Diz aí, diretor!

"O cara estava fritando batata frita com barata”

O diretor da Vigilância Sanitária de Itajaí, Silvio Schaadt, falou sobre as recentes fiscalizações e apreensões na cidade. A entrevista da jornalista Fran Marcon teve a participação de Francieli Peixoto que é pós-graduada em qualidade de alimentos.

Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]

(fotos: fotos Fabrício Pitella)
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A Vigilância Sanitária apreendeu cerca de três toneladas de carne em estado de decomposição em um açougue no bairro São Vicente. Como são feitas as fiscalizações para impedir a comercialização de alimentos impróprios para consumo?

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Silvio: Na verdade, foram cinco toneladas e meia na soma total. Chegamos lá através de denúncia: contêiner de carne. Na hora que bateram no portão, viram que tinha uma ...

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Silvio: Na verdade, foram cinco toneladas e meia na soma total. Chegamos lá através de denúncia: contêiner de carne. Na hora que bateram no portão, viram que tinha uma pessoa trabalhando, os fiscais abordaram e ele não quis dar o nome do comércio. Mas através de investigações, se viu uma nota fiscal e umas etiquetas de carne no chão. Se constatou que quatro terrenos depois ficava o açougue. Dentro do próprio contêiner foram achadas duas toneladas e meia e dentro do açougue mais três toneladas. [Toda essa carne era imprópria para consumo?] Toda a carne era imprópria para consumo porque estava com data de validade vencida. O que acontecia? Essas grandes redes, quando vencem esses produtos dentro dos mercados, eles recolhem as carnes e entregam de novo para o frigorífico. O frigorífico pega e vende para fazer ração animal. Está em investigação, mas eles compravam esse produto, tiravam dessa embalagem, lavavam e botavam para assadões, distribuição em comércios e vendiam nos próprios açougues. Após a apreensão, ele foi autuado e o local lacrado. Ele responde pelo crime de atentado à saúde pública. 

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"Antes tinha produtos vencidos, mas os fiscais estavam oprimidos”

 

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Quais sinais de alerta de que tem algo de errado com a carne, com o produto que a população vai consumir ?

Silvio: O mercado tem um selo próprio, colocado por eles, mas no próprio produto a vácuo, se tu virar, dentro tem uma etiqueta que diz de onde veio e está tudo rastreado. Ali está dizendo a data. Não adianta ele mudar a data daquela etiqueta branca, se dentro tem uma etiqueta dizendo a data de validade. Também pela cor da carne e pelo cheiro. O grande problema, embora o Mapa [Ministério da Agricultura] tenha o SIM [Serviço de Inspeção Municipal] ou SIF [Serviço de Inspeção Federal], é que o produto já vinha sem esse selo. Eles tiram da embalagem e depois trocam ou transformam em carne moída, hambúrguer e bife. Não tem como fiscalizar. Mas quando chega num açougue que não tem o SIM ou não tem o SIF deste produto, a gente apreende. Nenhum açougue pode ter carne moída pronta. Tem que ser moída na frente do cliente. Não pode ter a carne pronta, porque tu não sabes como é que foi feita, de onde que ele tirou, se é carne boa, se é só gordura, se é só resto. Não sabe a procedência da carne que está sendo moída. Como ocorreu com a apreensão do sebo, no Portal 1, após uma denúncia do supermercado. Na sexta-feira, quando a gente chegou, tinha paletes de madeira na câmara fria, que não pode, tinha que ser palete de plástico. Carnes penduradas, mas muita carne no chão. Ele foi orientado a recolher. Olhei no chão e tinha dois sacos: para produção industrial. [Isso significa o quê?] Só para quem faz hambúrguer. Ele é usado mas só 5%, 10% para dar um gostinho no hambúrguer. Eu fiquei encucado. Eu deixei ali, porque não coube a apreensão. Na segunda-feira, eu cheguei na Visa e disse assim pros fiscais: vamos voltar lá. Peguei ele moendo sebo, sebo com fígado. Ele moeu o sebo e o fígado era para dar cor no sebo. Ele fazia carne moída de sebo! A gente recolheu todo esse produto, levamos para o aterro sanitário de novo. Eu apreendi na sexta-feira produtos vencidos, na segunda ele tinha colocado de novo. Mais uma atuação em cima dele. [Essa mistura de fígado com sebo, ele oferecia de forma mais barata ao consumidor?] R$ 19,90, o quilo da carne. Isso se reflete onde? Nos postos de saúde. Vai se refletir nos postos de saúde, em uma diarreia, uma doença estomacal, até um câncer lá na frente.

