Coluna Fato&Comentário
Por Edison d'Ávila -
Indignação e luto
Os brasileiros, no começo desta Semana da Pátria, assistiram indignados e de luto à destruição do bicentenário Museu Nacional, da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, a mais antiga instituição científica do Brasil, por um incêndio, fruto da incúria e do descaso. O também chamado Palácio de São Cristóvão, construção da época colonial, que abrigava uma coleção científica e cultural de mais de 20 milhões de itens no seu valioso acervo, vinha reclamando a atenção do poder público e da iniciativa privada por décadas, mas sem sucesso algum. O patrimônio cultural, via de regra, lamentavelmente, tem merecido pouco ou nenhum cuidado de gestores públicos e da comunidade em geral. Vejam-se as crônicas faltas de verbas, as depredações e roubos seguidos em monumentos, prédios históricos e obras de arte; assim como o desinteresse pela visitação. Ações e omissões, muitas criminosas. Isso tudo diz bem do descompromisso de largas parcelas de brasileiros e brasileiras com o cuidar do nosso patrimônio histórico, artístico e arquitetônico. O que aconteceu na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, já aconteceu e poderá acontecer em outras partes do Brasil, porque a incúria e o descaso com o acervo cultural brasileiro é um mal nacional, que ainda não se conseguiu extirpar. Também em cada cidade do país será preciso estar atento, aplaudir o que se fizer de bom e cobrar com veemência, sempre, o que precisa ser feito na defesa e proteção dos bens históricos, artísticos, arquitetônicos e paisagísticos, que constituem a memória e a beleza da cultura das comunidades. Em Itajaí, esse olhar atento e vigilante precisa do mesmo modo estar focado na defesa do nosso patrimônio cultural. Aqui também já tivemos tragédias similares à do Museu Nacional, nas devidas proporções, quando pás, picaretas e retroescavadeiras destruíram com acinte patrimônios históricos como a Casa Asseburg, Casa Rauert, Casa Miranda. É preciso ter proteção adequada, técnicos suficientes e preparados para bem cuidar dos acervos sob a guarda de nossas instituições culturais: Casa da Cultura, Biblioteca Pública, Museus, Arquivo Público. E temos bens culturais que demandam imediatos cuidados, que são o acervo de documentos históricos, a Casa Bauer e a Casa Burghardt, por exemplo; esta, inclusive, centenária construção, fechada desde 2015 à espera de reformas urgentes. Por outro lado, devemos louvar o zelo que teve a municipalidade, nos últimos anos, com o restauro da Casa da Cultura Dide Brandão, restauro e revitalização do Museu Histórico de Itajaí e restauração da Igrejinha da Imaculada Conceição. O patrimônio cultural é a memória de um povo, de uma comunidade. Quem não cuida dele está fadado ao descrédito e à vida sem cidadania plena, porque sem zelo por sua história. * historiador