Colunas


Ideal Mente

Por Vanessa Tonnet - Vanessatonnet.psi@gmail.com

CRP SC 19625 | Contato: (47) 99190.6989 | Instagram: @vanessatonnet

Depressão e terapia


Quem está no desespero, antes de qualquer consolação, pede que sua dor seja reconhecida. Um dia, ao acordar, um paciente meu encontrou sua mulher morta ao seu lado na cama. A dor de perder sua amada juntou-se ao choque de descobri-la já fria e a culpa atormentada por ter dormido na hora em que ela morria. No velório, muitos amigos e parentes tinham as mesmas palavras de consolação: “Ao menos ela não sofreu”, “É o melhor jeito de morrer...”.

Outro paciente, na Flórida, perdeu sua casa e tudo o que ela tinha, num tornado. Alguns dias depois, seus pais foram visitá-lo e confortá-lo, enquanto ele contemplava, com eles, os escombros de sua existência, a mãe disse: “Pelo menos você está são e salvo”. E o pai: “Ainda bem que você tem seguro”. São exemplos de “reavaliações”. É assim que a psicologia chama as tentativas de encontrar razões para suavizar o sofrimento.

Suspeito que, frequentemente, as reavaliações facilitem, sobretudo, a vida de quem as sugere, ou seja, dos amigos e parentes que não estão muito a fim de se debruçar sobre o desespero de quem perdeu seu amor ou suas coisas. Eles se saem da embaraçosa situação de oferecer pêsames graças a um achado otimista.

De fato, essas intervenções são quase intoleráveis para os sujeitos que elas deveriam beneficiar. Para quem sofre, só fica uma impressão de escárnio: os outros sequer reconhecem o tamanho de sua perda, de seu dano e de seu luto, sua dor.

Como psicóloga especialista em perdas, danos e luto, somos treinados para oferecer assistência imediata às vítimas e aos próximos das vítimas de calamidades (acidentes, desmoronamentos, inundações, dor, finitude, perdas e lutos etc).

Nos EUA, a própria Cruz Vermelha oferece um treinamento específico que qualifica os psicólogos e psicoterapeutas que ela mobiliza em caso de catástrofe. Pois bem, os especialistas em luto são, a princípio, unânimes: quem está no desespero, antes de qualquer consolação, pede que sua perda e sua dor sejam reconhecidas e só depois, eventualmente, suavizadas.

Essa unanimidade encontrou, recentemente, uma espécie de confirmação experimental indireta. O “Journal of Neuroscience” publicou, em 15 de agosto de 2015, uma interessante pesquisa de Tom Johnstone e outros. Foram constituídos dois grupos, um de 21 sujeitos diagnosticados como depressivos graves e um grupo de controle de 18 sujeitos (não depressivos). A atividade cerebral de todos os sujeitos foi monitorada por ressonância magnética funcional enquanto lhes era mostrada uma série de imagens, boa parte das quais foram concebidas para produzir preocupação, medo, desespero e tristeza.

Os sujeitos eram também convidados a reavaliar essas imagens deprimentes, ou seja, a reinterpretá-las de maneira a suavizar ou mudar seu impacto negativo.

Deixo de lado a complexa descrição da atividade cerebral constatada nos dois grupos durante a experiência. O que importa aqui é a constatação final: os sujeitos deprimidos, aparentemente, tiveram maior dificuldade em reavaliar as imagens negativas. Pior, a tarefa de reavaliação que lhes era pedida parecia deprimi-los ainda mais.

É possível imaginar que esta seja uma propriedade dos quadros depressivos: uma incapacidade de reavaliar positivamente o que acontece de negativo. Mas é também possível que a depressão seja aqui apenas um fator que torna mais aguda a propensão ao desespero e impede de discriminar entre imagens e eventos aflitivos.

Seja como for, a experiência confirma o que já sabíamos: quando alguém sofre, a primeira tarefa dos próximos não é a de consolá-lo sugerindo reavaliações, mas a de ajudá-lo a encarar seu sofrimento assim como ele é. Mais uma nota: essa constatação é relevante na hora de administrar a necessária medicação antidepressiva. Talvez os raros efeitos paradoxais dos antidepressivos (o paciente que “estava muito bem” e, de repente, tenta o suicídio) tenham a ver não com o fracasso, mas com o sucesso da medicação, que produziu uma melhora substancial antes que o sujeito tivesse tempo de dizer sua dor.

Caso você esteja numa situação depressiva e necessite de ajuda, tem diversos canais para lhe ajudar, como a psicoterapia e o CVV (188). Sua vida importa. Cuide-se e permita ser cuidada.


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

Leia mais

Ideal Mente

Time’s Up

Ideal Mente

E quem cuida de quem cuida?

Ideal Mente

A importância da comunicação no cuidado

Ideal Mente

Luto patológico: quando a perda vira doença

Ideal Mente

A síndrome do coelho de Alice

Ideal Mente

Depressão e Terapia: Reconhecendo a Dor

Ideal Mente

Vamos falar de afeto?

Ideal Mente

Precipitação

Ideal Mente

Mudar dói

Ideal Mente

Carnaval: um mundo imaginário de liberação chegou ao fim

Ideal Mente

Felicidade 10mg

Ideal Mente

Bullying não é chacota, é crime!

Ideal Mente

Relacionamentos tóxicos: você sabe identificar se está em um?

Ideal Mente

O que é a felicidade?

Ideal Mente

Como recomeçar depois de um momento difícil?

Ideal Mente

Frustração X Expectativa:

Ideal Mente

Saudade não é carência

Ideal Mente

Uma amizade tóxica

Ideal Mente

Uma lição de Drummond sobre a saudade

Ideal Mente

O luto e as festas do final de ano



Blogs

A bordo do esporte

Resultados do Circuito Mundial de Bodyboarding

Blog do JC

MDB faz desagravo pela filiação do Renato Cruz

Blog da Ale Francoise

Sintomas de Dengue hemorrágica

Blog da Jackie

Cafezinho na Brava

Blog do Ton

Amitti Móveis inaugura loja em Balneário Camboriú

Gente & Notícia

Warung reabre famoso pistão, destruído por incêndio, com Vintage Culture em março

Blog Doutor Multas

Como parcelar o IPVA de forma rápida e segura

Blog Clique Diário

Pirâmides Sagradas - Grão Pará SC I

Bastidores

Grupo Risco circula repertório pelo interior do Estado



Entrevistão

Entrevistão Peeter Grando

“Balneário Camboriú não precisa de ruptura, mas de uma continuidade”

Juliana Pavan

"Ter o sobrenome Pavan traz uma responsabilidade muito grande”

Entrevistão Ana Paula Lima

"O presidente Lula vem quando atracar o primeiro navio no porto”

Carlos Chiodini

"Independentemente de governo, de ideologia política, nós temos que colocar o porto para funcionar”

TV DIARINHO




Especiais

NA ESTRADA

Melhor hotel do mundo fica em Gramado e vai abrir, também, em Balneário Camboriú

NA ESTRADA COM O DIARINHO

6 lugares imperdíveis para comprinhas, comida boa e diversão em Miami

Elcio Kuhnen

"Camboriú vive uma nova realidade"

140 anos

Cinco curiosidades sobre Camboriú

CAMBORIÚ

R$ 300 milhões vão garantir a criação de sistema de esgoto inédito 



Hoje nas bancas


Folheie o jornal aqui ❯








MAILING LIST

Cadastre-se aqui para receber notícias do DIARINHO por e-mail

Jornal Diarinho© 2024 - Todos os direitos reservados.
Mantido por Hoje.App Marketing e Inovação