VÍDEO NAS REDES
Guarda municipal denuncia operação que prendeu Glauco Piai como “política”
GM diz que detenção foi “orquestrada”; prefeito e secretário rebatem afirmando que Kirsten faz campanha pra Juliana
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
O guarda municipal Euclides Kirsten, de Balneário Camboriú, gravou um vídeo acusando o secretário municipal de Segurança Pública, Gabriel Castanheira, e o prefeito Fabrício Oliveira (PL) de “uma armação política” na prisão do empresário Glauco Piai, de 53 anos, que foi detido com R$ 100 mil em dinheiro e que supostamente alimenta o caixa 2 da campanha de Leonel Pavan e de Juliana Pavan (ambos do PSD).
Glauco Piai foi acusado em mídias de áudio e texto entregues ao jornal Folha de São Paulo e aos quais o DIARINHO teve acesso, de ser um “lobista” que repassaria dinheiro para um suposto esquema de caixa dois na campanha de Leonel e Juliana, em troca de futuros contratos com as prefeituras de Balneário Camboriú e Camboriú. Ele foi detido pela Guarda Municipal de BC no dia 23 de setembro, mas prisão só veio a público através de uma notícia publicada no DIARINHO no dia 27 de setembro.
Segundo o relato do GM Kirsten, que integra a Guarda Municipal há cinco anos, na tarde de 23 de setembro ele foi orientado pelos superiores a abordar uma Land Rover supostamente envolvida em um assalto ocorrido em Brusque. A operação da GM foi realizada na avenida do Estado Dalmo Vieira. “Chegando lá, percebi uma orientação diferente. Realizamos a abordagem e, a poucos metros, estava o secretário Castanheira, o que achei estranho, já que ele normalmente não participa desse tipo de ocorrência. Fomos preparados para lidar com uma situação de alto risco [assalto], mas não foi isso que encontramos”, relatou o guarda em um vídeo que circula nas redes sociais.
Kirsten narrou no vídeo que Glauco Piai não estava armado, mas portava R$ 100 mil em dinheiro dentro do veículo. “Após a abordagem, percebi que, na verdade, se tratava de uma armação política ordenada pelo prefeito Fabrício Oliveira e pelo secretário Castanheira”, acusa o GM. Nossa GM foi manipulada para fazer manchetes de jornal, usada para uma emboscada com fins eleitorais. Não havia arma, não havia risco. Fomos usados para um golpe”, continuou Kirsten.
Cancelou entrevista
O GM Kirsten conversou com o DIARINHO pelo WhatsApp. Ele aceitou falar com a reportagem pessoalmente, mas após marcar a entrevista, desmarcou alegando um imprevisto. No vídeo que circula nas redes, ele declarou que a detenção de Glauco foi “manipulada e que sua vida, carreira e família foram ameaçadas por causa da situação”.
Kirsten registrou um boletim de ocorrência no dia 3 de outubro, relatando ameaças que teria recebido do secretário e de outros guardas municipais.
Ao DIARINHO, Castanheira negou que tenha participado da ocorrência da prisão de Glauco. “Eu fui comunicado porque era uma denúncia de roubo. Quando cheguei ao local o carro já tinha sido abordado e estava tudo sob controle, não opinei em nada, mas eu participo frequentemente de operações”, alegou. O secretário também falou que o GM Kirsten é um apoiador da candidatura da família Pavan.
O secretário negou as denúncias de que a GM teria vazado conversas do celular de Glauco Piai por “interesses políticos”. “Isso não faz sentido. A GM encaminhou ele [Glauco] para a delegacia, e o telefone dele foi entregue imediatamente. Toda a ocorrência foi filmada”, rebateu o secretário.
Fabrício acusa GM de estar fazendo campanha
O prefeito Fabrício Oliveira também falou com o DIARINHO nesta sexta-feira sobre a acusação de “uso político da GM”. Para Fabrício, o GM Kirsten é um apoiador da campanha da candidata a prefeita Juliana Pavan (PSD). O prefeito enviou uma foto à reportagem, mostrando Kirsten participando de um ato de campanha de Juliana. “Ele não está agindo como GM, mas como um apoiador da Juliana”, afirmou o prefeito.
Fabrício também disse que todas as declarações de Kirsten no vídeo que circula nas redes serão apuradas administrativamente. Ele afirmou ainda que não teve conhecimento da prisão de Glauco Piai até que a notícia começou a circular nas redes sociais e afirma que nunca conversou com qualquer membro da GM sobre a prisão do suposto lobista.
A comandante da GM de Balneário Camboriú, Thais Baruffi, não respondeu aos questionamentos do DIARINHO até o fechamento desta matéria.
Entenda o rolo
Mensagens vazadas do celular de Glauco Piai sugerem um suposto esquema de loteamento de futuros contratos das prefeituras de Balneário Camboriú e Camboriú. Segundo as mídias divulgadas, R$ 1,1 milhão teria sido transferido via Pix da conta da Traccia Construtora, empresa de Glauco com sede em Itajaí, para as contas pessoais de Leonel Pavan e da Leone Construtora que pertence a família Pavan.
Pavan afirma que os valores recebidos são referentes à venda de um terreno e que a Leone está recebendo parcelas mensais de Piai desde o início do ano. Ele não revelou o valor das prestações ou detalhes sobre a negociação terreno, mas diz que tudo está declaro no seu Imposto de Renda. Para Pavan, a prisão de Piai foi uma armação política para tentar atingir a sua campanha e a da sua filha.
"Fui vítima de trama", diz Pavan
Pavan esteve no DIARINHO na sexta-feira para rebater as denúncias de que estaria envolvido em um esquema para lotear futuros contratos das prefeituras de Camboriú e BC em troca de dinheiro. Ele classificou as denúncias como uma "trama" articulada por seus opositores para tentar reverter o resultado das eleições.
"Ainda hoje vou dar uma coletiva, mais ou menos sobre esse material que me mostraram hoje. Sobre falsidade, mentira, espionagem, coisas ilícitas, uma trama! É lamentável que alguém que fala em Deus, pátria, família e liberdade faça isso. É lamentável", declarou Pavan, que suspendeu a coletiva anunciada para a tarde de sexta.
Ao DIARINHO, Pavan alegou que mantém um contrato com Piai referente à venda de um imóvel, e que estaria recebendo parcelas mensais dessa negociação até a quitação do valor. Pavan não revelou o valor das prestações e nem qual imóvel vendeu. "Está tudo na minha declaração de Imposto de Renda", afirmou.
Pavan também negou que Glauco ou empresários tenham influenciado o plano de governo de sua candidatura ou da candidatura de sua filha como sugerem os áudios vazados. "Nosso plano de governo nunca foi construído por outra pessoa que não a minha equipe, ouvindo os vereadores. O plano, que tem 55 itens, foi elaborado a partir das sugestões da comunidade trazidas pelos vereadores", explicou.
Além disso, o candidato desmentiu qualquer intenção de nomear Glauco Piai como secretário em sua eventual administração, conforme afirmavam áudios vazados. "Nunca pensei nisso. Aliás, soube que ele já estava nomeado, que esse Glauco era nomeado em Itajaí, na Itajaí Participações, algo assim. E, numa gravação, ouvi que ele frequenta o Clube Itamirim. O próprio Glauco disse que o seu motorista foi indicado por um amigo, o Robison [Coelho]", acrescentou.