Décio Nery de Lima
"Vou retomar os investimentos que o Bolsonaro negou para Santa Catarina”
Candidato a governador pelo PT
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]





A terceira sabatina do DIARINHO com os candidatos ao governo de Santa Catarina é publicada nesta segunda-feira com Décio Lima (PT). Natural de Itajaí, Décio é uma liderança histórica do PT e está filiado ao partido desde 1981. O candidato dispõe de experiência no Executivo e Legislativo. Já foi vereador, prefeito de Blumenau por oito anos, superintendente do Porto de Itajaí e deputado federal. Na entrevista a Franciele Marcon, o candidato respondeu perguntas sobre saúde, rodovias estaduais e federais, economia, geração de empregos, Porto de Itajaí, travessia do ferry-boat, além de três questões direcionadas a ele. Todos os candidatos ao governo de SC foram convidados a participar. Até agora, Odair Tramontin (Novo), Jorginho Mello (PL) e Décio Lima (PT) concederam entrevistas presenciais ao DIARINHO. Confira o conteúdo completo, em áudio e vídeo, no portal DIARINHO.net e em nossas redes sociais. As imagens são de Fabrício Pitella.
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DIARINHO – Santa Catarina está sofrendo com uma baixa adesão à vacinação que se reflete em alerta para a volta de doenças como a poliomielite. De forma mais imediata, a baixa vacinação reflete, também, no quadro das doenças respiratórias e na falta de leitos de UTIs, tanto adulto como infantil. O que está acontecendo com a saúde pública de SC?
Décio – Aquilo que tá acontecendo no país. Alguém que permanentemente nega as orientações científicas. O Brasil vai ter que responder, num dado momento, para o seu próprio povo, pelos acontecimentos da pandemia. Nós somos menos de 3% da população do mundo e aqui tivemos mais de 10% da letalidade da covid. Por quê? Porque desprezaram a vida, desprezaram o povo brasileiro. Nós poderíamos estar com 400 mil brasileiros certamente vivos, segundo o diagnóstico feito pela Organização Mundial da Saúde. E, mais uma vez, estamos vivendo essa situação de desprezo pela vida. Eu falo aqui como alguém que foi vítima da polio melite, de uma pandemia num momento em que a humanidade não tinha vacina. E é incrível como nós estamos vivendo esse ambiente onde praticamente não há imunização em massa, não há um programa que possa proteger as crianças com relação ao retorno, por exemplo, da poliomielite. Apenas 14% da população brasileira, nesse momento, está imunizada. Isso é grave. Se eu for governador eu não vou permitir que isso aconteça. O problema da saúde, além do nacional, que retirou nesses últimos anos recursos - Santa Catarina recebia R$ 4,3 bilhões de investimentos na saúde - nesse momento vamos receber R$ 3,7 bilhões. Ou seja, diminuímos significativamente os recursos para o povo catarinense. Eu vou recuperar isso com o presidente Lula e vou criar o sistema único de saúde de Santa Catarina. Integrando a política básica, construindo com os municípios uma relação republicana e de política de Estado, incluindo a filantropia, como nós temos aqui na nossa região, o Hospital Marieta, os hospitais que hoje atendem inclusive pelo SUS, para que nós possamos, com a estrutura do Estado e com a garantia que tive do presidente Lula de retomada dos investimentos para Santa Catarina, ter um sistema que resolva os problemas da saúde pública.
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DIARINHO – Santa Catarina já investiu R$ 170 milhões em quatro rodovias federais. Enquanto o Estado ajuda a bancar obras que seriam obrigação do governo federal, há demandas locais de investimentos. Um exemplo é a SC que dá acesso ao maior parque temático da América Latina, o Beto Carrero. Como priorizar os investimentos em malha viária?
