Prefeituras e estado anunciam planos de segurança; especialistas alertam para o "simplismo" das medidas
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Redes municipais terão segurança armada; governo estadual chamará policiais aposentados
(foto: João Batista)
Redes municipais terão segurança armada; governo estadual chamará policiais aposentados (Foto: João Batista)
Guardas municipais também estão atuando nas escolas (Foto: Divulgação)
PM faz rondas em escolas enquanto outras medidas são discutidas (Foto: Divulgação)
As prefeituras da região e o governo de Santa Catarina anunciaram medidas emergenciais para a segurança em escolas e creches públicas. Em Itajaí, iniciaram as rondas e deve ser contratada segurança armada pra todas as escolas. Em Balneário Camboriú, além de rondas, foi criada uma capacitação de professores e gestores da rede particular e um grupo que reúne membros das escolas e das forças de segurança.
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Ações semelhantes foram adotadas em outras cidades da região, prevendo contratação de vigilantes, melhorias físicas nas escolas e ampliação do monitoramento por câmeras. Na rede pública ...
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Ações semelhantes foram adotadas em outras cidades da região, prevendo contratação de vigilantes, melhorias físicas nas escolas e ampliação do monitoramento por câmeras. Na rede pública estadual, o governo anunciou a presença de segurança armada em todas as unidades e criou um comitê de operações integradas para avaliar as ações e estudar novas medidas.
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Em Itajaí, a prefeitura pretende contratar emergencialmente profissionais de segurança, a partir de levantamento da secretaria de Educação que vai apontar a quantidade de agentes necessária e o custo do serviço. A prefeitura também avalia as condições das escolas para listar os locais que precisam de muros e cercas. Enquanto isso, as unidades recebem rondas da Guarda Municipal e da PM.
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Em Balneário Camboriú, foi criada a Comissão de Segurança Escolar pra discutir e planejar outras ações além das rondas. O município discutiu as medidas com representantes de escolas particulares. As unidades passarão por avaliação da estrutura física e os professores e gestores receberão capacitação da Polícia Militar.
O governador Jorginho Mello (PL) disse que as medidas de segurança nas escolas vão custar R$ 70 milhões. O estado quer segurança armada em cada uma das 1053 escolas estaduais. Para isso, serão recrutados policiais civis ou militares e bombeiros aposentados. As medidas preveem ainda o treinamento de professores para emergências.
Medo coletivo
O cientista político Sérgio Saturnino analisa que as medidas anunciadas pelos governos são importantes, mas insuficientes para aplacar o medo que esses massacres em escolas provocam nas pessoas.
“Guardas e vigilantes servem para causar sensação de proteção [não necessariamente de segurança]. Por si só este “recado social” é importante, mas isso não muda o medo como sensação. Isso tudo revela a sociedade de medo”, comenta.
Para o pesquisador, embora os políticos-gestores tentem se mostrar como “heróis” pelas decisões tomadas, eles revelam despreparo no planejamento de segurança ao recorrerem a medidas simplistas.
Saturnino também considera que manifestações de protesto não trazem resultados melhores, apesar de servirem como desabafo coletivo. “É fundamental atuar com planejamento de longo prazo articulado em educação”, defende.
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Enquanto isso, Saturnino ressalta que o medo continuará a ser o “vento da rua”. “O guarda, o vigilante e os sistemas eletrônicos não serão capazes de gerar a paz social necessária para se caminhar nas ruas. Têm a função de nos proteger, porque estamos com medo”, afirma.
Medidas não podem ser isoladas, alerta Sinpro
Adércia diz que guarda armada nas escolas não pode ser uma medida provisória
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A coordenadora do Sindicato dos Professores de Itajaí e Região (Sinpro), Adércia Hostin, avalia que a presença de guarda armada nas escolas é uma medida importante, mas não pode ser provisória, apenas porque aconteceu o ataque em Blumenau. Ela ainda observa que só tratar a segurança não resolve o problema, pois entende que a questão da violência passa por outras áreas.