 

“Para você ter ideia, o cara estava fazendo hambúrguer, puxei umas caixas de papel e saiu um ninho de barata. As baratas correndo até em cima da chapa”

 

Quantas operações a Vigilância já fez neste início de ano? Qual o produto mais apreendido ?

Sílvio: Mais ou menos umas 100 denúncias. Nove desses foram autuados. Sendo cinco resultados em interdição, fechamento. Eles têm prazo de até 30 dias para se adequar. [O que a vigilância precisa encontrar no estabelecimento para o local ser interditado?] Ele tem que ter toda a documentação, alvará do Corpo de Bombeiros, alvará de funcionamento e alvará sanitário. Depois disso, higiene. As condições dos alimentos, como eles estão sendo guardados, dentro dos freezers, porque tem muita mistura ainda. Precisa ser só carne, mas a pessoa bota cebola, queijo, carne, peixe, tudo junto. A gente vai orientar. A falta de documentação e falta de higiene, a gente interdita. Na operação Recomeço, no sábado de carnaval, recebemos uma denúncia de um estabelecimento no São João. Chegou lá, muita sujeira, muita falta de higiene. Para você ter ideia, o cara estava fazendo hambúrguer, puxei umas caixas de papel e saiu um ninho de barata dali. As baratas correndo até em cima da chapa. Avisei que podia mandar os clientes embora que estava fechado. [Esses estabelecimentos podem reabrir? É feita uma nova visita?] Pode, sim. A gente deu prazo de 20 dias, mas em 24 horas ele botou uma equipe lá para limpar tudo. Ele limpou tudo, mas vai ser multado. Ele já reabriu. Eles vivem disso, a gente não pode fechar. São várias famílias que vivem disso, não pode fechar um estabelecimento assim... [Qual que é o valor médio da multa?] Se for carne, é por quilo de carne: R$ 80 o quilo, mais ou menos. [Qual é a irregularidade mais encontrada?] Falta de higiene. Eu encontrei dentro daquele fritador de batata frita, lá no fundo, duas baratas. O cara estava fritando batata com barata. Mas tem muitos restaurantes bons em Itajaí também.

 

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“O cara estava fritando batata frita com barata dentro”

 

Quando um comerciante vai abrir um restaurante, ele precisa fazer um curso de manipulação de alimentos?

Sílvio: A vigilância sanitária é um órgão que vai lá fiscalizar e orientar. Curso não tem. [Qualquer pessoa que vai abrir um restaurante pode ir até a prefeitura e solicitar a carteira de saúde. Há uns anos, a vigilância sanitária também agendava curso e dava curso pra liberar a carteira de saúde...] Agora, em Itajaí, só no bairro São João pode tirar a carteira de saúde. Mas a vigilância não exige a carteira de saúde. [Não tem essa exigência para a liberação do alvará?] Não, caiu fora. Vocês sabiam que não precisa alvará sanitário para açougue? Não precisa ter! Agora a gente quer entrar com a lei municipal e estadual. Porque cada cidade ficou responsável para fazer a sua própria legislação. Hoje, os açougues e os supermercados não precisam mais de alvará sanitário, mas cabe a fiscalização dos comércios.

Por que há tantas operações neste ano? Antes não havia produtos vencidos ou as fiscalizações, por algum motivo, não estavam acontecendo?

Silvio: Antes tinham produtos vencidos, mas os fiscais estavam oprimidos. Teve lugares que eles foram, notificaram e depois a antiga gestão fez eles voltarem, abrir, liberar de novo e pedir desculpas. Tem vários casos lá dentro que o fiscal teve que voltar e dizer “desculpa”. Porque era "amigo do rei", digamos assim. Me deram carta branca para trabalhar. Eu sou de ir em cima, atuando e ir junto com os fiscais. Os fiscais falaram: “Silvio, nunca nenhum diretor saiu junto para fiscalizar”. [Vocês têm rota? Estão fiscalizando aos poucos?] São três gerências. Tem gerência ambiental, gerência em saúde, que faz pet shop, clínicas, agropecuárias e odontológico, e o alimento...

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“Nenhum açougue pode ter carne moída pronta”

 

Não aconteceram fiscalizações no centro e nos bairros Fazenda e Praia Brava... Isso significa que nesses bairros não há irregularidades?

