OLHO NO CARRINHO
Leite fake: espessantes, gordura vegetal e soro confundem consumidores em busca de preço
Empresas foram intimadas pelo Procon a diferenciar os produtos fakes dos verdadeiros
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]




Pode reparar: cada vez tem mais queijo na mesa do brasileiro. Seja em sanduíches, pizzas, salgados, e mesmo em doces, o queijo é a estrela de muitos pratos. O aumento da procura e a pouca oferta fez com que o preço do leite explodisse, além de intensificar uma tendência da indústria de produzir imitações a base de soro de leite, que é descartado no processo de produção de queijo. Para um quilo de queijo são usados 10 litros de leite.
Segundo o engenheiro agrônomo Tabajara Marcondes, da Epagri/SC, a indústria também está precisando se adequar para atender os pedidos diante da diminuição de produção de leite, e do menor poder de compra do brasileiro. “O custo para a produção de leite e derivados é cada vez maior, a demanda é grande, e não se pode repassar para o consumidor sob o risco do produto vencer”, afirma. Ele explica que devido à estiagem de 2021, que prejudicou o pasto e produção de grãos, a produção de leite teve uma queda de 500 milhões de litros.
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O soro de leite já é usado para produzir ricota, mas muito acaba indo fora. E utilizá-lo para fazer compostos lácteos não é proibido, mas acaba confundindo o consumidor, que não pode mais comprar a marca famosa. É o caso da professora Meire Aparecida dos Santos, 53, que complementa a renda com venda de doces e salgados na Escola Aníbal César. “A gente vai pelo preço, daí quando chega em casa percebe que o leite condensado não é o mesmo”, relata. O DIARINHO convidou a Meire para fazer o teste do brigadeiros.
Para evitar enganos, o Procon intimou gigantes da indústria, como a Nestlé. Segundo o artigo 6 do Código de Defesa do Consumidor, é nosso direito o acesso a informação clara nos rótulos quanto a composição, quantidade, qualidade e os riscos que representam, como no caso do sódio.
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Além disso, deve constar lista de ingredientes, lote, data de fabricação e validade, tabela nutricional e instruções. E em 20 de setembro, foi baixada uma resolução determinando que o tamanho da letra não pode ser inferior a um milímetro, então, já pode comprar a lupa!
Embalagens confusas
Segundo o diretor do Procon (SC), João Vitor da Silveira, a Nestlé já começou a fazer adequações nas embalagens, mudança a cor no caso da mistura láctea para marrom enquanto que o Leite Moça tradicional é azul, assim como o leite em pó. “Também enviamos uma orientação à Associação Catarinense de Supermercados (Acats) para as lojas diferenciarem na prateleira o leite do composto lácteo”, acrescentou. Coisa ainda difícil de se ver na prática.

Meire fez o teste do brigadeiro com mistura láctea e o resultado deixou a desejar
Ricota lidera ranking da variação de preço entre os mercados
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Além da atenção redobrada na hora de comprar o leite das crianças, dar um rolê nos mercados garante que mais produtos possam entrar no carrinho. Na pesquisa que o DIARINHO fez nos principais supermercados de varejo, a diferença de preço não foi tão acentuada quanto no caso da carne e hortifrúti, que passaram de 100%. O produto que apresentou a maior variação foi a ricota (61,25%), com preços que vão entre R$ 10,68 (Schmit) e R$ 16,90 (Angeloni).
Contudo, o supermercado mais vantajoso foi o Koch, onde 11 dos 30 produtos estavam mais em conta. A prata vai para o Schmit, dos Cordeiros (7), e o bronze para Bistek e Angeloni (5). Na lanterninha aparece o Giassi, da Fazenda, com quatro produtos mais baratos.
Entre os produtos mais em conta do Koch estão o iogurte natural de 170g (R$ 1,99), o requeijão de 200g (R$ 5,69) e o doce de leite de 400g (R$ 4,79). No Schmit vale a pena investir na bebida láctea de 900ml (R$ 3,49) e no leite condensado (R$ 4,99). No Bistek, a melhor promoção é a sobremesa láctea de 200g (R$ 2,97), e no Angeloni, a tradicional bandeja de iogurte de frutas com seis unidades (R$ 4,49). No Giassi, o catupiry verdadeiro de 250g estava em promoção por R$ 11,98, preço 33,47% menor do que o praticado no Koch (R$ 15,99).
O DIARINHO realizou a pesquisa nos dias 28 e 29 de setembro e coletou os preços mais baratos de 30 itens mais consumidos, independente de marca.
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Cooperoeste se consolida na produção de laticínios em SC com a marca Terra Viva

Cooperativa tem 1600 associados em 70 municípios da região oeste
O consumidor catarinense já se acostumou a encontrar nas prateleiras uma marca que, embora acessível, não perde em qualidade para nenhuma outra. E o que é melhor: não produz genéricos a base de espessantes e gordura vegetal, mas apenas derivados de leite, como creme, doce, iogurte e manteiga. O que muitos não sabem é que por trás da marca Terra Viva, existe uma cooperativa de pequenas propriedades rurais oriundas do programa de Reforma Agrária, fundada em 1996, quando cinco mil famílias foram assentadas.
Ao contrário de uma indústria com patrão e empregados, na Cooperoeste, o produtor recebe de volta parte da venda ao atacado em forma de insumos pra produção do próximo ano, como ração, adubo e fertilizante. Além disso, investe 0,02% na própria cooperativa, que precisa se atualizar para que os jovens permaneçam no negócio. “Tem quem pense que o governo dá algo para nós, mas pagamos impostos como qualquer outra indústria”, diz Sebastião Vilanova, presidente da cooperativa, que fica em São Miguel do Oeste.
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“Estamos em contato com propriedades rurais da Alemanha, França e Holanda para saber como se dá a sucessão porque nossos produtores já estão com idade avançada e os jovens não querem mais acordar às 5h e ir até às 22h, todo dia, sem férias”, conta. Ele diz que depois de investir no beneficiamento do leite, e a compra de cinco máquinas que empacotam 550 mil litros por hora, chegou a vez de investir nos estábulos.
Em relação a alta do leite, Sebastião diz que ainda é reflexo da estiagem de 2021 porque a alimentação do gado foi feita no ano passado e é de má qualidade, daí a vaca produz menos. Sem falar na multiplicação de atacadões que disputam os produtos. Ainda assim, a cooperativa continua expandindo. Os catarinenses fornecem para empresas do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro, sendo os maiores mercados o Paraná (45%) e Santa Catarina (37%). Além disso, diversificaram, incorporando outras agroindústrias para não depender só de leite.
Há cerca de 10 anos foi criada uma segunda, a Amanhecer. E para aumentar a produção de queijo, a cooperativa firmou parceria com os assentamentos 25 de Maio e Lageado Grande, no Paraná. E adquiriram um pedaço de chão para a criação de 75 vacas produtoras. O rebanho é acompanhado por técnicos e veterinários que visitam as propriedades para atestar a sanidade do produto. “A logística é precisa. Se o leite não chegar na indústria entre 6 e 7 graus, já fica impróprio para o consumo”, esclarece Sebastião.
Antes, a Cooperoeste obtinha renda vendendo leite para a Companhia Nacional de Abastecimento. A Conab tinha a função de abastecer municípios que tivessem passado por catástrofes, mas foi extinto pelo atual governo federal. Os desafios que os cooperativados têm é buscar junto aos governos programas de qualificação técnica, como a abertura de mais cursos de agronomia e biotecnologia na região.
