“O ex-prefeito de Barra Velha, Samir Mattar, utilizou o poder do cargo pra tomar posse de área pública e de um loteamento particular”. Quem denuncia é o advogado Roberto Martins Pegorini, 58 anos. Segundo ele, Samir, em 2011, cercou um loteamento regularizado pra construir uma fazenda. O local fica na margem oeste da BR-101, na altura do bairro Itajuba.

Roberto conta que ficou sabendo do perrengue há dois anos, quando foi contratado pela empresa Weiss pra regularizar 100 lotes na área onde hoje fica a fazenda de Samir. Segundo o dotô, o loteamento estaria registrado desde 1980 no cartório de Registros de Imóveis da Terra do Pirão em nome da Weiss. E foi justamente no cartório que Roberto descobriu que o registro tinha sido passado pro nome do Samir. “Quando o cara do cartório foi procurar os lotes no registro, apareceu o nome do ex-prefeito. Na hora, desconversou”, afirma.

Encucado, Roberto foi à fazenda e conversou com o caseiro, que confirmou: as terras eram de Samir Mattar. “Daí a ficha caiu. Era área comum do povo. Ruas que foram cercadas, junto com o lote do meu cliente”. A área supostamente surrupiada pelo ex-prefeito tem em torno de 46 mil metros quadrados.

O perrengue foi denunciado na prefa, câmara de vereadores e Ministério Público da Santa & Bela. Até ontem, garante Roberto, a história ainda tava parada nesses órgãos. Em 2011, quando o perrengue rolou, Roberto conversou com o prefeito em exercício, Claudemir Matias Francisco (atual mandachuva). Samir e outros cinco bagrões da prefa tinham sido afastados dos cargos pela dona justa durante a operação El Niño, da polícia Federal. Eles foram acusados de passar a mão na grana que o governo federal enviou depois das enchentes de 2008 e 2009, além de fraudes na licitação pública, corrupção e falsidade documental, entre outros crimes. Claudemir, que era o vice, assumiu a administração de Barra Velha. “Ele [Claudemir] desconversou. A prefeitura finge que não sabe de nada”. A palhaçada chegou aos ouvidos de alguns vereadores. Mas, segundo o advogado, a maioria fez piada do assunto. “Eu me senti ridicularizado, pois é coisa pública e pra eles não tem valor nenhum”.

“Eu comprei”, garante ex-prefeito

Samir Mattar jura de pés juntinhos que não invadiu nada. “Eu comprei. E na época estava legalizado. Não tinha por que invadir”, afirma. A versão dele foi sustentada pelo empresário Tito Gornicki, de quem Samir teria adquirido o pedaço de chão. Tito disse que ficou dono das terras por 10 anos antes de vender. Samir informou que a área já não é mais dele. Foi vendida prum terceiro.

Por meio de assessoria de imprensa, o Ministério Público informou que o inquérito civil aberto pra investigar a denúncia contra Samir foi arquivado. O que rola, segundo o MP, é um processo na dona justa pra apurar possíveis danos ambientais na área em questão.