“A eleição, a festa da Democracia”. De um ponto do meio do morro é curioso observar como a Democracia entra em festa, em comemoração, em regatos. É defensável proteger a Democracia por cada movimento de “reciclagem eleitoral”. Votar refunda a Política, recoloca os personagens, reescreve a arte de negociar e concorrer. A cada ciclo o eleitor é convidado a escutar, a auscultar, a entreter, a torcer, a defender, a acusar, a colocar sua decisão no universo das decisões de todos os outros eleitores.
As campanhas eleitorais são planejadas e organizadas de acordo com o Ambiente Político, pelas Circunstâncias Eleitorais, pela identidade dos candidatos, pelas correlações de concorrência. Tudo isso forma a eleição! Os Programas de Governo, as intenções de como governar são formulários institucionais tomados [ou deveriam ser tomados] como diretriz.
O eleitor é o decisor! É por sua fração no conjunto dos eleitores que se posiciona como juiz dos fatos. Por um lado, pode marcar sua posição política em correspondência com sua escolha eleitoral. Por um lado, pode fazer a escolha como se fosse uma aposta e pudesse se imaginar também como vencedor, não em favor de seus ideais, mas por imaginar quem perde: eleitor membro de uma torcida esportiva! Por um lado, pelo desencanto de que os efeitos das eleições não proporcionam às suas necessidades.
A Democracia, por sua natureza, estará sempre a se fazer. Se, por um acaso, por algum evento, seja finalizada em seus propósitos, logo cai em ruínas, em desgastes, em infortúnios. Democracia é um caminho de esperança. Por sua essência de existência, se chegar à sua finalidade, não terá mais razão de ser. Terá envelhecido, terá se matado. O alcance finalizador de seus propósitos é o seu suicídio. Nada mais haveria: nenhuma conquista, nenhuma diferença, nenhum desafio! Democracia está condenada a ser sempre juvenil! Não pode envelhecer!
Como cada um de nós, a Democracia precisa do amanhã, de perpetuação, de eternidade. Sempre haverá, para sua própria vida, a necessidade de adiar algo para amanhã, a cadência de deixar para depois. A Democracia é sempre uma promessa, um estágio a ser cumprido, um depois para acontecer. A festa da Democracia é sobre o que não aconteceu. Os festejos eleitorais simbolizam exatamente, rigorosamente, necessariamente, intempestivamente, o que não aconteceu! A esperança se renova, se reescreve, se reedita a cada mudança de personagens!
A vida da Democracia e a comemoração de seus ciclos reposicionam os agentes, os personagens, refazem os caminhos, e confundem as veias e artérias da circulação da vida. As seivas que alimentam a Planta Democrática se confundem. Não é exatamente uma festa sobre a trajetória, senão a comemoração do que ainda está a ser feito: a esperança de ser!
A eleição serve para comemorar a renovação, jamais a conquista! É como celebrar seu aniversário: servirá como promessa de viver mais anos, se lembrando do que já se teve, e se orientando para se fazer, se manter vivo, com saúde para poder ser, com desafios para poder querer, com esperança para desejar mudanças, com incerteza filosófica para perguntar ao invés de sempre responder. Uma pergunta bem-feita ajuda muito a ter boas respostas!