Entra ano e sai ano e muitos não conhecem a si mesmos

Não é de hoje que a humanidade insiste em concentrar seus esforços no desenvolvimento pessoal e profissional com vistas ao progresso da nação. Nos grandes centros, a utopia de uma vida realizada contrasta com as mazelas a olho nu despojadas, não só nos becos e vielas, mas também na teimosia de se acreditar que o “possuir” satisfará a vontade de ser feliz um dia.

Meu saudoso professor de filosofia no curso de História nos fez um belo dia uma indagação que me acompanha até hoje: nos questionou do quanto era e é difícil ver um morador de rua, visto como miserável e desolado do mundo (aos nossos olhos), inconformado com a sua situação. Normalmente, vivem suas vidas com contento e até como se fossem gratos com o “patamar” até onde chegaram em vários aspectos, sociais, emocionais, entre outros.

O mesmo ainda nos fez refletir sobre o perfil daqueles que aos olhos da sociedade teriam uma vida perfeita e se preocupando demasiadamente com os problemas, que por sinal sempre são vários, os solucionaria.

Platão, um filósofo grego que viveu no séc. IV a.C., dizia que o destempero do homem ocorre quando a razão cede espaço para a emoção e, como consequência, o homem, dotado de corpo e alma, sensibilidade e raciocínio, tomaria decisões a seu desfavor, que o prejudicaria, caberia, portanto, a este mesmo homem, cheio de defeitos que é, controlar seus anseios e administrar seus instintos mais sagazes para que não cometesse “loucuras” nas decisões tomadas em sua vida.

Vivemos em busca do copo cheio, se possível transbordando. Não mais nos saciamos com o suficiente e o sonho de ontem hoje é insignificante, sempre nos comparando com os outros e nunca nos perguntando como foi que chegamos tão longe, nem sempre notamos o quanto crescemos diante das crises que enfrentamos.

O leitor pode discordar, mas aqueles que vivem frustrados geralmente são aqueles que mais planejam – todo planejamento gera frutos, positivos ou negativos. Há quem aprende com as tempestades, há quem se deixa levar por elas, há quem faz delas carruagem. Há medos que paralisam, há medos que nos deixam mais fortes.

Quem planeja espera resultados e quem espera cria naturalmente expectativas e, dependendo da expectativa criada e do resultado obtido, a resposta para determinada situação pode e é a mais inesperada possível. Muito se fala em poder da resiliência como se resiliência fosse um acessório, porém pouco se diz sobre reconhecer quem de fato é. O dia que aprendermos isso não haverá mais frustração e incredibilidade, muito menos rejeição em relação ao que nos tornamos. Sócrates já nos alertava sobre isso: “Conhece a ti mesmo”.

Será que de fato nós nos reconhecemos realmente ou nos tornamos um produto irreconhecível por nós mesmos? Sou Eu o responsável pelas minhas frustrações mediante as minhas expectativas em relação ao que busco. A Felicidade não é um lugar, trilhar um caminho é caminhar, não pensar onde se quer chegar, ser feliz é caminhar até… ninguém sabe onde.

Que neste novo ano que se aproxima, você tenha a escolha de conhecer mais a ti mesmo. Saúde mental é sobre isso. Desejo um 2024 cheio de novos sentidos a você.