“Uma medida isolada não vai dar conta de tudo. É muito importante, mas diante do que está colocado, várias outras coisas precisam ser tratadas com urgência e elas não podem ser por um período, mas fazer parte do cotidiano da escola”, comenta. Adércia ressalta que a situação atual vem após uma fase de falta de debates dentro das instituições e que precisam ser retomados pela comunidade escolar.
Ela cita que projetos como “Escola Sem Partido”, que cerceava a liberdade de cátedra do professor, inviabilizaram discussões democráticas dentro das escolas, prejudicando medidas de enfrentamento à violência. “A escola precisa ser um espaço aberto, democrático, onde a gente consiga compreender o ponto de vista do outro”, opina.
Adércia destaca que a rede privada também entra nesse debate. O Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina (Sinepe-SC) informou que está recomendando às unidades que avaliem suas estruturas físicas pra identificar e corrigir eventuais vulnerabilidades, bem como haja revisão do sistema de controle de acesso, principalmente de não alunos.
O sindicato ainda pede a revisão do sistema de monitoramento por câmeras e que as escolas busquem um canal de rápido contato com a PM e Guarda Municipal em cada cidade. Outra orientação é que os colégios avaliem com critérios técnicos a aplicação de sugestões enviadas pela comunidade escolar.
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Ações de curto prazo podem mascarar a violência
Marisa lembra que falta dinheiro até para reformar escolas
A professora universitária e doutora em Educação, Marisa Zanoni Fernandes, comentou que a busca de alternativas e respostas contra a violência que invadiu as escolas é urgente, mas não uma novidade. Segundo analisa, em muitos casos os governos só são mobilizados pelas tragédias.
“As medidas anunciadas podem, nesse cenário, serem paliativas e até mesmo mascararem a realidade violenta em que a sociedade como um todo está mergulhada. A escola é vítima dessa violência sistêmica”, considera. Marisa criticou que os municípios, seguindo a “toada” do governador, logo se apressaram em discutir protocolos de segurança e mobilizar policiais armados.
“Fico imaginando como isso deve ser ainda mais assustador para as crianças e para os professores. Como nos sentiríamos com um policial armado na porta da nossa casa?”, reflete.
Diante do aparato e recursos destinados pro policiamento de escolas, Marisa lembrou que há dias o Ministério Público teve que pedir à justiça o bloqueio de dinheiro pra reforma de escolas estaduais e que o piso do magistério até hoje é negado por prefeituras como Balneário Camboriú, sob alegada falta de condições financeiras.
“Cito apenas essas duas situações para refletirmos sobre como a escola, de modo geral, tem sido alvo de descaso, de negligência, e isso tem fragilizado também os processos de segurança”, opina a educadora. “Segurança é uma questão que deve ser pensada de modo perene e as experiências que geram segurança passam longe das armas tanto na escola como na sociedade”, completou.
Medidas na região
Itajaí
Rondas escolares até a contratação de segurança armada, melhorias na estrutura física, câmeras de reconhecimento facial na entrada das escolas e botão de pânico
Balneário Camboriú
Rondas escolares, capacitação de professores e gestores, vistoria nas escolas para obras de melhorias na segurança, discussão de medidas nas escolas particulares
Balneário Piçarras
Rondas até a contratação de guardas pra todas as escolas e creches
Penha
Contratação de vigilantes, ampliação do monitoramento por câmeras, totens de segurança e criação da Secretaria de Segurança
Navegantes
Restrições de acesso nas escolas, rondas, instalação de câmeras e estudo pra contratação de guardas fixos nas unidades
Porto Belo
Instalação de cercas e a aumento da altura dos muros nas escolas e creches, reforçando monitoramento presencial e por câmeras
Itapema
Rondas com guardas municipais, compra de detectores de metal, instalação de cercas e câmeras de reconhecimento facial, patrulhamento e mudanças no sistema de acesso nas escolas.
Camboriú
Avaliação das condições físicas das escolas para instalação de câmeras, novos portões de acesso e elevação de muros
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