LULA EM ITAJAÍ
Ausência do governador e críticas a Bolsonaro marcam discursos
Lula provocou bolsonaristas a mostrarem obras do “outro” em SC
João Batista [editores@diarinho.com.br]
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Itajaí nesta quinta-feira, para anúncio de investimentos no porto e em estaleiros da região, foi marcada por críticas à ausência do governador Jorginho Mello (PL) e ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
As “alfinetadas” partiram desde o superintendente do Porto de Itajaí, João Paulo Tavares de Bastos Gama, até o presidente Lula, passando pelos ministros dos Portos, Silvio Costa Filho, e o da Fazenda, Fernando Haddad. Lula criticou a gestão Bolsonaro por “estragar o país” e pela falta de investimentos em Itajaí e em Santa Catarina.
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“Seria extremamente importante que as pessoas que defendem o outro [Bolsonaro] pudessem mostrar que obra ele fez em Santa Catarina, que rodovia, que ponte, que hidrelétrica ele fez; que estaleiro ele fez, quantas casas ele fez, quantas creches ele fez, porque a única coisa que foi feita no governo passado foi criar um gabinete do ódio pra contar mentira 24 horas por dia”, disse Lula.
Segundo o presidente, “nunca antes” em Santa Catarina houve um governo federal que investisse tanto no estado quanto os governos do PT. Lula citou seus dois primeiros mandatos, o da presidente Dilma Rousseff e os dois anos de sua terceira gestão. “Se em algum momento houve governo federal que colocou a quantidade de recursos que nós colocamos tanto no Lula 1, Lula 2, Dilma e Lula 3, duvido, duvido”, frisou.
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Lula ainda destacou que o “legado” de Bolsonaro foi levar à morte cerca de 700 mil pessoas “por irresponsabilidade na contratação de vacina”. “Quando a gente poderia ter evitado metade daquelas mortes se a gente tivesse, primeiro, cuidado da vacina e, segundo, não ficar receitando remédio que não serviria pra combater a covid-19”, lembrou.
“Eles [adversários] estão com raiva, não vieram e nem vão vir”
Ele também já deu o tom das próximas eleições. “Eu quero ver, no confronto direto, eles terem coragem de dizer o que eles fizeram nesse país a não ser gargantear, a não ser mostrar arma, a não ser legalizar porte de arma, a não ser mostrar metralhadora. Eu prefiro mostrar livro, eu prefiro mostrar educação, que é muito mais prazerosa pra um país”, defendeu.
O presidente ressaltou a importância de estar em Itajaí para anunciar investimentos necessários para a geração de emprego e renda e para recuperação do porto, “que era pra ser privatizado por incompetência de quem administrava esse país”, em referência ao governo Bolsonaro.
“Nós vamos tomar conta desse estaleiro [Porto de Itajaí] e transformá-lo num estaleiro [porto] altamente compensador do ponto de vista financeiro e do ponto de vista econômico. Eu sei que eles [adversários] estão com raiva, eles não vieram e nem vão vir. Porque a desgraça de quem conta a primeira mentira é que passa o tempo dele mentindo”, afirmou.
Para Lula, após dois anos de trabalho pra retomar as operações no porto, agora é o “ano da colheita”. “Eu estou aqui colhendo o desenvolvimento de Itajaí e de Navegantes, colhendo os investimentos em Santa Catarina”, afirmou, prometendo voltar mais vezes porque ainda “tem muita coisa pra fazer” pro estado.
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Dono da JBS diz que em três meses porto estará no auge

Lula terminou o discurso destacando o investimento em Itajaí pelo empresário Wesley Batista, dono do grupo JBS, controlador da JBS Terminais, e o potencial da cidade e da região. “Wesley, você que está investindo aqui, pode ter certeza que é uma cidade abençoada por Deus. Um povo maravilhoso, águas maravilhosas, praias maravilhosas, gente bonita e gente educada”, completou.
