“Caso comprovado o risco da falta do insumo, é possível alterar a ordem de atracação dos navios”, afirmou a administração em nota de esclarecimento. Segundo o porto, a comprovação de risco deve ser feita por certidão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que, até o momento, não indica desabastecimento de fertilizantes. O porto destacou que atende vários segmentos, mas que os fertilizantes têm atracação preferencial.
Até quinta-feira, seis navios com o produto aguardavam desembarque, segundo o porto. Os importadores ressaltam que a situação é crítica e que a fila pode chegar a 20 navios se o terminal não agilizar as descargas. A preocupação do setor é que o plantio de soja e outros cultivos, que dependem dos adubos, começa em 15 de setembro.
O porto informou que o tempo médio de espera de navios de fertilizantes é de 12 dias, mas em julho a demora aumentou para 17 dias devido às condições climáticas. Em terminais portuários que trabalham com carga geral, como granéis, fertilizantes e aço, como o de São Francisco do Sul, as atividades são paralisadas em dias de chuva.
“Nos meses de julho e agosto de 2024, houve grande incidência de chuvas no Norte de Santa Catarina, além de uma extraordinária neblina que persistiu por vários dias, o que ocasionou a suspensão das cargas e descargas de todas as mercadorias, causando maior espera na atracação”, explicou a administração do terminal.
Apesar das condições adversas, o porto comparou que a média de espera no primeiro semestre de 2024 foi três dias menor que em Paranaguá, que registrou média de 15 dias para os cargueiros de fertilizantes, conforme dados da Antaq.
Preferência pra fertilizantes
O Porto de São Francisco do Sul possui norma favorável ao segmento de fertilizantes, que garante a atracação preferencial de três navios seguidos deste tipo de carga para um navio com outra mercadoria. O produto responde pelo segundo maior volume das importações do terminal, com 1,3 milhão de toneladas em 2024, atrás de materiais siderúrgicos (1,9 milhão de toneladas), como o aço, destinado ao mercado nacional.
A preferência para os fertilizantes é questionada pela Fiesc, que entende que a norma prejudica a indústria metalúrgica, afetando o abastecimento de aço para empresas de Santa Catarina e de outros estados. Ainda em julho, a entidade pediu à Antaq a revisão da norma em vigor desde 2022. O pedido está em análise.
O Porto de São Francisco do Sul tem três berços públicos e outros quatro arrendados. Dois dos berços públicos recebem fertilizantes, e o terceiro é exclusivo para cargas de grãos. A administração explica que alguns importadores de fertilizantes têm enviado cargas em navios maiores que 200 metros, o que limita a entrada no berço para cargueiros até 229 metros, provocando demora na atracação.
O outro berço (201) atualmente opera apenas com navios de até 200 metros. O porto projeta obras de recuperação para que o cais receba navios maiores, até 225 metros, mas, no momento, um grupo de trabalho com os operadores portuários discute a necessidade de reforço na estrutura para os guindastes gigantes. O edital era previsto para o final de setembro, mas se o reforço for incluído no projeto, o prazo será estendido por 90 dias.
Operação em alta
Embora os fertilizantes tenham somado 12% do volume movimentado pelo Porto de São Francisco do Sul no primeiro semestre de 2024, nas primeiras duas semanas de agosto os navios com o produto responderam por 43% das 14 embarcações que atracaram nos três berços públicos. Foram seis navios com a carga contra oito de outras mercadorias.
A importação de fertilizantes pelo porto está em alta. No primeiro semestre, houve aumento de 13% nas cargas em relação ao mesmo período de 2023. Só em junho, foram recebidas 310 mil toneladas do produto, 75% a mais que em junho de 2023, quando foram descarregadas 177 mil toneladas.
Representantes da Associação Catarinense dos Importadores de Adubos estiveram em Brasília (DF) discutindo com o governo federal soluções para a descarga de adubos em São Francisco do Sul e a entrega aos agricultores. Na semana que vem, a entidade pretende realizar uma reunião com o governador Jorginho Mello (PL) para evitar que a fila de navios aumente.