Sílvio: A gente precisa de denúncia. Mas teve! A gente fez duas ontem e estava ok. [Teve uma em Cabeçudas, com interdição?] Em janeiro, eu fiz Operação Verão Seguro. Começamos lá da divisa e viemos: Praia Brava, Molhe, fizemos a Beira Rio - alguns restaurantes a gente não fez ainda. Em Cabeçudas, foi uma denúncia que a gente foi num restaurante, chegou lá, orientamos, demos um prazo de 20 dias. Na volta, para ver se estava tudo ok. Ao chegar lá, eu olhei que tinha um comércio com a porta aberta escrito: vende-se marmita para o setor de construção civil. Era uma cozinha industrial – muita sujeira. [Tem efetivo para fiscalizar a cidade?] A lei diz que: a cada 10 mil habitantes, tem que ter um fiscal. Nós estamos com 20 fiscais porque a lei é antiga. Hoje era para ter, na verdade, 29 fiscais, porque estamos com quase 290 mil habitantes. Também mandei pra Câmara de Vereadores, para a gente trazer mais fiscais.

 

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“Peguei ele moendo sebo, sebo com fígado”

 

Existe a possibilidade de alimentos, quando não deteriorados, serem doados ou aproveitados?

Silvio: Você vai ter que fazer uma análise no laboratório, que é o Lacen. Mas onde é que eu vou guardar essa mercadoria até o resultado da análise? Quem vai dar o termo: pode comer? Eu, na hora, não posso dar. Teria que pegar uma amostra, mandar para o Lacen, vai demorar quantos dias lá? Uma semana?! Onde é que eu vou guardar? Foi jogado nos últimos dias aí, de segunda-feira para cá, 42 toneladas de alimento fora. Não só da vigilância, mas do Ibama e com o Mapa, onde foram apreendidas 30 toneladas de peixe, e semana passada foram mais quatro toneladas de pescado também. Não se tem uma segurança de que os alimentos são próprios para o consumo. E nem para a ração animal a gente pode doar. Se acontece alguma coisa com o cachorrinho lá na frente, vamos responder também...

 

“Ele moeu o sebo e o fígado era para dar cor no sebo. Ele fazia carne moída de sebo”

 

Quais são as principais orientações da Vigilância para os consumidores identificarem irregularidades em estabelecimentos que vendem alimentos e como formalizar uma denúncia?

Silvio: A denúncia pode ser feita pelo Whats, no telefone (47) 99985-1341. Pelos canais de e-mail visa-itajai.sc.gov.br ou na ouvidoria, ouvidoria.itajai.sc.gov.br nos telefones 0800-646-4040 e no telefone 3508-0755. [E o que se deve observar no comércio que pode servir como alerta?] Eu oriento a olhar a limpeza, já é o indício.... Conferir a data de validade no produto. A gente orienta, também, quando o produto está próximo do vencimento, a fazer uma ponta de gôndola, informando: produto vai vencer dia tal e vai ser um produto vendido mais em conta.... A gente já pegou dono de restaurante comprando dessa ponta, vai vencer em três dias, mas ele vai usar em quanto tempo? Em 15 dias? Só que o produto já venceu, tirou do pacote, já venceu. Acontece muito em restaurante isso. 

 

“Antes tinha produtos vencidos, mas os fiscais estavam oprimidos”

 

Quais cuidados os consumidores devem ter ao comprar produtos na praia? 

Silvio: A gente fez uma fiscalização na praia e é feio. Uma senhora que faz churros, ela tinha seis vendedores. Ela pegava os churros, fritava e eles iam vender em Cabeçudas. Esse pessoal que vai vender, alguns são até de situação de rua. Era uma bandeja com caninho de esgoto, aquele de PVC, com o produto. A gente foi lá, orientou ela duas, três vezes, no fim não deu, fechamos porque não tinha condições. Total era a falta de higiene. O que a gente orienta é ver onde você compra o produto, porque tem barzinhos na praia de Cabeçudas muito bons, limpos. Essa senhora, a gente abriu o carro dela... Ela tinha churros enrolados em panos velhos, camisetas. Ela ia fritando e jogando lá dentro, para quando eles chegassem enchessem de novo. Tinha um piá vendendo churros, que ele pegava e ia lambendo os churros....

 

“A população pode ficar tranquila que a vigilância sanitária está em cima e a gente vai fiscalizar todos os comércios e de todos os bairros”

 

Por que os moradores dos bairros Cordeiros e São Vicente ainda sofrem com o cheiro vindo das empresas de farinha de peixe?

Silvio: A partir de semana que vem a gente vai trabalhar em cima. Mas parece que a peça de uma máquina tinha quebrado, onde estava saindo esse cheiro mais forte na empresa Farol, a antiga Kenia. Também vamos fazer uma fiscalização no presídio da Canhanduba. Olhar cela, refeitório feminino e masculino, olhar tudo... 




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