Colunas


O organismo e a saúde civil


Havia um certo alívio no semblante de todos. Parecia à beira do fim, depois de um longo tempo se enfraquecendo. Por não mais se alimentar de nutrientes e proteínas nos dias que foram de sofrimento, passou a consumir seus músculos, seus órgãos, suas estruturas. A experiência pela qual se passa é uma revelação dos limites e da impotência humana diante do que sempre lhe será inevitável. Agora, há um certo alívio no semblante de todos: o sofrimento se foi.

Como mãe protetora e libertária, educadora e juíza dos seus, era a responsável por resolver os conflitos, conciliar divergências, moderar os diálogos à mesa quando todos se reuniam para avançar sobre a comida. Anunciava a forma e o conteúdo da existência comum, o imperativo do respeito, a existência do que é coletivo. Há uma sensação de vazio, de ausência da vida falada daquela que fora a orientadora das boas condutas, da conciliação das divergências e da institucionalização das formas de relações e estruturas entre os seus.

Seu enfraquecimento vem de longe. A sede incontida e ilimitada pelo poder lhe causou sérias doenças. Nem esquerda, nem direita; nem liberal ou comunista: a relação é com o poder. Poder de decidir orçamentos gigantescos, de ocupar cargos, de vetar encaminhamentos, de direcionar os passos, de sufocar adversários, de retaliar reputações. A revelação se deu, muitas vezes, nos exames rotineiros de imagem. Não era uma adesão ideológica [esquerda ou direita] que aparecia nas radiografias, mas a fixação do poder ao fígado: situação [usuário do poder] ou oposição [abstinência de poder].

Outra enfermidade que lhe fizera perder forças apareceu em hemogramas. Glóbulos brancos, glóbulos vermelhos, plaquetas e plasmas passavam a se organizar em blocos. Cada um tinha interesses próprios e esquecia-se que viviam num sistema orgânico interdependente. Como queriam defender somente sua existência, inchavam o sistema. Era uma doença autoimune, difícil de combater, porque os antídotos eram repelidos pelo “patrimonialismo”: cada parte acreditava-se dona do sistema inteiro. Perderam a noção de conjunto: as partes devem se completar e viver em nome do sistema; cada um só pode estar bem se o sistema estiver bem. O coração não pode gerar bombeamento de oxigênio e nutrientes para si mesmo; ele existe para si e para os outros.

Comprometido o sistema, os seus integrantes ficam, também, comprometidos. Não é possível considerar saudável as partes do corpo que diminuem a força ética e a conduta moral da vida. As atitudes cotidianas, os alimentos que são ingeridos, vão formar as condições de existência do corpo durante sua trajetória. O que se ingere durante o dia e a noite, as informações e as mentiras que se jogam na corrente sanguínea, a preguiça intelectual e a falácia dos entusiastas que aderem ao patriotismo quando há guerra, demonstram as debilidades orgânicas do ser. Hoje e sempre, será sua história a revelar seu Estado.

Internada há dias, usuária de medicamentos que não são eficazes contra seus males, incapaz de combater o vírus que lhe assola, impossibilitada de tomar vacinas pelo medo infantil, com demência impulsionada pela autoridade do cargo, a Saúde Civil lhe escapa. Já demonstra esforço para respirar, já sente dores musculares, já vê a situação lhe adornar o fim e atualmente tem enxaquecas incontroláveis. Vive com medo e agressivo.

É preciso tocar na ferida, diagnosticar as doenças, orientar tratamentos cientificamente adequados, tomar as vacinas, assumir comportamento de saúde preventiva. O combate permanente à doença e a necessidade de viver equilibrado faz jus à fé na vida. Fé na Vida, como “um peregrino que caminha sem parar, um poeta que ninguém pode calar”.


Conteúdo Patrocinado


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

ENQUETE

O que você acha da privatização da Marejada?



Hoje nas bancas

Confira a capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯


Especiais

Verde-amarelo em disputa e pautas "invertidas" marcam 7/9 antes de julgamento de Bolsonaro

SETE DE SETEMBRO

Verde-amarelo em disputa e pautas "invertidas" marcam 7/9 antes de julgamento de Bolsonaro

Malafaia usa Bíblia para transformar investigação em provação divina

Nos cultos

Malafaia usa Bíblia para transformar investigação em provação divina

Guerra no Congo e o silêncio da comunidade internacional diante de 10 milhões de mortes

CONFLITO INTERNACIONAL

Guerra no Congo e o silêncio da comunidade internacional diante de 10 milhões de mortes

Como lema da esquerda foi pego por bolsonaristas e virou mote no 7 de setembro

Anistia

Como lema da esquerda foi pego por bolsonaristas e virou mote no 7 de setembro

“Bolsonaro ainda é insubstituível”: antropóloga analisa os rumos da extrema direita

EXTREMA DIREITA

“Bolsonaro ainda é insubstituível”: antropóloga analisa os rumos da extrema direita



Colunistas

Itajaí estuda privatizar “comando” de escolas municipais

Charge do Dia

Itajaí estuda privatizar “comando” de escolas municipais

Coluna Esplanada

Escândalo nacional

Alertas para o próximo verão

Coluna Acontece SC

Alertas para o próximo verão

Amin chama Xandão de mentiroso

JotaCê

Amin chama Xandão de mentiroso

Coluna Fato&Comentário

Sebastião Reis – cronista social de Itajaí




Blogs

Ballet para os pequenos

Blog da Jackie

Ballet para os pequenos

João Paulo com Vicari

Blog do JC

João Paulo com Vicari

Mr. Olympia Brasil Expo 2025 espera receber mais de 25 mil pessoas

A bordo do esporte

Mr. Olympia Brasil Expo 2025 espera receber mais de 25 mil pessoas






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.