O projeto “Corujar”, promovido pela Portonave em parceria com a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), vai dedicar dois anos ao estudo e à proteção da espécie que, em 2022, foi eleita mascote oficial do município com o nome carinhoso de Tina. A proposta une ciência e educação ambiental: de um lado, pesquisadores vão levantar dados inéditos sobre a vida dessas aves; de outro, a comunidade escolar será chamada a participar de atividades de conscientização e cuidado com a natureza.
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Primeira fase: ciência no campo
O primeiro ano será dedicado ao trabalho científico. A equipe técnica já começou a mapear as tocas — buracos escavados pelas próprias corujas na areia ou em terrenos abertos — que servem de moradia e local de reprodução. O plano é contar os ninhos, medir e pesar os indivíduos, analisar a dieta alimentar e fazer o anilhamento. Esse processo, que consiste em colocar um pequeno anel em uma das patas, permite identificar cada ave individualmente e acompanhar seus movimentos, padrões migratórios e até sua longevidade.
A equipe é formada pelos pesquisadores Vivian de Mello Cionek e Joaquim Olinto Branco, da Escola Politécnica da Univali, pelo oceanógrafo Diego Bremer Trevizzan e pelos biólogos e ornitólogos Alana Drielle Rocha e Diego de Souza. A diversidade de especialidades garante que o estudo seja detalhado, abrangendo desde o comportamento das aves até a relação delas com o ambiente costeiro.
Segunda fase: educação e comunidade
O segundo ano será voltado à conscientização ambiental. Estão previstas palestras nas escolas municipais, distribuição de materiais educativos e instalação de placas informativas em pontos estratégicos da cidade, principalmente nas áreas de restinga onde a presença da coruja é mais frequente.
A ideia é simples: não basta apenas monitorar, é preciso envolver quem convive diariamente com o espaço. “Quando as crianças aprendem sobre a importância de uma espécie, elas se tornam guardiãs desse conhecimento e ajudam a levar a mensagem para suas famílias e vizinhos”, destaca Vivian Cionek.
Sobre a espécie
A coruja-buraqueira (athene cunicularia) não vive em árvores, como muitos imaginam, mas em buracos no chão. Prefere áreas abertas e arenosas, como as restingas de Navegantes, e tem hábitos tanto diurnos quanto noturnos. Por sua dieta, composta de insetos e pequenos roedores, funciona como uma aliada no equilíbrio natural do ecossistema.
Apesar da importância, a urbanização ameaça seu habitat. A expansão desordenada de áreas urbanas e turísticas reduz os locais de tocas e aumenta o risco de atropelamentos ou destruição dos ninhos.
Recuperação da restinga
Além do “Corujar”, a Portonave iniciou em julho um plano de recuperação da restinga. Serão restaurados 38,4 mil m² no bairro Meia Praia, em quatro trechos considerados prioritários. O esforço beneficia não apenas as corujas, mas também outras espécies que dependem da vegetação nativa para sobreviver.
A escolha da coruja como mascote do município nasceu de um concurso entre escolas, em 2022. O nome Tina foi escolhido pelas crianças, transformando a ave em símbolo de identidade e cuidado ambiental para Navegantes. O “Corujar” pretende reforçar esse vínculo, mostrando que proteger a espécie é também proteger parte da história e da cultura local.
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