Walter Orthmann
"Quero ser útil enquanto eu puder”
100 anos e funcionário da Renaux há 84 anos
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
O descendente de alemães Walter Orthmann celebrou seus 100 anos de vida na última terça-feira, dia 19 de abril. Uma festa na fábrica RenauxView, reunindo centenas de pessoas, marcou a celebração em honra do gerente comercial da empresa. Desses 100 anos, 84 foram trabalhando para a fábrica têxtil de Brusque - e seu Walter nem pensa em se aposentar. Durante a cerimônia, ele recebeu a placa do Guinness Book com a quebra do próprio recorde conquistado em 2018: o de homem com o maior tempo de serviço na mesma empresa. O marco fez seu Walter virar celebridade nacional. À jornalista Franciele Marcon, ele contou que começou a trabalhar com 15 anos para ajudar a família, falou da dor de ter perdido dois filhos, da alegria de levantar todos os dias, fazer exercícios e ir trabalhar. Teve ainda a revelação do dia mais feliz de sua vida - isso lá na década de 1930. Lúcido, bem disposto e feliz, seu Walter faz questão de revelar o segredo da longevidade e do amor ao trabalho. As imagens são de Fabrício Pitella. A entrevista completa, também em vídeo, o leitor acompanha no Portal DIARINHO.net e nas redes sociais do jornal.
DIARINHO – Seu Walter Orthmann, o senhor completou 100 anos. Poderia dizer para a gente o que é a vida?
Walter: A vida é você nascer para ser útil. Para ser útil, você tem que fazer alguma coisa. Isso aconteceu comigo. Sempre fui útil. Nasci para trabalhar. Aliás, nós todos nascemos para trabalhar. A minha vida foi trabalhar. Já de criança, era preciso trabalhar, porque os meus pais eram simples operários e para ajudar a família as crianças tinham que ajudar cedo. Aos 15 anos eu fui obrigado, obrigado não, eu gostaria já de fazer alguma coisa... Nesse tempo fui admitido na RenauxView, indústria Renaux, para trabalhar aqui.
DIARINHO - O seu nome tem origem alemã. Sua família veio da Alemanha? O senhor fala alemão também?
Walter: Eu falava muito alemão, mas no tempo da escola. No tempo de escola era só alemão. À época, se falava só alemão, aqui [Brusque] e em Blumenau também. Com o tempo vai se mudando, no trabalho você aprende outras línguas. Meu avô veio da Alemanha e meu pai já nasceu aqui. Minha mãe também já nasceu aqui. Isso há muitos anos atrás.
DIARINHO – Há 84 anos o senhor trabalha na indústria têxtil RenauxView, de Brusque. Pela longevidade do seu contrato, o senhor entrou no Guinness Book como o “trabalhador mais antigo do mundo”. Como o senhor recebeu a conquista desse título?
Walter: Primeiramente, é uma conquista histórica. Tinha um americano que tinha 80 anos, e o nosso chefe aqui disse que passando os 80 anos, mais uns dias, eu já era recordista. Consegui ser o recordista mundial. Lá recebi o certificado do Guinnes Records, isso foi em 2018. Depois cheguei a 81, 82, 83 e agora 84. Agora o número 84 é um marco alto. Não sei se alguém vai chegar lá.
DIARINHO - Certamente o senhor conviveu com muitas gerações de funcionários da fábrica e também de chefes. Como eram as coisas na Renaux há 80 anos e como são hoje?
Walter: Eu entrei aqui em 17 de janeiro de 1938, com 15 anos. O regime era só alemão, os diretores eram alemães, os chefes de seção eram alemães. Todo produto fabricado era com nome alemão. Isso foi durante alguns anos. Até que, aos poucos, começou a se mudar a língua aqui em Brusque, já se começou a falar outras línguas. Na guerra, os alemães tinham que deixar as empresas, não podiam mais ser chefes de qualquer empresa. Eles foram, se afastaram.
Segredo? Ser honesto, falar a verdade, ser útil. Nunca prometer uma coisa que não possa fazer. Saber o que o cliente quer”
DIARINHO - O senhor era jovem quando houve a Segunda Guerra Mundial. O que lembra do conflito?
Walter: Naquela época, eu era do grupo de “Tiro de guerra”. Do meu grupo, nós estávamos em 72. Dos 72, cinco foram chamados para a guerra. Eles foram, mas não chegaram a ir ao front. Eles ficaram na espera. Voltaram todos para casa, depois de certos meses. Então aqui em Brusque ninguém podia falar mais alemão. Era muito triste ver os velhinhos que não sabiam outra língua podendo ser presos se falassem alemão. Tinha que se esconder, falar dentro de casa para não acontecer que fosse preso. [E o senhor tinha medo de ser chamado também?] É, eu podia ser chamado, era da mesma turma do Tiro de Guerra, tinha na época 18, 19 anos, e tinha medo de ser chamado. Mas não fui chamado, foram outros cinco que foram, mas voltaram. Não sei se tem algum vivo ainda.
DIARINHO – Antigamente, as pessoas começavam a trabalhar cedo. O seu início foi na roça. Quantos anos o senhor tinha e como foi? Dava para estudar e trabalhar ao mesmo tempo?
