.

Grupos do Partido dos Trabalhadores de municípios da região também estiveram presentes. Entre, eles o ex-prefeito de Brusque, Paulo Eccel e a esposa Beth Eccel. Na semana passada, Maneca havia celebrado a aprovação dele no mestrado de Políticas Públicas da fundação Perseu Abramo, órgão educacional ligado ao PT.

Gerd: Itajaí perde 2 petistas históricos

Nas redes sociais, centenas de posicionamentos solidários e enlutados de amigos, familiares e correligionários. O jornalista Gerd Klotz lembrou da recente morte de outra petista histórica de Itajaí, Idalina Boni, militante dos direitos humanos, e do entusiasmo de Maneca junto ao comando do diretório do PT peixeiro.

Já o professor universitário e ativista cultural Lourival Andrade, disse que “perdeu um amigo”, mas “o Brasil perdeu um guerreiro”, e que Maneca “voltou ao convívio dos seus ancestrais”. A jornalista Danielle Garcia, de Balneário Piçarras, lembrou Maneca ainda como professor de história da antiga Fepevi.

O PT de Itajaí também lançou nota de pesar, convidando a comunidade para o velório, que rolou até 20h; depois o corpo foi encaminhado ao crematório Athenas.