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Von Martius e o nome Tajahy


Artigo recente do jornalista José Hamilton Ribeiro, no jornal Folha de São Paulo, fez muito bom resgate histórico da vida do botânico e antropólogo alemão Carl Friederich Philipp von Martius, a propósito da comemoração dos 200 anos de sua vinda ao Brasil na comitiva que acompanhara a princesa Leopoldina de Áustria que veio se casar com Dom Pedro I.

Von Martius, à época com 23 anos, médico de formação e músico, acompanhou Johan Baptist von Spix, da Real Academia da Baviera, para embrenhar-se nas matas brasileiras e fazer um inventário da natureza do país. E dividiram os trabalhos assim: Martius, afeito à botânica, cuidaria das plantas e Spix, dos bichos. Mas o primeiro ainda recebeu uma outra incumbência: estudar os índios, como viviam, que línguas falavam, seus usos e costumes, sua cultura.

Mas que ligação teve von Martius com Itajaí? Acontece que ele foi o primeiro estudioso a dar uma explicação para o nome Itajaí, ligando-o a uma planta: “Tajahy – fluvius herbae taia”; isto é, “Tajahy – rio da planta taiá”. Isso publicado em sua obra Glossaria Linguarum Brasiliensis, editada na Alemanha, em 1863.

Como von Martius chegou ao nome do rio Tajahy permanece uma incógnita, porque ele e von Spix visitaram entre 1817 e 1820 todas as regiões do então Império do Brasil, com exceção da região sul. Topografia, botânica, zoologia, habitantes e culturas das regiões visitadas, até a Amazônia, foram muito bem estudados, descritos e catalogados pelos dois sábios, que enviaram para a Alemanha caixas e caixas de materiais coletados e milhares de relatórios, plantas e desenhos. A expedição resultou em 26 publicações científicas na Europa, dentre elas a Flora Brasiliensis, de von Martius, uma das maiores obras de botânica de todos os tempos e, talvez, a mais bonita, em 45 volumes.

A incumbência recebida por von Martius de fazer o estudo dos indígenas brasileiros, das suas línguas e culturas; inclusive, anotar seus cantos e danças e transcrever em pautas as músicas de modo que pudessem ser executadas em Munique, muito o impressionou. Ele considerava os índios brasileiros “relíquias de civilizações antigas”. Nesse estudo, fez o registro de 145 grupos indígenas, com anotações de seus idiomas e localização. O que hoje é um registro histórico valioso, porque a maioria desses grupos indígenas já foi extinta.

No Glossaria Linguarum Brasiliensis, o sábio von Martius fez anotar que o grupo linguístico tupi era o mais disseminado entre os grupos de línguas brasileiras indígenas. Daí porque teve atenção especial para esse idioma e buscou pesquisar número maior de palavras de origem tupi presentes na toponímia brasileira da época. Deve, então, ter encontrado nalgum mapa ou relato o nome “rio Tajahy”, como até bem no início do século XIX ainda se usava denominar o rio Itajaí. Botânico, que ele era, não teve dúvida alguma em interpretar o nome de origem tupi como “rio da planta taiá”. Todavia, cabe indagar. Von Martius escreveu sua explicação, mesmo sem conhecer as peculiaridades físicas do rio ou alguém que conhecia o lugar e o rio lhe dera informações? Vale pesquisar, porque a presença do nome Tajahy na obra de von Martius, reconhecido como cientista genial, é instigante.


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