Em família
Barbearia carrega no nome história de gratidão por família que salvou vidas com transplantes
Profissional tem rim transplantado e homenageia família de doador em seu negócio
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Navegantino da gema, Robson Tomás, de 34 anos, começou a trabalhar na construção naval aos 13 anos. Aos 16 foi para o comércio, mas retornou aos estaleiros com 18, quando pôde ser admitido com carteira assinada. Passou pelas linhas de produção das principais empresas do setor, até que, em 2015, aos 26 anos e no auge de sua carreira, foi diagnosticado com insuficiência renal crônica e precisou entrar na fila de transplante.
Em menos de um ano ele encontrou um doador compatível e a cirurgia foi um sucesso, mas sua vida profissional virou do avesso. Afinal, Robinho precisou se reinventar, pois a atividade naval não era mais compatível com sua condição clínica. Foi aí que ele resolveu começar a trabalhar com cortes de cabelo. O negócio iniciou na garagem da casa de seu sogro, em Navegantes, e menos de um ano depois ele montou sua barbearia no bairro São Domingos. Hoje tem também uma filial no centro e projeta se tornar franqueador da marca Goulart Barber Shop.
O mais interessante de tudo isso é que o sobrenome que batizou o barber shop não é o seu ou o de sua esposa, mas de uma família que passou a ser sua: a família de Adilson Goulart, um metalúrgico de Jaraguá do Sul que, aos 39 anos, sofreu um acidente de moto e se tornou doador do rim que salvou a vida de Robinho. “Hoje tenho o nome de quem me restabeleceu a vida no meu negócio e uma parte dele dentro de mim”, destaca o empreendedor..
Acaso uniu famílias
Constatada a compatibilidade entre doador e receptor, Robson foi para Blumenau, onde se realizou o transplante. Enquanto isso, seus familiares fizeram várias postagens nas redes sociais e uma emissora de TV fez uma reportagem abordando a importância do helicóptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, no transporte de órgãos para transplantes.
Coincidentemente o caso mencionado foi o da família Goulart, que doou os órgãos de Adilson. Irmãs do doador acabaram tendo acesso às postagens da família de Robson, associaram as coisas e fizeram contato. Uma semana depois da cirurgia ele já havia estreitado relações com os pais e irmãos de Adilson que, inclusive, tinha uma irmã que reside em Navegantes. A vítima acabou sendo sepultada na cidade, em um jazigo da família no cemitério do Gravatá.
“Hoje eu tenho duas famílias, a Tomás e a Goulart, que devolveu a vida a mim e a mais 12 pessoas com a doação dos órgãos de Adilson. Não tenho palavras para definir a grandeza do gesto da família Goulart e de tantas outras que, mesmo em um momento de tanta dor (que é a perda de um ente querido), tem uma atitude bela, tão humana”, destaca.
Inclusive, Robson não esquece a data: 13 de dezembro de 2015, quando ele recebeu o rim de Adilson e agregou essa nova família à sua.
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A barbearia
Outro fato curioso na história de Robson foi o surgimento da ideia da barbearia, que nasceu durante uma sessão de diálise, enquanto ele via alguns vídeos do YouTube. “Como as sessões demoravam cerca de quatro horas, eu levava junto o meu computador para ver filmes, até que me deparei com o vídeo de uma barbearia-conceito. Gostei tanto da ideia, totalmente diferenciada das barbearias tradicionais. Aí comecei a ver um vídeo atrás do outro e aprendi a cortar cabelo com os tutoriais da internet”, conta.
O passo seguinte foi comprar uma cadeira de barbeiro e os primeiros utensílios de barbearia, e se instalar na garagem dos pais de sua esposa. Aprendeu o ofício sozinho e gostou de ser barbeiro. Tanto que sua ideia inicial era juntar as economias que tinha, alguns móveis e uma das TVs de casa e montar o negócio no modelo compartilhado, para que amigos tocassem. “Mas eu gostei de ser barbeiro e há mais de cinco anos estou aqui. Tenho várias pessoas trabalhando comigo, mas estou na ativa. E os negócios vão muito bem.”
Já o nome Goulart foi revelado só quando a primeira barbearia foi inaugurada. Robson disse para todos, inclusive para os familiares de Adilson, que o local se chamaria Garagem Barbearia. Só que ele já havia encomendado a uma agência de São Paulo o desenvolvimento das artes e projeto gráfico da Goulart Barber Shop e o nome foi revelado apenas na inauguração. Familiares do doador estavam presentes. “Foi muita emoção. Muitas lágrimas, mas muita felicidade da parte de todos”, conclui.