chuvas que fecharam o canal de acesso ao Completo Portuário de Itajaí durante 18 dias em outubro ainda causam prejuízos a operadores logísticos. Navios com cargas de contêineres que deveriam atracar nos terminais do complexo portuário de Itajaí tiveram as rotas desviadas para outros portos e seguem aguardando a liberação. Para piorar, o calado necessário pra garantir a retomada plena da operação no rio Itajaí-açu está inadequado.
As empresas que trabalham com importação revelam que a situação mais grave é a falta de liberação das cargas no Porto de Imbituba, que está colapsado por causa sobrecarga nas operações. “As cargas que eram para desembarcar em Itajaí e em Itapoá foram desembarcadas em Imbituba. Mas Imbituba não tem estrutura para receber tantos contêineres. Eles estão liberando as cargas lentamente e cobrando armazenagem nesse período todo”, explica a gerente de uma trading company, que preferiu não divulgar o nome.
A espera, segundo a denunciante, chega a 30 dias. Ela explica que normalmente Imbituba recebe 5 mil contêineres ao mês, mas no período de mais de duas semanas em que o porto de Itajaí ficou fechado, Imbituba chegou a receber 7 mil contêineres em uma semana – uma movimentação incompatível com a sua capacidade de operação.
“Os produtos que temos lá são resinas para a indústria plástica. Em uma operação normal, por contêiner, temos o custo de R$ 1800 e um tempo de operação de 7 dias, desde a chegada do navio até a retirada da importação. Somente nesses processos, tivemos quase R$ 30 mil a mais de custos. Fora os custos indiretos, como a produção parada e a quebra de contrato de fornecimento...”, explicou.
Egidio Martorano, presidente da Câmara de Transporte e Logística da Federação da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), informou que a federação ainda não tem um levantamento do tamanho do prejuízo. “Foi uma movimentação abrupta para o porto. A operadora não estava preparada em termos de equipe, equipamentos e estrutura. A indústria sofre as consequências com o atraso de entrega de suprimentos e com os custos logísticos desta operação emergencial, além de atrasos na expedição, na entrega, os custos de armazenagem, entre outros problemas”, analisou.
Serviço de dragagem deixa portos na mão
O serviço de dragagem contratado em caráter permanente pela superintendência do porto de Itajaí para manter o calado do rio Itajaí-açu no limite de profundidade não está atuando nas últimas semanas. A previsão é de que a draga chegue à cidade nesta terça-feira. O rio Itajaí-açu tem pontos de calado em 10 metros de profundidade quando o ideal para a operação segura de contêineres é de 14 metros.
Fábio da Veiga, superintendente do Complexo Portuário de Itajaí, justifica o problema dizendo que o serviço só poderia iniciar após a velocidade da correnteza do rio se estabilizar. “Agora que a gente está conseguindo atingir esses padrões, a empresa de dragagem está finalizando as questões burocráticas para trazer essa draga de Santos para cá. Deve chegar aqui na terça-feira”, justificou.
A operação com a draga autotransportadora, do tipo Hopper, a HAM 316, pode demorar até quatro semanas para deixar novamente o calado em 14 metros. “Hoje nós estamos com 13,60 de profundidade e em virtude de alguns pontos apresentarem um assoreamento maior, foi criada uma folga abaixo da quilha, ou seja, uma determinação que o navio possa entrar ou sair com menos cargas e consequentemente com menor profundidade. O trabalho da draga vai tardar de três a quatro semanas para deixar o rio novamente no calado ideal,” disse Fábio à reportagem do DIARINHO.
“Portos do sul estão no limite da capacidade operacional”, analisa secretário
O secretário-adjunto de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Robson Coelho, informou ao DIARINHO que o governo do estado tenta resolver o problema, e que a Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq) também acompanha a situação.
“Com o fechamento da barra do Porto de Itajaí, a grande maioria de cargas migrou para Paranaguá e uma parte foi pra Imbituba. Era muito claro que o Porto de Imbituba não tinha condições operacionais de receber essa carga, mas o armador não tinha opção. Por decisão única e exclusiva do armador, alguns navios migraram para Imbituba. Eles estavam cientes, por exemplo, que o porto tinha limitação operacional”, analisa Robson.
O porto de Imbituba trabalha com carga geral, granel líquido, granel sólido, e tem um único terminal privado que opera contêiner, o Santos Brasil. “Esse terminal não operava com cargas de longo curso, apenas cargas de cabotagem. Eles estavam operando cerca de 700, 800 contêineres por semana e de uma hora para outra receberam quase 10 mil contêineres. Eles tiveram no primeiro momento a retenção de cargas por problema do Mapa, que não tinha efetivo para trabalhar naquela demanda de cargas de longo curso para exportação”, explicou Robson. “Também tivemos problemas com a demanda de Receita, a secretaria participou ativamente para que a Receita Federal pudesse atender na liberação de cargas”, completou.
O atraso também ocorreu por problemas de integração do sistema do Mapa e da Receita. “Naquela primeira semana eles estavam movimentando uma média de 50 contêineres, hoje estão movimentando 150 contêineres por dia, mas ainda é muito baixo. A nossa expectativa é de no mínimo 300. Se tivesse 300 por dia em duas semanas, a gente conseguiria dar fluxo para a vazão dessas cargas. Mas como é um terminal privado, o que a gente pode fazer é cobrar”, ponderou.
No limite
O secretário-adjunto lembra que cenário semelhante acontece no Porto de Paranaguá. “Nós temos mercadorias que ainda não chegaram e não foram liberadas em Paranaguá. Em Paranaguá nós estamos conseguindo liberar 55 senhas de DTA [declarações de transportes aduaneiros], que são as declarações de transporte. O governo do Estado conseguiu manter os benefícios fiscais para as empresas que trouxeram de Paranaguá para desembaraçar aqui”, explica.
Robson conclui dizendo que que todos os portos do sul do Brasil já operam próximos ou no limite operacional. “Já estávamos próximos do limite operacional, quando o Porto de Navegantes opera normalmente, mas no momento ainda está operando com limitações. Isso pelo programa do calado e do serviço de dragagem”, explica.