Dinheiro era desviado para pagar carros de luxo e cartões de crédito
(fotos: Divulgação/gaeco)
Bando criou 43 empresas para dar aparência de legalidade (Foto: Gaeco/Divulgação)
Os chefes do golpe milionário que usava construtoras como fachada em Itapema foram presos no Rio de Janeiro. A prisão dos líderes, ligados a uma família carioca, foi confirmada pelo Gaeco durante coletiva de imprensa em Itajaí. A operação deflagrada nesta quarta-feira recebeu o nome de “Black Flow” e revelou um esquema que teria movimentado quase R$ 90 milhões em negócios fraudulentos na construção civil.
De acordo com a promotora Bianca Andrighetti Coelho, coordenadora do Gaeco em Itajaí, o grupo usava uma estratégia para dar aparência de legalidade aos empreendimentos. Para cada novo ...
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De acordo com a promotora Bianca Andrighetti Coelho, coordenadora do Gaeco em Itajaí, o grupo usava uma estratégia para dar aparência de legalidade aos empreendimentos. Para cada novo projeto era criada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), modelo permitido em lei e comum no mercado. Só que as SPEs eram criadas sem o devido registro de incorporação imobiliária, exigência mínima para comercializar imóveis.
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Mesmo sem esse registro, as empresas vendiam apartamentos como se estivessem regulares. O dinheiro entrava nas contas da SPE, passava por outras empresas do grupo e terminava pulverizado em contas pessoais dos mandantes do grupo criminoso.
A quebra dos sigilos bancário e telemático mostrou que o dinheiro era usado para pagar passagens aéreas, carros de luxo, mensalidades escolares e cartões de crédito, em vez de financiar as obras.
Foram cumpridos 28 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva. Todas as prisões aconteceram no Rio. Já em Santa Catarina, o foco foi a coleta de provas em Itapema, Porto Belo, Joinville e Balneário Camboriú. Também houve buscas em São Paulo.
Colline expõe ligação com a B|Fabbriani
O Ministério Público não divulgou os nomes das construtoras investigadas, mas durante a coletiva os promotores apontaram o residencial Colline, em Itapema, como principal objeto da investigação. O empreendimento pertence à construtora B|Fabbriani.
A ligação não para aí. O Gaeco destacou que o grupo investigado tem 16 empreendimentos ativos, sendo 14 em Itapema. Esses são exatamente os números que aparecem no site da B|Fabbriani, incluindo um no Rio Grande do Sul, estado mencionado pelo Gaeco como sendo um dos estados em que teriam escritório, e Joinville, cidade citada pelo Gaeco como território de atuação do esquema. Além disso, o grupo mantém escritórios em Itapema e no Rio de Janeiro, mesma estrutura declarada pela empresa.
No caso do Colline, de acordo com o Gaeco, 66% das unidades já foram vendidas, o equivalente a pelo menos 168 compradores lesados. A entrega estava prometida para dezembro de 2025, mas no local só existe a fundação e nenhum avanço da obra. A promotora Bianca ainda lembrou que apenas um empreendimento foi entregue pela empresa em Itapema, mas com irregularidades graves e alvo de ações judiciais.
O DIARINHO procurou a construtora B|Fabbriani para saber mais sobre os empreendimentos investigados. Até o fechamento desta edição, não houve retorno. O espaço segue aberto.
Estrutura do grupo
O Gaeco descobriu que o grupo investigado era formado por:
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• sete empresas principais, coordenadas por uma holding com sede nos Estados Unidos;
• 43 empresas criadas como SPEs, mas só 16 realmente negociavam com clientes;
• dessas, apenas um empreendimento foi entregue em Itapema, e ainda assim com sérias irregularidades: falta de matrícula individualizada e problemas estruturais.
As transferências de valores entre as SPEs eram expressivas. Segundo a apuração, mesmo empresas que não tinham nenhuma obra iniciada movimentavam grandes quantias de dinheiro.
Conversas interceptadas
A investigação encontrou conversas interceptadas entre os líderes e funcionários do grupo. Nelas, os funcionários eram orientados a:
• fazer transferências bancárias mesmo sem previsão contratual;
• manipular informações contábeis para dar aparência de legalidade;
• lidar com inadimplências e tributos sem registrar corretamente;
• encobrir atrasos e dívidas das empresas.
