Coluna Fato&Comentário
Por Edison d'Ávila -
Brizola e o “grupo de onze”daqui
Recentemente se completaram 100 anos do nascimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola. O político e administrador público gaúcho governou os estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro e também foi deputado federal por seu estado natal.
Quando ainda governador do estado sulino, em agosto de 1961, Brizola comandou a resistência ao veto militar que visava a impedir a posse do vice-presidente João Goulart na presidência da República, depois da renúncia do presidente Jânio Quadros. Pelas rádios gaúchas que compuseram a chamada “Rede da Legalidade”, ele, com sucessivos e ardentes discursos, forçou os militares a cumprir a Constituição, dando-se posse a Jango.
Depois, eleito deputado federal, passou a defender o governo de Goulart, face ao clima radicalizado do período 1963/1964 entre direita e esquerda. Novamente através do rádio, agora na Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, Brizola pregava a resistência à quebra da legalidade que todos anteviam, com o afastamento do presidente da República.
Pois, foi num desses seus programas de rádio, que em novembro de 1963 ele propôs a criação do que chamou “Grupo dos Onze Companheiros”. Os grupos deveriam resistir a qualquer golpe, sustentar um programa de governo nacionalista e as chamadas reformas de base, em particular a reforma agrária.
Os “Grupos dos Onze”, cujo número 11 tinha forte apelo propagandístico a se referir ao número de jogadores de uma equipe de futebol, na ocasião em que o Brasil acabara de se tornar bicampeão, logo tiveram apoio de parcelas do público apoiador de Jango. Brizola, como principal liderança da esquerda na época, passou a receber milhares de cartas de adesão e se disse que no começo de 1964 existiam mais de 1.200 ou 24.000 grupos no Brasil, como outros diziam existir.
Também em Itajaí se formara um “Grupo dos Onze”, composto de pessoas da esquerda, em sua maioria pertencentes ou simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro. O grupo daqui teve diversas reuniões de conscientização política e chegou a fazer treinamento num sítio do interior de Itapema/SC, embora não existissem armas.
No entanto, à semelhança de todos os outros no país, o “Grupo dos Onze” de Itajaí demonstrou pouca capacidade para reagir, quando da deposição de Jango a 31 de março de 1964. Até porque o próprio presidente não quis convocar ninguém à resistência, para não haver derramamento de sangue.
Mesmo assim, os grupos demonstraram ser uma experiência inovadora de politização e organização popular, naqueles dias de agitação política do final do governo João Goulart.
Quanto ao “Grupo dos Onze” daqui, seus integrantes se dispersaram e muitos viveram prisões e tormentos no governo militar pós-1964, por conta dessa participação que, equivocadamente, julgavam os militares ser um núcleo de guerrilha urbana.