Décio – Vou retomar os investimentos que o Bolsonaro negou e nega para Santa Catarina. Eu vou dar números aqui. Na época do nosso governo, só com os investimentos na duplicação da BR 101 Sul, ponte Anita Garibaldi, a construção do trecho da 282, de Chapecó a Paraíso, as obras que nós fizemos de melhoria na 280, o começo da BR 470, que era para estar pronta em 2016. Já faz seis anos que eu trabalhei para colocar ela no PAC, no Programa de Aceleração do Crescimento. Só essas obras, elas impactaram em Santa Catarina, considerando as obras inclusive do Porto de Itajaí, na época do presidente Lula, que eu tive a honra de administrar, as obras do Porto São Francisco. Esse investimento somado a outros investimentos das escolas técnicas, construção de 30 institutos federais, ampliação da universidade federal, criação da Universidade da Fronteira Sul, deram um impacto de R$ 15 bilhões de crescimento econômico para Santa Catarina e nos levaram para ser a sexta economia do Brasil, embora não sejamos o sexto estado nem em população e nem em território. Nós vamos retomar isso. Mas mais do que isso, eu tenho um diagnóstico do estado. Eu andei por 230 municípios. Andei pelas SCs. É um caos a infraestrutura rodoviária de Santa Catarina. Além de ser um caos, não se tem, absolutamente, nenhum projeto de criação de outros modais de transporte, seja de carga ou seja para garantir esse sagrado direito das pessoas que é o direito de ir e vir. Eu vou apresentar a partir de janeiro o maior programa de investimentos em infraestrutura que Santa Catarina já recebeu. Não para fazer tapa-buraco. Não para fazer um quilômetro, dois quilômetros. Não! Como uma política de Estado planejada para podermos superar essa tragédia que impede o crescimento de Santa Catarina em várias regiões.
DIARINHO – O estado tem sido o segundo em geração de empregos no Brasil. Quais suas propostas para continuar fomentando o setor industrial, de serviços, de turismo e a construção civil?
Décio – Nós temos um problema sério na questão da geração de empregos que é a qualificação da mão de obra. Inclusive faz parte da pauta da reivindicação dos empresários catarinenses. Eu vou criar, nas 21 microrregiões de Santa Catarina, 21 institutos estaduais, com tempo integral, para qualificar a mão de obra de acordo com as vocações econômicas locais. Com isso também vamos dar um salto de qualidade na melhoria do salário. Além disso, vou fazer de Santa Catarina o maior salário mínimo do país. Nós vamos chegar rapidamente a R$ 2 mil de salário-mínimo. Vou construir isso com os empresários, sem criar constrangimentos.
DIARINHO – Por falta de força política, o aeroporto de Navegantes não teve uma segunda pista contemplada no edital de concessão do terminal. Empresários e entidades ainda lutam para ter a implantação desta pista, que aumentaria a capacidade de transporte de cargas via aérea e seria um diferencial econômico porque aumentaria o raio de liberação da construção civil no centro de Itajaí e Navegantes. Essa questão ainda tem uma solução política ou vamos ter que esquecer a segunda pista?
Décio – A solução política está no dia 2 de outubro. Nós temos um presidente da República que não trouxe um tijolo para Santa Catarina. Eu sei que tem muita gente que gosta do Bolsonaro, mas ele não gosta de Santa Catarina. Essa é a solução. A solução é eleger um governador daqui da região. Fazer uma escolha. Olhar esse aspecto. Um governador que é identificado com a esperança do povo brasileiro e um governador que sabe das feridas e dos problemas do Vale do Itajaí. Essa é a solução. Como é que pode uma obra dessa, tão importante, que é a ampliação do aeroporto, viver uma novela como essa sem fim, sem solução? O mesmo eu digo da BR 470. Nós já éramos para estar com a BR 470 para cima de Rio do Sul, chegando às margens da 116. Pararam tudo. Não tem um tijolo feito em Santa Catarina. Não tem uma política de infraestrutura. Onde é que está o governador? Não existe. Onde é que está o presidente? Vem aqui, faz duas motociatas, anda de jetski... E os problemas do nosso povo? Ele não soluciona? Governar é resolver os problemas. Eu vou ser um governador que vai resolver esse tipo de problema e tantos outros que Santa Catarina tem, junto com o presidente Lula.
DIARINHO – O Porto de Itajaí está prestes a ter sua operação e também a gestão dos canais portuários privatizados. O modelo de porto municipal com apenas a concessão dos berços à iniciativa privada deu certo até então. Qual a sua opinião sobre essa polêmica da privatização total?
