Os tapumes colocados no ano passado ao redor do histórico clube Sebastião Lucas, conhecido reduto social da comunidade negra de Itajaí, no bairro Vila Operária, estão sendo retirados de forma misteriosa. O isolamento foi feito porque o prédio, reconhecido como patrimônio cultural municipal e em processo de regularização jurídica para receber recursos e viabilizar o restauro, vinha sendo alvo de invasões e furtos.
O isolamento com tapumes também foi uma determinação judicial à Prefeitura de Itajaí e à presidência do clube para coibir invasões e garantir a segurança de pedestres depois da queda de parte do ...
O isolamento com tapumes também foi uma determinação judicial à Prefeitura de Itajaí e à presidência do clube para coibir invasões e garantir a segurança de pedestres depois da queda de parte do telhado. Antes do fechamento, o local teve denúncias de focos de dengue, sujeira e risco de colapso da estrutura.
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Segundo a advogada Márcia Guimarães, presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento da Comunidade Negra de Itajaí (Conegi) e da Comissão de Igualdade Racial da OAB de Itajaí, o movimento negro foi surpreendido pela retirada dos tapumes. “Fomos surpreendidos no dia 8, com alguém que esteve lá na parte da manhã, debaixo de chuva, retirando os tapumes. Na hora todos da diretoria estavam ocupados e não puderam chegar a tempo. À tarde, por volta das 16h, eu e a Salete, secretária do clube, estivemos lá para verificar o que estava acontecendo”, conta.
Márcia e a secretária bateram nas casas vizinhas em busca de câmeras de segurança que mostrassem a retirada dos tapumes, mas não conseguiram imagens. “Chamamos a Polícia Militar e fizemos boletim de ocorrência. Um vizinho nos informou que um homem esteve lá e simplesmente retirou, dizendo que os tapumes eram dele e foi emprestado para o clube. Mas não sabíamos disso, pois não fomos nós que negociamos na época. O tal “dono” nem nos comunicou e retirou os tapumes”, explicou.
Com isso, a diretoria do clube Sebastião Lucas está se organizando para recolocar a proteção. O clube já fez a compra e a expectativa é recolocar o tapume até a próxima quarta-feira. A falta de isolamento oferece riscos ao prédio, admite Márcia. “Nosso maior medo é que alguma pessoa em situação de rua entre e por um azar do destino uma desgraça aconteça, pois as estacas de sustentação podem cair. Por isso nossa pressa em recolocar os tapumes no lugar”, pontua.
O prédio está fechado, sem uso social, desde o decreto de tombamento, em 2007. Em 2021, após questionamentos do Ministério Público e da Defesa Civil, o movimento negro de Itajaí foi chamado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (CMPC) para discutir a reestruturação do clube e a recuperação do prédio para a retomada das atividades.
Em junho do ano passado, uma nova diretoria foi formada com a eleição da presidente Grazielle Gleise Santana. Grazi informou ao DIARINHO que foi notificada para resolver a pendência com os tapumes o quanto antes – "o que será feito".
Restauro do prédio histórico
Márcia também adiantou que o processo de regularização jurídica para o clube poder receber recursos e viabilizar o restauro do prédio foi concluído. “O CNPJ está ok. Nossa luta agora é pela anistia das dívidas com a prefeitura. Na última Virada Afrocultural, em maio, o prefeito Robison Coelho prometeu que iria buscar soluções para nosso caso”, explica.
Somente depois de resolver as pendências com as dívidas o clube poderá buscar recursos. O professor José Bento Rosa da Silva e o arquiteto e urbanista Paulo Rolando de Lima, filho de um dos fundadores do clube, estiveram no Sebastião Lucas para fazer a medição e terminar o projeto arquitetônico para a reconstrução e restauração do prédio centenário.
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