Esses áudios e mensagens reforçaram a suspeita de que o grupo nunca teve intenção real de cumprir os contratos. Eles assumiam prazos de entrega de quatro meses, mas não davam início às obras.
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Impacto sobre os compradores
De acordo com o Gaeco, as práticas do grupo configuram:
• crime contra a economia popular, porque vendiam imóveis sem condições legais de entrega;
• estelionato, já que enganavam compradores e investidores;
• lavagem de dinheiro, pela movimentação e ocultação dos valores desviados;
• organização criminosa, pelo funcionamento estruturado entre as empresas.
Muitos compradores perderam o dinheiro pago, corretores foram enganados, e pessoas que ofereceram terrenos em permuta também foram prejudicadas.
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“Preço de custo” era armadilha
Grupo anunciava imóveis abaixo do valor de mercado, constatou o Gaeco
O golpe se aproveitava de uma prática sedutora no setor: vender imóveis bem abaixo do valor de mercado. Essa promessa atraía consumidores que viam no negócio uma oportunidade de pagar menos pelo imóvel próprio ou de investir para revenda.
O problema é que, nesse modelo, o comprador não adquiria um apartamento pronto, mas sim se tornava sócio do empreendimento via SPE. Isso significa assumir riscos que não eram explicados aos clientes. “É fundamental que o comprador se pergunte por que o preço está tão abaixo do mercado. A SPE não é uma construtora comum. Quem compra se torna sócio do empreendimento, e não comprador direto de um imóvel pronto”, alertou o Gaeco.
O Ministério Público orientou as vítimas a procurarem a 2ª Promotoria de Justiça de Itapema, levando contratos, comprovantes de pagamento e registros das negociações. O objetivo é reunir provas e buscar ressarcimento com o bloqueio de bens dos envolvidos. As denúncias também podem ser feitas pelo site do MPSC ou pelo WhatsApp da promotoria.
O Gaeco informou que corretores de imóveis ligados às vendas serão investigados. Há indícios de que alguns sabiam das irregularidades, enquanto outros também podem ter sido vítimas, já que há relatos de comissões não pagas.
O Sindicato dos Corretores será notificado e os profissionais que atuaram nas vendas devem ser chamados para depor. O MP reforçou: corretor pode vender imóvel, não pode vender cotas de SPE como se fossem apartamentos.
Linha do tempo do esquema
• 2017: grupo começa a atuar em SC
• 2020: modelo fraudulento se consolida com mais lançamentos
• Setembro de 2024: Gaeco inicia investigação
• Dezembro de 2025: prazo prometido para entrega do Colline, que nunca passou da fundação
• Setembro de 2025: deflagração da Operação Black Flow, com prisões no Rio e buscas em SC e SP
Creci denunciou empresa acusada
Logo após a operação desta quarta-feira, o Creci informou que vinha investigando a empresa acusada de golpe junto com o Ministério Público desde 2022, com apresentação de denúncias e alerta público aos corretores de imóveis de que a comercialização de imóveis sem registro de incorporação é crime.
Desde então, Creci e Ministério Público trocaram informações em 366 oportunidades, em casos de todo o estado. Em 2024, foram 4514 pessoas fiscalizadas pelo conselho entre clandestinos, credenciados e empresas, somente em Itapema.
Nos últimos três anos, o Creci autuou mais de 433 clandestinos operando em Itapema por meio do exercício ilegal da profissão, o que gerou dezenas de denúncias ao MP ou a regularização da condição de corretor de imóveis. No estado, foram mais de 5000 autuações por exercício ilegal no mesmo período.
Como denunciar ao MP
Quem desconfia de fraudes em construtoras ou de qualquer outro crime pode denunciar ao MP. Veja o passo a passo:
3. Escolha se a denúncia será anônima (sem identificação) ou identificada (com nome e contato do denunciante)
4. Preencha o formulário com o máximo de detalhes possível: nomes de pessoas ou empresas envolvidas, endereços, valores, datas e qualquer prova disponível
5. Anexe documentos, imagens ou prints, se tiver
6. Clique em enviar
7.Entrar em contato com o número (47) 99293-0081, pelo aplicativo WhatsApp, ou através do e-mail: itapema02pj@mpsc.mp.br
Depois de registrada, a denúncia é analisada pelo Ministério Público. Se for o caso, pode ser encaminhada ao Gaeco ou a outra promotoria responsável para investigação.
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