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Décio – Eu tenho a visão muito clara, porque eu vivi o porto, tive a honra de viver o porto, administrar o porto de Itajaí, transformá-lo, na época como ficou conhecido, no porto 5 estrelas do Brasil. O segundo porto de maior movimentação de carga de valores agregados do Brasil. O porto é uma porta para o mundo. O porto tem a ver com a soberania nacional. Nós não podemos permitir que haja interesse do capital internacional para pilhagem da nossa economia, no Brasil. O porto tem que ser público, com autoridade pública. Nós podemos ter parcerias. Mas nós temos que ter a manutenção da autoridade portuária, a mão de obra do OGMO, o controle das ações portuárias junto com os órgãos intermitentes. Isso serve para o Porto de Itajaí, para o Porto de São Francisco, serve para o Porto de Imbituba. Eu, como governador, vou primar pelo patrimônio do povo de Santa Catarina e primar pela soberania nacional, não permitindo qualquer pilhagem nos portos existentes. Muito pelo contrário: melhorar e valorizar os nossos portos. Porque eles são estratégicos e fundamentais. No caso de Itajaí, é uma paixão. Esse porto é da nossa Itajaí. Nós não podemos abrir mão porque esse foi o melhor modelo de gestão que o Brasil já teve e referência para o mundo, que é a municipalização do porto. Convive porto e cidade com muita paixão. Isso nós não podemos quebrar e nem tirar do povo de Itajaí.
O Brasil vai ter que responder pelos acontecimentos da pandemia. Nós somos menos de 3% da população do mundo e aqui tivemos mais de 10% da letalidade da covid”
DIARINHO – O governo do estado e o federal tomaram medidas na tentativa de reduzir o preço da gasolina. Qual será sua política econômica com relação ao ICMS?
Décio – Com isso, Santa Catarina está perdendo R$ 3,5 bilhões. Isso precisa ser explicado, porque essa medida não vai se aguentar após o final do ano. Vamos ter uma tragédia no Brasil se nós não resolvermos o problema do preço do combustível. E por que ele tá assim? Porque entregaram. Quando derrubaram a Dilma, eu tava lá no Congresso Nacional, na semana seguinte quebraram o modelo de partilha do pré-sal, cujo lucro era para a educação, para a saúde. Entregaram para os interesses das grandes petroleiras internacionais e dolarizaram a gasolina. Ou seja, nós estamos pagando um produto que era pra ser nosso, não é mais nosso, é dos estrangeiros. Retirado daqui e submetido ao mercado internacional. Isso não poderia nunca acontecer. Porque naquele momento nos tornamos uma potência petroleira no mundo. Além disso, quebraram as refinarias brasileiras. O que o presidente Lula me disse? Nós vamos retomar esse patrimônio para o Brasil. Nós vamos fazer refinarias aqui e vamos retomar as nossas indústrias. Vamos dar investimentos através do BNDES para garantir, com clareza, o preço da gasolina na forma que ele tem que ser no Brasil, e não em dólar. Mas pelo custo que é retirá-lo, transformar, refinar e entregar para o povo brasileiro.
DIARINHO – A ligação fixa entre Itajaí e Navegantes é uma demanda de décadas. A empresa que faz a travessia móvel tem uma autorização temporária, com queixas de usuários com relação ao serviço. Exemplo é a exigência de pagamento em dinheiro, sem aceitar Pix e cartões. Qual a sua proposta nesse sentido?
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Décio – Eu acho que essa é a grande diferença que eu vou trazer para Santa Catarina na forma de governar. Eu quero ser um governador que esteja aqui. Eu não quero ser um governador de gabinete. Eu nunca fui um prefeito de gabinete. Se nos oito anos que eu fui prefeito de Blumenau não me achavam no gabinete, eu tava junto com a população, discutindo e resolvendo os problemas. O orçamento de Santa Catarina é bom, a economia de Santa Catarina responde, e ela vai crescer fantasticamente se resolvermos o problema de infraestrutura. Como é que eu quero governar? Aqui, sentado, discutindo. E trazendo, não Pix, não dizendo assim “ô, tá aqui, tô trazendo um dinheirinho”. Eu vou trazer o orçamento. A possibilidade real de resolvermos uma obra grandiosa de infraestrutura, vamos reunir Itajaí, Navegantes, o governo do Estado, buscar recursos no BNDES, de forma planejada, trazer as mãos sempre generosas da esperança, que serão as do presidente Lula e vamos resolver os problemas. Essa é a prioridade [...]. Vamos fazer parcerias e vamos resolver os problemas de infraestrutura. Eu acho que isso quebra aquela política da promessa. Isso me fez sair de Blumenau com aprovação em 85% depois de oito anos sendo prefeito da cidade.
DIARINHO – Santa Catarina tem 10 candidatos ao governo, e as intenções de votos estão divididas. Por que os catarinenses escolheriam o senhor?
