Coluna Fato&Comentário
Por Edison d'Ávila -
Sindicato dos Estivadores: 100 anos
A expansão do comércio portuário e da indústria, desde o final do século XIX e, acima de tudo, nos primeiros anos de 1900, em Itajaí, assim como no Brasil, fizera crescer o número de operários. Esses operários se compunham principalmente daqueles que haviam abandonado agricultura e pesca, de ex-escravizados e filhos seus.
A precariedade da condição operária, naqueles tempos, era notória também em Itajaí. Contra essa condição, trabalhadores da cidade se tinham insurgido em 1892, naquela que deve ser considerada a primeira greve de operários itajaienses.
Com a finalidade de organizar e democratizar o trabalho no porto, em 1906 trabalhadores dessa ocupação fundaram a Sociedade Beneficente XV de Novembro. Até então, cabia exclusivamente aos capatazes das firmas portuárias escolher aqueles trabalhadores que bem quisessem. Havia discriminação e favorecimento de uns em detrimento de outros. A Sociedade Beneficente organizou escala de trabalho e eram chamados trabalhadores de acordo com ela.
Anos depois, o trabalho diversificado e diferenciado do porto, acrescido de uma postura mais politizada daqueles que trabalhavam nos navios, fazendo carregamento e descarga (estiva) dos porões, ocasionou a fundação, em 5 de março de 1922, da Sociedade Beneficente dos Estivadores de Itajaí, seguindo modelo norte-americano e europeu. Essa sociedade, tendo ainda caráter mutualista, propunha-se muito mais a defender reivindicações trabalhistas.
A primeira diretoria da Sociedade União Beneficente dos Estivadores teve como presidente Polycarpo Fernandes Oliveira e vice-presidente Joaquim Lopes Corrêa. Tanto Joaquim Lopes Corrêa como Firmino Alfredo Rosa e Bernardino Maria de Borba, responsáveis pela difusão das ideias socialistas entre os portuários, muito se empenharam pela fundação dessa sociedade. Ela, em 1933, se transformou no Sindicato dos Estivadores de Itajaí.
Através de sua Caixa Social, o Sindicato dos Estivadores, em 1935, adquiriu terreno na Vila Operária. Foi aberta a atual rua Pereira Neto (rua dos estivadores) e ali passou a construir casas que eram sorteadas entre os estivadores, que as pagavam financiadas em parcelas mensais.
O Sindicato dos Estivadores logo adquiriu proeminência nas demandas trabalhistas de Itajaí. Ele se transformaria na vanguarda das lutas do operariado da cidade. Seu presidente era sempre ouvido no concerto das entidades sindicais itajaienses e tinha força persuasiva entre trabalhadores e líderes de classe. Também demonstrava influência política e social.
Exemplo disso fora o acontecido tão logo se ficou sabendo do movimento militar em 1964 para depor o presidente João Goulart. Foi no Sindicato dos Estivadores que se reuniram líderes sindicais e trabalhadores para organizar a resistência, de onde saíram operários em passeata de protesto na rua Hercílio Luz e se decidiu decretar uma greve geral.
A maior autoridade militar da cidade, à época, por isso, decretara, logo a seguir, intervenção no Sindicato dos Estivadores e afastou seu presidente. Era o sindicato, ontem como hoje, baluarte em defesa do trabalhador, da Constituição e da Democracia.