Polêmica em BC
Prefeitura bota asfalto na entrada de parque ecológico
Coordenadora do plano de manejo do parque diz que tem soluções mais sustentáveis
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
A aplicação de asfalto em um trecho do parque Raimundo Malta está gerando polêmica em Balneário Camboriú. Fotos mostram uma rua interna do parque, que abriga uma área remanescente de mangue e mata atlântica, com uma riquíssima fauna e flora, toda asfaltada.
Há também registros de uma árvore com o entorno todo asfaltado, restando somente a parte das raízes com terra. Especialista responsável pelo Plano de Manejo do parque, ouvido pela reportagem, explica que o asfalto não é a pavimentação mais indicada para o local.
A pavimentação foi executada na quarta-feira pela Secretaria de Obras a pedido da Secretaria de Meio Ambiente (Semam). A secretária Maria Heloisa Lenzi Furtado justifica que foram asfaltados somente 350 metros e que não houve necessidade de licença ambiental.
“A pavimentação foi feita em 350 metros no acesso à área técnica do parque. A obra era necessária para dar acessibilidade aos prédios públicos, inclusive pela quantidade de pessoas idosas que recebemos na fitoterapia. Vai ajudar a reduzir custos e diversos problemas que existem na rotina de manutenção do parque”, justificou a secretária.
Maria Heloisa explica que o parque possui mais de 17 hectares de área, sendo 100% permeável, e apenas o acesso à área técnica foi pavimentado, o que não representa nem 1% da sua área total. “Portanto a permeabilidade continua garantida, inclusive, reduzindo a poeira que pode prejudicar a saúde das plantas, bloqueando a incidência solar e obstruindo os estômatos [estruturas presentes nas plantas que garantem a realização de trocas gasosas]”, explica.
Questionada se o acesso não poderia ser pavimentado com lajota ou outro material natural, Maria Heloisa alegou que foi usado asfalto pela questão da durabilidade. “Poderia, assim como pode ser asfalto pela sua resistência e durabilidade. O importante é garantir a permeabilidade, e ela se mantém com o asfalto, considerando a pequena área pavimentada”, justificou.
Maria Heloisa ainda garante que não há nenhuma proibição quanto à utilização da pavimentação no plano de manejo aprovado pelo Conselho Gestor do Parque. A secretária confirmou que o conselho gestor aprovou a obra.
Soluções mais sustentáveis, pede especialista
O plano de manejo do parque Raimundo Malta foi elaborado em 2018, com coordenação de Rosemeri Marenzi, professora da Univali. Ao DIARINHO, nesta quinta-feira, Meri lembrou que consta no plano que os projetos de infraestrutura ou de obras a serem implantados no parque deverão ser analisados pelo conselho gestor e autorizados pela administração do parque. “A primeira questão é saber se a pavimentação da entrada do parque teve a análise desse conselho gestor”, pondera a especialista.
Meri ainda lembra que, pelo plano de manejo, a infraestrutura adotada deve considerar o uso de materiais harmônicos com o parque e de preferência obtidos na região. “Nessa questão fica óbvio que asfalto não é um material harmônico com a unidade de conservação. O parque está situado em planície inundável e o uso de asfalto diminui a permeabilidade da água das chuvas no solo, podendo intensificar os problemas de inundação. Há soluções de pisos permeáveis que conciliam a estética com a funcionalidade, assim como propiciam a acessibilidade dos visitantes”, opinou Meri, que é engenheira florestal.