Wesley, em seu discurso, afirmou que a JBS Terminais deixará o porto em capacidade máxima em até três meses com os investimentos que estão sendo feitos. “A gente sabe o quão é importante esse porto para o país. O senhor presidente tem aberto o mercado mundo afora. O Brasil precisa ter portos para escoar toda a produção brasileira e tudo que o senhor tem aberto de mercado. Para se ter uma ideia, Décio [Lima], 50% do frango e da carne suína exportada do Brasil, saem daqui de Itajaí. Para se ter uma ideia da relevância do porto”, disse Wesley.
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Porto terá investimentos de quase R$ 1 bilhão do governo federal

O presidente Lula veio pra Itajaí, cinco meses após a federalização do porto e de diversas datas frustradas da visita, esperada desde 2024. O público recebeu o presidente em estrutura no Recinto Alfandegado Contínuo (RAC), área do Porto de Itajaí em frente ao cais público. O evento teve vista para o maior navio de carros do mundo, da BYD, que atracou na quarta-feira carregado com mais de sete mil veículos.
Em meio à operação histórica de descarregamento, a maior movimentação automotiva do Brasil, Lula anunciou uma série de investimentos que marcam a retomada das operações do Porto de Itajaí após a crise que esvaziou o terminal entre 2022 e 2024. De acordo com Ministério dos Portos, são R$ 844 milhões previstos em projetos de infraestrutura, modernização e ampliação da capacidade do complexo portuário nos próximos anos.
Para 2025, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, anunciou o projeto de concessão do canal de acesso. “Vai elevar a dragagem de 13,5 metros para 16 metros, fazendo com que a gente possa receber navios ainda maiores e pra que a gente possa aumentar a competitividade desse porto”, destacou. A concessão depende do lançamento do edital, previsto até o final do ano. A fase atual é de envio para análise do TCU.
O ministro anunciou a Medida Provisória (MP) que vai transformar o porto numa Companhia Docas independente e um porto federal, tirando a gestão que hoje está ligada à Autoridade Portuária de Santos (APS). Na cerimônia, o dono do grupo JBS, Wesley Batista, discursou rapidamente representando a JBS Terminais e o setor privado que, segundo ele, abrange mais de mil empresas ligadas ao porto.
O empresário disse que mais de R$ 130 milhões já foram investidos para o porto voltar a operar e prometeu alavancar a movimentação de contêineres, que ainda não atingiu a metade da meta mensal, de 44 mil TEUs. “Em mais dois, três meses, o porto vai estar operando na sua capacidade máxima, coisa que nos dá muita satisfação e, ao mesmo tempo, muita responsabilidade”, disse.
Além dos investimentos no Porto de Itajaí, a cerimônia serviu para anunciar os projetos da Petrobras pra construção de navios de apoio às operações petrolíferas, por meio dos estaleiros Detroit, de Itajaí, e Navship, de Navegantes. Serão 12 navios com construção já iniciada, somando R$ 16,5 bilhões. O projeto da Petrobras é de 52 novas embarcações a serem contratadas até 2026, com R$ 29 bilhões de investimentos que vão estimular a indústria naval.
“Desde 2016 que a nossa querida Petrobras não fazia um contrato para um navio qualquer em algum lugar desse país”, comentou Lula, sobre a importância do projeto. As construções em Itajaí e Navegantes foram destacadas pelo diretor-geral da Detroit, Maxwell de Souza Oliveira. Já a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, detalhou o plano da companhia, com estimativa de gerar 50 mil postos de trabalho.
