O centro do mundo não é o indivíduo. Não há este tal de “centro”. Se você não entende, ou se você não consegue observar processos, estruturas, dinâmicas, a formação e o desenrolar das coisas, resta-lhe saber de sua ignorância. Saber-se ignorante é fundamental para o conhecimento, à iluminação dos quartos escuros que ocupam alojamentos no cérebro. Pensar é do humano, refletir é aprendizado!
Se você não sabe de algo, não quer dizer que tal não exista. Você o ignora e isso lhe faz um ignorante, oportunidade para amadurecer e aprender. Por sua ignorância [e cada um ignora a imensidão e diversidade das coisas, e a si mesmo – valham-me os psicólogos! Oxalá Psicologia!] você pode se surpreender ou se transformar num idiota. O idiota interrompe a pergunta a si mesmo sobre o fato e se coloca como o centro sob o qual tudo ou quase tudo lhe orbita o umbigo. O idiota arbitra o jogo como se tal lhe pertencesse! De tanto girar sob si mesmo, se enrola em nó cego! Cegueira de olhos bem abertos.
Não saber, não conhecer, é fundamental para viver a vida. Nada está pronto, tudo está se fazendo, a se fazer, incompleto porque existe! Existir é estar a se fazer. Como poderia ser o centro se jamais estará pronto? É mais fácil viver sem o peso de ter que saber, sem a carga de ter que responder como verdade, como definitivo. A verdade serve aos tolos e suas tolices!
Sob a lápide da finitude se lagrimeja a interrupção de se poder conhecer o que ainda está a nascer! Somente os estúpidos creditam como mentira a tolice de sua estupidez! É fardo inclemente carregar a “verdade” como condição de julgamento do mundo, das coisas, sobre os outros! O juiz das vidas levará consigo, ao seu lado, o seu próprio cadáver a caminhar tonto pelas culpas, acusações e sentenças desferidas. Saber que se precisa de ajuda, de suporte, de amizades de amigos, de amigos para amizades, é se dispor a arrancar de si mesmo o juiz instalado antes da metamorfose da idiotice. Receberá, como destino, a repulsa dos que outrora estavam a seu lado. Bastará para isso que seja deslocado da cadeira toda poderosa de decidir as coisas.
Um prefeito necessita de secretários e auxiliares justamente porque ignora legislação setorial, procedimentos necessários à execução e, até mesmo, as condições ao planejamento e organização de ambientes de Saúde Pública, Educação Municipal, imposições de Saneamento! O prefeito é limitado e reconhece isso na medida das relações com secretários.
Se ficar entorpecido pela volúpia do cargo [nunca seu, sempre do cargo], pelo interesse das pessoas sobre suas decisões e de sua vida privada [altamente reveladora de si], dos prestigiosos cumprimentos matinais, pela infusão de mensagens e telefonemas, pela reverência dos incautos submissos, esquecerá que tudo isso tem dia e hora para acabar. Ao término de seu prazo e pela percepção de que foi substituído e de que tudo que lhe era agora é por outro, cairá do precipício onde caminhara sem notar. Nunca se protegeu porque ignorou o desfiladeiro diante de seus olhos, sombreado pela ignorância, firmado pela idiotice. A queda ensinará da maneira mais perigosa para si mesmo!
O poder não tem dono, não tem proprietário, não tem dono! Política não tem dono: tudo é relação!