Uma brincadeira diferentona que rende correria, gritaria, fogos e partes ardidas com gosto de azedo, muitas vezes, na boca ou nos olhos. Assim é a “Guerra dos Limões”, que mais uma vez marcou a passagem da Sexta-feira Santa para o Sábado de Aleluia em Barra Velha.
Moradores de dois bairros diferentes se “enfrentam”, tacando limões uns nos outros, um de cada lado do viaduto de acesso ao bairro Sertãozinho; do outro lado, fica a turma da “Reta”, ou ...
Moradores de dois bairros diferentes se “enfrentam”, tacando limões uns nos outros, um de cada lado do viaduto de acesso ao bairro Sertãozinho; do outro lado, fica a turma da “Reta”, ou melhor, da Vila Nova, na rua Paraná. A rivalidade acaba em gargalhadas.
A tradição vem com a Páscoa, segundo os antigos. A contagem, entretanto, iniciou há 47 anos, segundo o comunicador, técnico de som e narrador esportivo Jony Borba, nascido e criado no Sertãozinho.
Segundo ele, por muitos anos a “Guerra dos Limões” recebeu advertência da PM, porque alguns dos participantes não entendiam o tom da brincadeira e acabavam causando vandalismo. Não foi o que aconteceu neste ano.
Jony acredita que a brincadeira deve ser mantida. “É uma grande brincadeira, ninguém aqui aprova o vandalismo, porém a brincadeira de jogar limões uns nos outros acaba sendo uma grande diversão e a criançada na época da Páscoa já espera. Muitos confeccionam o boneco de Judas”, explicou.
O comunicador observou que no caso desta Sexta-feira Santa, as crianças da rua Alfredo Bento de Borba, no Sertãozinho, já estavam em suas casas, a postos. Borba foi com seu carro de som, narrando de forma empolgada a disputa pela fictícia “Rádio Cipó”.
Ninguém sabe ao certo quem “ganhou”, já que os pelotaços na cabeça da galera não são contados; mas de acordo com Jony, muitas “limonadas” foram dadas no corpo da criançada. Ele mesmo cuidava do trânsito durante a brincadeira.
“É uma tradição de Páscoa e encanta e envolve quem acaba virando uma espécie de folião dessa festa”, explica o professor e historiador Cacá Fagundes. “De um lado, o comandante Jony; do outro, o comandante Berê”, citando o popular Berê, da Vila Nova, também adepto da disputa. Nas décadas de 60 a 80, a atração tinha a famigerada farra do boi, mas a judiação já não existe mais, pois é crime.
“Olha, eu não tinha participado ainda, mas é interessante porque muita gente não conhece essa tradição. Eu levei uma pelotada, mas acho que também acertei alguém”, contou Thiago Costa Damázio, estudante de Araquari.
Segundo Jony, todos os anos a criançada espera e vai guardando os limões. Neste ano, caixas d’água em PVC acondicionaram os limões tacados nos adversários. “Ela lembra uma guerra de travesseiros na verdade, só que pode dar um certo ardume", finaliza.