Principais projetos para o Porto de Itajaí
• Investimento: R$ 844 milhões
(Dados do Ministério dos Portos)
• Dragagem do canal do rio Itajaí-Açu (16m) – R$ 90 milhões
• Retirada do casco do navio Pallas – R$ 23 milhões
• Readequação do molhe de Navegantes – R$ 64 milhões
• Obras na bacia de evolução – R$ 68 milhões
• Adensamento da área do RAC – R$ 45 milhões
• Requalificação elétrica e de iluminação – R$ 20 milhões
• Contenção da margem direita do canal – R$ 67 milhões
• Novo scanner de raio X – R$ 12 milhões
• Píer para navios de cruzeiro – R$ 300 milhões
• Sistema VTMIS (tráfego naval) – R$ 65 milhões
• Sistema SmartPorto (segurança e inteligência artificial) – R$ 30 milhões
• Monitoramento rodoviário e agendamento – R$ 30 milhões
• Modernização de gates e integração com Receita Federal – R$ 30 milhões
Ministros destacam atuação em prol do porto
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante discurso (Foto: João Batista)
O ministro dos Portos, Silvio Costa Filho, comentou que o trabalho pela reabertura do Porto de Itajaí foi uma das prioridades desde quando assumiu a pasta. “Infelizmente, o governo anterior queria privatizar o porto. O governo anterior fechou o Porto de Itajaí, deixando quase 1.500 pessoas desempregadas. Foi o presidente Lula, que conhece as dores e o sorriso do povo brasileiro, que reabriu o Porto de Itajaí”, disse.
Ele ainda afirmou que “no governo passado” não houve nem um real do governo federal também para outras obras no estado, enquanto Lula entregou investimentos pra duplicação de rodovias e programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Pé de Meia. “São investimentos que estão mudando a vida das pessoas. E não tenho dúvida que a verdade sempre vence. Quanto mais eles torcem contra, mais o presidente Lula trabalha”, completou.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que a questão política é importante para que o país encontre o rumo certo e haja entendimento entre os poderes e os governantes, o que também traz investimento para o país. Para o ministro, a atuação do presidente Lula traz estabilidade, inclusive emocional, pela maneira como ele trata o povo e respeita as pessoas.
“Eu já vi, inúmeras vezes, um governador ou um prefeito fazer uma desfeita e vi esse mesmo governador, esse mesmo prefeito, ser recebido de braços abertos em Brasília, porque o presidente respeita o povo e o estado do governador, independentemente da visão ideológica do governador. Essa visão do Estado é muito importante”, comentou.
O superintendente do Porto de Itajaí, João Paulo Tavares Bastos, que foi o primeiro a discursar, defendeu a federalização do terminal, o que teria permitido a retomada das operações e os novos investimentos que estão fazendo o porto “bombar” de novo. João Paulo lembrou que Lula “salvou” o porto pela terceira vez, citando a atuação do governo federal pra recuperação do canal portuário, em 2016, e pra reconstrução do porto após os impactos da enchente.
O superintendente citou Jorginho Mello como exemplo de falta de união pelo porto. “Um governador que ignora a grandeza e a importância do Porto de Itajaí. Parece cada vez mais difícil dialogar nestes tempos, tempos estranhos, mas nós não vamos desistir. Nós somos maiores que isso e a prova é esse encontro aqui com todos vocês, as autoridades dos mais diversos partidos e a sociedade”, analisou.
Governador foi pro oeste e prefeito mandou secretária no lugar

O governador Jorginho Mello (PL) e o prefeito de Itajaí, Robison Coelho (PL), não participaram do evento com o presidente. A ausência do governador seria pela agenda em São Lourenço do Oeste, com apresentação do programa “Santa Catarina levada a sério” pela manhã, e reunião com prefeitos da região oeste, à tarde.
Pela prefeitura de Itajaí, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Gabriela Kelm, representaria o governo municipal. Segundo a secretaria de Comunicação, o prefeito Robison Coelho e o vice-prefeito Rubens Angioletti (PL) não teriam recebido “convite oficial”.
A ausência do prefeito Robison foi criticada até por eleitores dele. A dona de casa Daniela Pereira, de 46 anos, diz que votou no prefeito, mas se sentiu “ofendida profundamente” pela falta de Robison no evento. Para ela, as diferenças partidárias deveriam ser deixadas de lado. “Esse prefeito no qual eu votei não me representa mais”, disse.
Outros prefeitos da região marcaram presença no evento, entre Liba Fronza (PSD), de Navegantes, e Leonel Pavan (PSD), de Camboriú, que participou, mas saiu antes da cerimônia por conta de compromisso assumido anteriormente. A prefeita Juliana Pavan (PSD) não foi, mas Balneário Camboriú foi representada pelo vice-prefeito, Nilson Probst (MDB).