Itapema
Paciente acusa clínica de internação forçada e cárcere privado
Vídeos mostram o homem sendo conduzido à força por supostos funcionários do local
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
F. S., de 41 anos, denuncia que foi vítima de internação compulsória, cárcere privado, coação e trabalhos forçados em uma clínica de reabilitação de alcoólicos e dependentes químicos, no bairro Meia Praia, em Itapema. O paciente diz que foi levado à força por funcionários da clínica, que se autodenomina um spa terapêutico. O local fica entre as Segunda e a Terceira avenidas. O caso foi registrado na delegacia de Polícia Civil e denunciado à 2ª Promotoria de Justiça de Itapema.
O paciente conta que o “tratamento” teria sido encomendado por sua ex-companheira, com quem está discutindo judicialmente a partilha de bens e o valor de pensão. “Vivi os piores dias da minha vida”, alega. O vídeo mostra a abordagem. O paciente narra que foi retirado à força de uma loja de conveniência por três homens. A internação foi na tarde de 25 de março. O paciente foi levado em um carro e teria permanecido na clínica, impedido de sair, por mais de um mês.
“Chegamos na clínica e eles me jogaram num quarto totalmente fechado onde tinha apenas um colchão. Tiraram meu telefone celular e me fizeram tomar um medicamento que me fez apagar por quase um dia”, relata. F. diz que ficou internado no local até o dia 28 de abril e que só saiu de lá porque conseguiu enviar um bilhete para um amigo, através de um paciente que estava saindo.
“Durante todo esse tempo eu só recebia visitas da minha ex-mulher, que ficou com meu telefone e também obteve as senhas da minha conta bancária, que fui obrigado a fornecer sob coação”, afirma. O homem conta que durante todo o tempo que ficou na “clínica” teve apenas uma consulta online com o psiquiatra, que foi obrigado a fazer “trabalhos domésticos” e que a comida era racionada. “Perdi mais de 15 quilos lá”, continua.
Segundo F., o local não tem as mínimas condições de funcionar como clínica e abriga em média 25 pessoas. “A maior parte são dependentes químicos, além de dependentes de álcool e pessoas com deficiência mental, que não recebem nenhum tipo de atendimento especializado. Eles não têm nem enfermeiras”, acrescenta.
Vão responder à justiça
Procurado, o escritório de advocacia que representa F. informa que a clínica já foi acionada e negou que o paciente tenha sido internado compulsoriamente, alegando que ele procurou a clínica de livre e espontânea vontade. “No entanto, o vídeo mostra o contrário, o que comprova as acusações de nosso representado”, disse um dos advogados que cuida do caso. Tanto o estabelecimento, quando a pessoa que teria solicitado a internação, podem responder civil e criminalmente.
Já a clínica não fala sobre o caso. “Não temos autorização para passar informações de pacientes. Qualquer informação, converse com a família dele”, disse a funcionária que recebeu a mensagem. Questionada, ela também não informou se o local tem quadro clínico especializado.