80 ANOS
Sorveteria Seara chega à quarta geração unindo receitas de família e novas tendências
Patrimônio cultural gastronômico de Itajaí é uma das sorveterias mais antigas do Brasil
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Dentre as particularidades que fazem de Itajaí uma cidade única, está uma sorveteria artesanal cuja história se confunde com a trajetória da city peixeira, aberta numa época em que nem geladeira havia no Brasil. A Sorveteria Seara, que está completando 80 anos, há quatro gerações faz sorvete do mesmo jeitinho do seu fundador, João Heusi Seara: apenas com ingredientes naturais e aproveitando o que a natureza produz de melhor, de acordo com a época do ano. Por isso, fiquem ligados: a temporada de sorvete de uva acabou de começar!
A atual sede, na rua Alberto Werner, é o quinto endereço da sorveteria cuja saga teve início nos arredores do porto, na rua Blumenau. O ano era 1943 e naquela época só havia dois locais que serviam sorvete no Brasil, ambos no Rio de Janeiro, onde foi aberta a primeira sorveteria, em 1931. O sucesso da novidade gelada fez com que João se mudasse para o centro, no edifício Giorama, na Hercílio Luz. Naquele tempo, o bar se chamava Taça de Ouro.
Após uma breve temporada na cidade de Brusque, João retornou a Itajaí em 1954, dessa vez disposto a ampliar o negócio e batizar com o nome da família. Então ele adquiriu um terreno na rua Brusque e construiu o prédio em frente à antiga Distribuidora Müller. Logo, o local se tornou ponto de encontro para famílias, jovens e torcedores do Barroso e Marcílio.
Quando João faleceu, em 1960, a viúva Érica herdou o negócio junto com as filhas Carmem e Sílvia, além de Olavo, que anos mais tarde abriu a própria empresa, chamada Polar. Érica faleceu em 1982 e suas filhas ficaram à frente da sorveteria até 1993, quando chamaram a família para decidir quem iria continuar a tradição. Sérgio Seara Soares tomou para si a missão e trouxe a sorveteria para o atual endereço. Com a morte de Sérgio, em 2004, as receitas ancestrais passaram para as mãos dos filhos André, de 38, e Caroline, de 37.
Como os pais e avós, André e Caroline cresceram dentro da sorveteria, e desde pequenos foram convocados para embalar os picolés. Os sabores são quase os mesmos dos anos 60, com destaque para o coco, quase uma unanimidade entre os frequentadores mais antigos. “Meus tios contam que tinha garoto que pulava a cerca para roubar o coco que era ralado na mão. Naquele tempo, o leite vinha direto do produtor, em garrafas de vidro”, relata André.
Sabores vintage resistem ao lado de novidades, como churros e paçoca
Como a gastronomia também vive de tendências, alguns sabores foram abandonados, como o picolé de “queijinho”, nata e abóbora com coco. Outros se mantêm, como ameixa e banana caramelizada. Mas Caroline não desiste de resgatar receitas antigas. “Eu já fiz testes e ficou muito bom. Tenho certeza que vai agradar quem curte doce com gosto de casa de vó”, acredita. Ela conta que o sabor coco queimado dá trabalho, já que ela mesma tosta o coco fresco, assim como o amendoim. “O sabor é outra coisa”. O próximo teste deve ser com açaí.
É por este respeito à tradição que a Sorveteria Seara conta com clientes fiéis há décadas, muitos na terceira geração. “É comum os avós trazerem os netos que, quando crescem, trazem os filhos”, garante André. Uma delas é a prima Ana Paula, de 48 anos, filha do tio Olavo. Depois que a Polar fechou, em 2009, ela passou a vir na Sorveteria Seara toda semana. “Eu não aguento ficar sem. E se a minha filha sabe que eu estou aqui, ela me mata! Não posso vir aqui sem ela, senão é briga na certa!”, conta Ana Paula que, assim como a filha, prefere o sorvete de coco.
A pedido dos clientes mais novos, nos últimos anos André se aventurou a fazer sabores especiais, mas por tempo limitado. Teve um ano que foi Ferrero Rocher, em outro, Nutella, mas o de paçoca acabou entrando para o cardápio fixo. Eles já fizeram teste com blueberry (mirtilo), mas ficou cinzento. “Nossas máquinas são antigas e não possuem um bico ejetor para mesclar a fruta”, explica. No caso do sabor churros, ele passou a misturar a massa com aroma de canela de forma manual, para que o doce de leite ficasse em destaque.
