MEIO AMBIENTE
O que é o e-Fuel, a aposta do momento no mercado de combustíveis sustentáveis
Ele é considerado o substituto mais limpo para a gasolina
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Na corrida pela transição energética, novas opções sustentáveis surgem a cada dia e tiram a supremacia dos derivados de petróleo. A aposta do momento é o e-Fuel, um combustível sintético, com aspecto transparente e cheiro semelhante ao etanol, que pode abastecer carros, navios, aviões, entre outros veículos movidos por motores à combustão, com pouca ou mínima emissão de carbono na atmosfera. É considerada hoje a gasolina mais limpa que entra em operação no mundo.
A vantagem dos combustíveis sintéticos é que o CO2 utilizado em sua produção é extraído de biomassa, de fontes industriais ou retirado da atmosfera. Ou seja, o CO2 gerado pelo do e-Fuel é considerado neutro, já que não contribui para o aumento das emissões de gases de efeito estufa.
Continua depois da publicidade
No entanto, o professor Rafael Catapan, coordenador do Laboratório de Combustão e Catálise Aplicadas do Campus Joinville da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que, para ser sustentável, a produção desta gasolina sintética deve ser feita sem a utilização de insumos de origem fóssil. “Precisa ter como matéria-prima apenas água, CO2 não fóssil e energia elétrica renovável: eólica, solar ou hidráulica”, pontua o professor. O processo funciona com base em eletrolisadores, responsáveis por dividir a água em oxigênio e hidrogênio. “A partir daí, o dióxido de carbono capturado é filtrado e combinado com o hidrogênio da água para produzir o e-Fuel.”
O especialista compara o e-Fuel ao SAF (Combustível Sustentável de Aviação, na tradução livre), substituto natural do querosene de aviação, porém, derivado de biomassa, resíduos ou mesmo hidrogênio e CO2. Isso faz com que sua pegada de carbono seja até 80% menor em relação ao similar de petróleo. Outro ponto importante é que esses combustíveis reduzem outras emissões nocivas, como os compostos de enxofre.
Continua depois da publicidade
Outra vantagem do desenvolvimento e uso tanto do e-fuel quanto do SAF é a infraestrutura já bem estabelecida para transporte e armazenamento de combustíveis líquidos, o que se contrapõe à grande demanda de infraestrutura para alternativas como hidrogênio ou eletrificação.
Descarbonização é meta a curto prazo
A professora e pesquisadora Regina Peralta Muniz Moreira, pós-doutora em Química e docente do campus de Florianópolis da UFSC, vê os e-combustíveis como a grande alternativa em substituição aos combustíveis fósseis. “Ainda que o hidrogênio tenha que ser produzido para depois fazer a reação com o dióxido de carbono, eles têm propriedades semelhantes às dos combustíveis fósseis e contribuem para a descarbonização.”
A professora ressalta que na Europa a legislação exige que até 2035 os novos automóveis não poderão mais emitir CO2 e que os e-Fuels e biocombustíveis serão a saída mais imediata, ao lado dos veículos elétricos. “Existem grandes empresas apostando muito nesse setor. Porsche, Audi e Siemens Energy, por exemplo, estão investindo em um grande projeto piloto no Chile (o HIF - Highly Innovative Fuels) e essa deverá ser a primeira planta comercial integrada em escala industrial no mundo, com impacto neutro no clima.”
O projeto recebeu um aporte de US$ 260 milhões e durante a fase piloto atual e a HIF iniciou oficialmente a produção do e-Fuel no final do ano passado. A expectativa é alcançar durante a fase piloto uma produção de cerca de 130 mil litros da gasolina sintética por ano.
O Chile foi escolhido para iniciar o projeto por contar com condições ideais para a produção do combustível sintético, uma vez que a região tem ventos que sopram durante cerca de 270 dias por ano – o que permite manter as turbinas eólicas em plena capacidade.
Continua depois da publicidade

Brasil no páreo
O Projeto de Lei 4516/23 traz medidas para estimular o uso de combustíveis sustentáveis no setor de transportes, como o diesel verde e o aumento do teor de etanol na gasolina. O PL estabelece que a ANP também irá regular a produção e distribuição dos combustíveis sintéticos (conhecidos como e-Fuel), como sua qualidade e uso.
O projeto do Combustível do Futuro, como o governo o vem chamando, tramita em regime de prioridade e aguarda despacho para análise das comissões da Câmara dos Deputados.