Décio – Por uma razão muito simples: eu estou, eu sou o candidato, nunca neguei isso, do Lula. O Lula vai ganhar as eleições. Vai ser muito bom para Santa Catarina ter um governador do Lula. Essa é a primeira condição. Os outros candidatos, todos, são do Bolsonaro. Eu sou o candidato que resisti na política catarinense esse tempo todo, que trouxe uma garantia para o povo catarinense, que eu represento uma causa. Para tirar 33 milhões de pessoas da fome, da miséria, dos quais Santa Catarina, já na vulnerabilidade alimentar, chega a quase 1 milhão, 380 mil deles passando fome. Eu represento isso: a garantia de nós não convivermos com a miséria, com a fome. De garantir a melhoria da qualidade de vida, melhorar a renda do povo catarinense. Os outros são a mesmice e o convencional. Vão continuar com a política que o Brasil não suporta mais: do ódio. Eu não sou o candidato da arma. Eu sou o candidato da escola, do livro, da inclusão digital. Eu sou o candidato de resolver o problema da saúde. Eu sou o candidato da esperança.
Nós não podemos permitir que haja interesse do capital internacional para pilhagem da economia. O porto tem que ser com autoridade pública”
DIARINHO – Desde que o senhor deixou a superintendência do Porto de Itajaí, vem concorrendo a cargos eletivos, mas não foi eleito nenhuma vez. Algumas pessoas criticam a falta de renovação do PT em Santa Catarina. Faz 14 anos que o senhor é o eterno candidato do partido. O que impede essa renovação?
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Décio – Eu sou candidato pela segunda vez. Não sou há 14 anos. Eu acho que esse é o grande desafio da democracia. Eu fico apaixonado, em lágrimas, quando vejo um jovem enfrentar o ringue da política, como eu enfrentei. Eu comecei em Itajaí na época da ditadura. Enfrentando a ditadura, lutando pela liberdade. Lá na Univali, no Salesiano, onde fui presidente do DCE, dos diretórios acadêmicos. Nós temos que impulsionar a nossa juventude. Eu também estou muito feliz porque no extrato da pesquisa em Santa Catarina, das que nós temos, a juventude é progressista. E 70, 80% querem construir um mundo novo. Eu não me acho velho. Por quê? Porque quem luta nunca fica velho. Eu vou morrer lutando.
DIARINHO – O PT governou o Brasil por 14 anos e teve nos dois primeiros governos do presidente Lula um grande crescimento econômico, pleno emprego e controle da inflação. Mas deixou de fazer as reformas tributária e outras de base, abandonando bandeiras históricas, ao mesmo tempo em que se aliou ao centrão e foi acusado de esquemas de corrupção. Numa eventual vitória sua a governador e de Lula o que esperar desses dois governos?
Décio – A responsabilidade que nós temos com a democracia e as eleições... Nós não podemos eleger o Lula e eleger deputados que são desse campo do centrão. Nós temos que abominar essa política fisiológica. Eu vivi três mandatos no Congresso Nacional. O Congresso Nacional é uma podridão na sua grande maioria. Não tenho aqui nenhum problema em dizer isso. Infelizmente, quando elege o presidente, se esquece de olhar o deputado federal. Vote nos candidatos a deputados federais do nosso campo.
DIARINHO – O senhor é o único candidato que demonstra apoio ao candidato Lula em Santa Catarina. Nosso estado tem tradição de ser conservador e de votar tradicionalmente em partidos de direita. Se o senhor não chegar ao segundo turno, mas o presidente Lula sim, o PT de SC pretende apoiar outro candidato a governador?
Décio – Tudo indica que eu vou para o segundo turno. A eleição no Brasil está polarizada, os números mostram isso. Você olha as pesquisas, qual é a pesquisa que você quer acreditar? O que nós temos é um diagnóstico claro de que a eleição está polarizada, inclusive de valores. Que dá Lula no primeiro turno. E que, aqui em Santa Catarina, o lado de lá todo dividido e eu aqui unido. Não posso trabalhar com pessimismo para te dar uma resposta.
Raio X
NOME: Décio Nery de Lima
NATURALIDADE: Itajaí
IDADE: 61 anos
ESTADO CIVIL: casado
FILHOS: 3
FORMAÇÃO: Licenciatura em Ciências Sociais e Bacharel em Direito
TRAJETÓRIA POLÍTICA: vereador em Blumenau (1994-1996), prefeito de Blumenau (1997-2000 e 2001-2004), superintendente do Porto de Itajaí (2005-2006), e deputado federal (2007-2011 e 2011-2015).
NÚMERO DE URNA: 13
COLIGAÇÃO: Federação Brasil da Esperança (PT/ PCdoB/ PV / PSB / SOLIDARIEDADE)