Outro diferencial é que o processo tradicional não injeta muito ar à massa, nem espessante, o que deixa o sorvete mais denso. Todo este cuidado em reproduzir com fidelidade as receitas ancestrais faz da Sorveteria Seara um verdadeiro patrimônio cultural gastronômico de Itajaí. Quem não conhece o local pode ir a qualquer dia da semana, de setembro a maio, das 14h às 21h. O cascão com uma bola super bem servida custa R$ 14. E tem ainda a tradicional torta de sorvete, com sabor à escolha, que rende 25 fatias.
Criação chinesa ganhou o mundo quando Marco Polo trouxe a novidade para a Itália
Não é à toa que os italianos têm fama de fazerem o melhor sorvete do mundo. Os europeus foram os primeiros ocidentais a provarem a doce mistura congelada, trazida pelo navegador Marco Polo de uma viagem que fez à China em 1271. O sorvete original surgiu há cerca de quatro mil anos, e tinha como base leite e arroz congelados. Durante milênios, a sobremesa reservada aos nobres era armazenada em cavernas subterrâneas, pois não havia eletricidade.
Só em meados do século 16, um cozinheiro da rainha Catarina de Médici introduziu a sobremesa na corte francesa. Em 1670, o italiano Francisco Procópio abriu o primeiro comércio a vender sorvete, um café em Paris. Taças decoradas famosas como o sundae e banana split foram invenções norte-americanas do século 18. A caçula da família chegou no século 19: o picolé. E foi criado por acaso, quando uma criança esqueceu do lado de fora, durante uma nevasca, um copo de refresco, que acabou congelando.
Aqui no Brasil, o sorvete chegou em 1834, junto com o navio Madagascar, de Boston, que aportou no Rio de Janeiro com uma carga de 200 toneladas de blocos de gelo. Naquele tempo, o gelo era armazenado com serragem em depósitos subterrâneos e duravam até cinco meses, por isso a venda de sorvete era sazonal. Na década de 30, os cafés que serviam sorvete se tornaram moda e ponto de encontro de namorados e intelectuais.
O sorvete industrializado mais antigo é o da Kibon, que começou a ser produzido no Brasil em 1941 por uma empresa norte-americana. O primeiro lançamento da empresa, e que resiste até hoje, foi o Eski-bon, seguido do Chicabon, o popular picolé de chocolate.
Pra refrescar
Sorvetes apresentam diferença de até 50,62% nos principais supermercados de Itajaí
Giassi foi o destaque da semana com promoção em metade dos itens pesquisados
Com a chegada do calor, os supermercados direcionam as promoções para os produtos que refrescam, por isso o setor de sorvetes ganha destaque e reforço nos estoques. Mas para que a compra daquela marca preferida não seja uma facada no bolso, o DIARINHO foi a campo pesquisar sorvetes, picolés e açaís mais consumidos e constatou uma diferença de até 50,62%. O item com maior diferença de preço foi o pote de 1,5 litro de sorvete Nestlé, que estava em promoção no Giassi por R$ 16,93, enquanto no Angeloni custava R$ 25,50.
Aliás, o Giassi foi o destaque da semana, com 15 produtos com preços mais baratos entre os 30 pesquisados. Em seguida vem o Koch do bairro São João, com nove produtos, e Bistek e Angeloni, com três produtos. O supermercado com a maior variedade de marcas foi o Angeloni, que investe em sorvetes importados, como a holandesa Häagen-Dazs e a norte-americana Ben & Jerry’s, além de marcas regionais como a Polpa do Norte.
O segundo lugar no ranking da variação de preço entre os supermercados de Itajaí foi o pote de 1,5 litro da Paviloche, empresa de Joinville. O sorvete estava custando R$ 19,90 no Giassi e R$ 28,99 no Koch, diferença de 45,67%. O bronze vai para o pote de açaí de 1,5 litro da marca Frooty (39,99%), vendido a R$ 29,98 no Giassi e R$ 41,97 no Bistek.
A pioneira marca Kibon figura em quarto e quinto lugar no ranking. O pote de 800ml da série Blast (sabores Ovomaltine, Snickers, Tablito e M&M) apresentou variação de 33,31%, com menor preço no Koch (R$ 24,99) e maior no Bistek (R$ 31,97). Já o sabor da Turma da Mônica apresentou diferença de preço de 31,56%, com preços que vão de R$ 23,98 (Giassi) a R$ 31,55 (Angeloni).
E para quem precisa cortar o açúcar, tem a versão zero do Paviloche de 440ml, que estava mais em conta no Koch (R$ 25,59) e mais caro no Angeloni (R$ 33,50), diferença de 30,91%. A coleta de preços foi realizada entre os dias 2 e 13 de janeiro.