A dona de casa Bárbara DÁvila, que mora na rua João Fernandes Vieira Junior, é quem lidera o movimento popular. Ontem à tarde, ela já elaborava frases pras faixas que levaria ao protesto. A ideia é juntar umas 100 pessoas no berreiro. Nós vamos fechar a Osvaldo Reis e fazer um grande barulho, promete.
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A casa de Bárbara fica bem na encosta do morro onde peões da empresa BRR Empreendimentos Imobiliários tocam as obras de construção do condomínio horizontal. Felizmente, a baia dela ainda não foi atingida pelo barro que desce durante os dias de chuva forte. Mas vai acontecer. Eles tão desmatando e já não tem mais árvore pra segurar o barro, alerta.
Preocupada com a situação, a moradora insiste que a intervenção da empresa no morro é ilegal e deveria ser brecada. Este é apenas um dos pedinchos que promete levar pro berreiro de hoje à tarde. Nós queremos a construção de uma galeria para escoar a água em dias de chuva, pede.
Da janela do sótão, nos fundos da baia, a costureira Soraia Lopes Martins, 44, consegue ver a encosta do morro. Segundo ela, no dia seis de dezembro, quando a chuvarada provocou o último grande prejuízo pros moradores, parte do barro desceu e invadiu o quintal dela. O meu marido chegou do trabalho e já teve que resolver isso, mesmo cansado, conta Soraia.
Desde abril, quando a empresa começou a explorar a região e desmatar o morro, a família vive um inferno astral. A cada prenúncio de chuva, Soraia e o marido não sabem o que fazer nem a quem recorrer. Ele sai às 5h da manhã pra trabalhar e, quando tá chovendo muito, a vontade que ele tem é nem sair, conta.
O freteiro Egídio da Silva, 65, foi a maior vítima do problema na encosta do morro do Scaburri. A baia onde ele vive com a mulher, há 34 anos foi a mais atingida pelo deslizamento do início de dezembro. A terra desceu e ficou bem perto do telhado, revela.
A culpa, segundo Egídio, é de uma fossa que os peões da construtora abriram no alto do morro. Essa fossa transbordou com as chuvas, e a água trouxe barro para a minha casa, diz, apontando para as marcas de terra nas paredes da baia.
O morador garante que a região ocupada pela empresa é área de Preservação Permanente (APP). Ele diz que a defesa Civil, a fundação do Meio Ambiente (Famai) e a prefa não fazem nada. Eles estão todos os dias aqui, olhando, mas não resolvem nada. Tentar insistir é como dar murro em ponta de faca, desabafa.
Prefa estuda ampliar sistema de drenagem
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Everlei Pereira, mandachuva da defesa Civil, Rogério Rocha, topógrafo da secretaria de Obras, e João Antônio Castro, engenheiro civil da Famai, deram as caras na tarde de ontem no loteamento Padre Jacó. Segundo Everlei, o encontro definiu as medidas a serem adotadas pela prefa pra resolver o problema. Estudamos a ampliação do sistema de drenagem do loteamento. Trata-se de um problema antigo do Padre Jacó, explica.
Segundo ele, a obra vai minimizar o impacto da chuvarada e eliminar os deslizamentos de terra. A gente ainda não sabe como vai ser feito nem quando e durante quanto tempo. Estamos na fase de estudos, acrescenta.
O topógrafo Rogério explica que os problemas do loteamento Padre Jacó se arrastam há 30 anos, data em que os primeiros moradores começaram a ocupar, de forma irregular, a região. Antes, passava um córrego aqui. Eles [moradores] praticamente se instalaram sobre esse córrego, revela.
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Segundo o engenheiro João Antônio, o morro do Scaburri não é uma APP, como insistem os moradores. É uma área de expansão urbana. Eles estão dentro da legalidade, garante. O barnabé acrescenta que o projeto de drenagem apresentado pela construtora foi devidamente aprovado. Aparentemente, não há risco para as residências, garante.
A reportagem tentou contato com a empresa ontem, mas ninguém se manifestou sobre o perrengue.
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