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“Mais um para Brusque”
Outro dito muito popular em uso na região de Itajaí, até uns tempos atrás, (porque a modernidade e as inovações da comunicação de agora têm pouco a pouco mudado usos e costumes) é esse: “Mais um para Brusque” Essa expressão se usa, quando alguém não fala coisa com coisa, perdeu o fio da meada, está confuso demais, diz besteiras; sugere-se que ele não faz uso completo de suas faculdades mentais.
Pois, no surgimento desse espirituoso dito do povo daqui existe uma razão histórica muito concreta, que se vai explicar de maneira sucinta nos limites deste artigo.
Quando em 1875, chegaram à Colônia Itajaí/Brusque os primeiros colonos italianos, algumas famílias da região de Treviglio se instalaram no Vale de Azambuja, em lotes coloniais que lhes foram destinados. Todas trouxeram a devoção a Nossa Senhora de Caravaggio, invocação mariana de grande fama e piedade na Lombardia, norte da Itália, desde o século XV. Logo trataram de construir humilde ermida em louvor à Virgem de Caravaggio, que acabaria afinal por ser rebatizada de Nossa Senhora de Azambuja. A simples ermida depois se fez uma capela maior e hoje é o afamado Santuário de Azambuja, a “Iguape do Sul”, cuja festa se faz no dia 15 de agosto.
No Vale de Azambuja, já conhecido pelas constantes romarias e notícias de muitos milagres, quiseram o dedicado vigário de Brusque da época, Pe. Antônio Eising e seu coadjutor, Pe. José Sundrup, que fosse também realizada meritória obra de caridade. Em 1902, inauguraram com apoio dos colonos e romeiros modesta Santa Casa de Misericórdia, a qual englobava hospital, asilo, orfanato e hospício.
Contando sempre com a caridade cristã de milhares de devotos e o auxílio material de inúmeros benfeitores, a obra evoluiu. Em 1910, o hospício teve construído um prédio próprio, onde doentes mentais de toda a região foram atendidos até 1942, quando o governo de Santa Catarina inaugurou a Colônia Santana, na região de Florianópolis.
Passaram a ser acolhidos no hospício de Azambuja, em Brusque, alienados daqui desde o começo do século XX. Numa época em que para o doente mental se prescrevia segregação da família e internação, alguém demonstrar não estar bem de suas faculdades mentais, de fato, era mais um para ser levado a Brusque, a razão do dito popular.
O governador catarinense Gustavo Richard, em 1907, quando lá esteve em visita, de tudo o que viu, deixou esse elogioso registro: “Azambuja, o bom retiro para todas as vítimas da miséria humana, a fonte de saúde para milhares de doentes, o apoio e amparo dos órfãos e da velhice, o refúgio dos surdos-mudos, cegos e alienados, Azambuja, o apreciado sítio de numerosas romarias de milhares de peregrinos...”