Garçom na sinaleira
Márcio viralizou nas redes sociais vendendo água na rua através do pix
Beba primeiro, pague depois: o segredo do sucesso de Márcio Rodrigues
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Durante 19 anos, Márcio Rodrigues trabalhava na própria empresa, que prestava serviço para construtoras revendendo material de construção. Mas aí veio a pandemia e ele se viu, de um dia para o outro, sem condições de honrar os compromissos. Resultado: acabou na rua, revirou lixo para comer e chegou a tentar o suicídio. Até que um dia sentiu a presença de Deus e deu a volta por cima, mas sem abandonar a rua, só que desta vez como garçom de semáforo.
“Eu queria apresentar um trabalho diferenciado, oferecer uma água bem gelada e dar condições aos clientes de pagar depois, através do pix. Como as pessoas estão dirigindo e muitas vezes não tem como pegar o dinheiro antes do sinal abrir, facilita”, explica.
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Quando decidiu mudar de vida, procurou um pastor que conhecia em Peruíbe (SP), que lhe ofereceu um lugar para dormir. E, para pagar a pensão, foi vender bombons no trânsito. Mas por ser uma cidade pequena, que só tinha um semáforo, preferiu se mudar para Praia Grande. Na época, ele adesivou os bombons com pix e QR code. Começava ali a saga entre carros e motos, distribuindo gentilezas, adoçando a vida dos motoristas e matando a sede alheia.
“No começo fiquei constrangido em vender bombom na cestinha, mas aquela era a minha realidade. Eu sabia que tinha que começar por alguma coisa”. A ideia de se vestir de garçom surgiu quando tentava a vida em Santos, em 2021. Ele conta que uma moradora do prédio em frente à praia fez uma foto e a imagem do moço de sorriso largo e bem vestido vendendo água e viralizou. Márcio virou notícia nacional. Aí ele começou a pensar grande, mas desistiu de Santos por causa da violência.
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“Enchi o carro com fardos de água e me mudei para Balneário Camboriú, atraído pela prosperidade da cidade”. Ele veio com a namorada, que decidiu abandonar a vida pacata pela chance de um futuro diferente. “Quando eu a conheci, expliquei que não tinha nada, mas estava determinado a vencer. A família surtou, até porque sou negro, mas agora eles me aceitam”, conta.
3 milhões de visualizações no Tik Tok
Por causa do custo de vida em Balneário, Márcio mudou-se para o bairro São Vicente, em Itajaí, onde reside numa quitinete com Cleide, que é diarista. Diariamente ele chega às 8h na sinaleira ao lado do Colégio São José para garantir a vaga do carro, onde ficam as caixas de isopor com gelo e as garrafinhas de água. Ele vende em média 80 por dia, ao custo de R$ 4 no dinheiro ou pix, que pode ser feito depois do motorista chegar em casa. “Eu nunca me preocupei em levar calote. Tem gente que tira sarro de mim, diz que não devia confiar nas pessoas, mas quando eu checo os depósitos na minha conta, nunca tive prejuízo. Pelo contrário, até gorjeta”, revela.
Aliás, o vídeo em que mostra o extrato quilométrico com as vendas por pix caiu no gosto do Tik Tok. O clipe tem mais de 3 milhões de visualizações. No Instagram, os seguidores crescem a cada dia. Até o momento da reportagem, eram 27 mil.
Mas e quando o calorão acabar? Márcio vai vender maçã do amor. E para o futuro, quer lançar a própria marca de água e dar palestras, contando sua história. A primeira já está agendada para 16 de maio, ao lado da igreja Ágape. Lá ele vai interagir com empresários e divulgar seu modelo de marketing. “Eu sempre soube do risco de não exigir pagamento à vista, mas eu preferi acreditar nas pessoas como um dia acreditaram em mim”.