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O papel da mídia na sociedade


Esses dias numa aula na universidade, um aluno fez um discurso “duro” a respeito da mídia como sendo a responsável por tudo o que acontece no país. Fiz os alunos verem que não é bem assim. Temos outros atores sociais, entre eles, os poderes do Estado, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Além dos grupos de interesse da sociedade civil e o cidadão comum, principal interessado pelo bom funcionamento da sociedade. Ou seja, o papel da mídia é fazer com que a sociedade se comunique. Mas, a mídia, por si só, não é a responsável por “resolver” os problemas. Pelo contrário, é responsável por mostrar a sociedade o que está acontecendo, e espera que os outros atores sociais possam agir. Portanto, culpar a mídia, sobre os problemas do país é simplificar a questão.

Com esse raciocínio quero discutir a seguinte ideia: não basta a mídia retratar a realidade se os poderes constituídos não fizerem a sua parte. Por exemplo, se a TV noticia um crime, o promotor público tem que tomar uma atitude, propondo uma ação judicial. E assim, por diante. Então, colocar nas mãos da mídia a solução para os problemas sociais é reduzir o problema.

A mídia também faz escolhas. Ela não mostra tudo o que acontece. O que a mídia notícia é sempre algo parcial. Por que, cada mídia tem um espaço diferente dedicado ao seu conteúdo. Por exemplo, um jornal impresso tem limites de páginas, então, as reportagens, as notícias e as notas seguem um espaço padrão. Um telejornal nacional tem em média uma hora de duração. Isso é algo que muitas vezes as pessoas não entendem. E até se frustram. Dão uma entrevista na TV, falam 15 minutos, mas só aparece 15 segundos no ar. Por que? Uma reportagem na TV, no horário nobre tem, sendo otimista, de 2 a 3 minutos. Então, é preciso respeitar o formato. Uma pessoa não teria paciência para ver um noticiário de 2 horas de duração, a não ser em casos especiais, como um acidente grave, uma enchente, etc.

Isso ocorre porque é preciso tornar o programa, vendável, consumível pelas pessoas. Por exemplo, um livro. Existem de vários tamanhos, de 100, 200 e até 500 páginas. Quer dizer, colocar uma história num único livro é um risco. Quem se anima a ler tudo aquilo? Tem gente que só de ver o volume do livro, foge correndo.

Isso acontece com a mídia também. É preciso respeitar o formato de cada produto. Entretanto, sabe-se que a relação entre a mídia e sociedade é complexa e dependente do poder econômico. Por exemplo, se a economia vai mal, muitas empresas não anunciam. E, sem anúncio, não há como produzir um jornal, pois, só o valor das assinaturas, não cobrem o custo. Portanto, há uma dependência do mercado, mas ela é sempre relativa. Afinal quem edita um jornal quer que ele seja lido e faça a diferença na vida das pessoas. Ou seja, um jornal precisa conquistar leitores e ainda atender aos seus interesses. Portanto, acredito que a mídia sempre fará um trabalho parcial, no sentido de mostrar a realidade possível.

Sobre isso, gosto muito da definição de notícia do professor Miguel Rodrigo Alsina, onde ele diz que a notícia é um “discurso institucional produzido socialmente”. Isto é, cada mídia fará uma narrativa própria dos fatos. Pois, irá depender dos recursos técnicos e logísticos que dispõe, da sua linha editorial e da dependência que tem do poder econômico.

Por isso, gosto de dar um exemplo. Três fotógrafos registram no cais do porto, a chegada de um barco que estava à deriva no mar e teve que ser rebocado. Quando o barco atraca, os três tiram uma foto. Pergunta: qual delas é a mais verdadeira? A de frente, a de lado ou em perspectiva? Será que todas não retratam a verdade?

Simplificando tudo é isso. Cada fotojornalista fará uma fotografia do seu jeito, com o seu olhar. Com ou sem luz, etc. Entretanto, o mais importante é que fato seja registrado pela mídia e que as pessoas tomem conhecimento e possam tirar as suas próprias conclusões. Ou seja, contar uma história, sempre será algo subjetivo, que foi construído a partir do olhar do contador. Além disso, esse mesmo acontecimento, será selecionado pessoas, nesse caso, os jornalistas. E, “compreendido” de diferentes maneiras por cada leitor. Portanto, a visão subjetiva estará sempre presente.

Apesar disso, participe da mídia, dê entrevistas, não deixe de mostrar a sua posição sobre os fatos. Somente dessa forma poderemos construir uma sociedade sem tantas injustiças e democrática.

Prof. Carlos Golembiewski

Jornalista, Dr. Comunicação Social.


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