Walter: Eu só tive sete anos de escola. Depois dos sete anos, era obrigado a ajudar os meus pais. Aos 15 anos, era hora de começar a trabalhar. Eu me afastei da escola, que só tinha oito classes. A última repetia a sétima, então não valia a pena. Fiquei sete anos na escola, só falando alemão. Não tinha outra língua. Aos 15 anos comecei a trabalhar aqui na empresa, vim com minha mãe aqui pedir emprego. Foi uma sexta-feira, me lembro muito bem. Falei com o diretor e ele disse: “Segunda-feira tu voltas, pode começar”. Segunda-feira eu já estava aqui às 6h da manhã para trabalhar. Era das seis da manhã até às seis da tarde. Eram 10h de trabalho, com duas horas de intervalo. [E o que o senhor começou fazendo aqui?] Meu trabalho inicial era na expedição. Lá naquela época se empacotavam os tecidos, tinha que colar as etiquetas, era tudo manual. Enrolar o tecido, tudo manual. Era muito difícil, mas funcionava também. [Quando o senhor começou a viajar?] Depois da expedição, um ano depois, fui promovido para o escritório. Porque nós todos daqui tínhamos que começar abaixo, tinha que começar com a expedição, era a ponta. Aquela pessoa que se sobressaiu, tinha vaga para o escritório. Eu fui chamado para ser office boy do escritório. Até, depois, subir para ser do faturamento. Todo faturamento era da minha conta. Já aprendi a bater máquina de escrever, à noite era aula, fazia a datilografia. Comecei a fazer faturamento, era tudo feito a mão. As guias eram seladas, porque não se pagava imposto como hoje. Era tudo feito com selos. Você tinha que selar, cortar o selo e depois acompanhar a mercadoria. Isso foi os primeiros tempos. [E as viagens, vieram quando?] Depois de tanto conhecer os clientes pelas vendas do produto que eles compravam. Já começou o telefone a funcionar, já tinha telefone. O diretor achou que precisava viajar, conhecer os clientes, para ver como é que funcionava. Eu fui um dos primeiros aqui da parte de Santa Catarina a viajar. Fomos para São Paulo de carro. Dava quase um dia para chegar em São Paulo. No primeiro dia que nós começamos a trabalhar, estávamos na Casa Pernambucana, vendemos tanto que deu para trabalhar um mês. E de lá adiante não tinha mais outra coisa, tinha que viajar sempre. Viajei ao Rio e São Paulo durante alguns anos. Não tínhamos aviões. Naquela época Santa Catarina só tinha aeroporto em Florianópolis – que era muito longe. A gente viajava sempre de ônibus. Aí começou Navegantes a ter aviões e comecei a viajar de avião. Já estendi as viagens até o Norte e Nordeste. Abrimos para todo o Brasil. Isso foi em 1955, de lá até os 60 anos viajei... [Hoje o senhor não viaja mais?] Hoje eu estou só aqui, ensinando um pouco para os meus amigos, para as novas gerações que estão começando a vender. Eu era sozinho, vendia toda a produção. Hoje tem 15 trabalhando. [E qual o segredo da venda, seu Walter?] Segredo? Ser honesto, falar a verdade, ser útil. Nunca prometer uma coisa que não possa fazer. E conhecer, fazer amizade com o cliente. Saber o que o cliente quer. Você não pode levar mil amostras na frente do cliente se no fim ele fica cansado. Você tem que saber o que ele mais gosta. Já leva a coisa certa para ele escolher.
DIARINHO – Não havia energia elétrica e nem água encanada na empresa e nem na maioria das casas de Brusque há 80 anos. As estradas não tinham calçamento. Do que o senhor sente saudades? Como era trabalhar numa fábrica sem água e energia?
Walter: Bem no princípio, até São Paulo tinha estrada de pedra, de lama. Não tinha nem asfalto. Aquela serra, não sei onde fica a serra, nunca mais fui de ônibus, mas lá era tudo sem asfalto... Então de ônibus se levava no mínimo o dia todo. Ia de manhã cedo para chegar de noite. [Como era trabalhar nessa época sem energia, sem telefone, sem calçamento? Era muito difícil?] Não, se virava. Era preciso, não tinha outro remédio. Quem queria vender tinha que fazer. E a gente gostava, já estava acostumado, não sabia que tinha coisa melhor. Se fazia com facilidade e com boa vontade. [Hoje o senhor tem parâmetro para comparar....] Hoje dá para comparar, você pode escolher. Naquela época não tinha o que escolher, só tinha esse método e estava acabado.
Eu tinha 12 anos quando levantei de manhã e o Zepelim passou. Sabe o que é Zepelim? Ele subiu, passou em cima da nossa casa e veio passando. Foi a coisa mais incrível”
DIARINHO – Como foi ter o auxílio inédito de uma calculadora, trazida da Alemanha, para lhe ajudar a fazer as contas e não precisar fazer todos os cálculos de cabeça? No início o senhor desconfiava do equipamento?
Walter: Isso foi na época do faturamento. Eles faziam tudo [as contas] de cabeça. Tudo era feito na máquina de escrever. E a soma, os cálculos eram tudo calculado na cabeça e no lápis. Isso era a única coisa. Fazia e entregava. Tinha uma pessoa idosa que era caixa naquela época, ele conferia depois. Mas dificilmente achava um erro. Aí um diretor foi para Alemanha e ele disse que ia trazer uma máquina de calcular. E realmente trouxe. Quando veio ele disse: “Olha, seu Walter, isso aqui é a máquina que você pode fazer os seus cálculos”. Eu peguei, comecei. Não confiava. Fazia primeiro do meu jeito, depois conferia na máquina para ver se era verdade. No fim vi que deu tudo certo, sempre dava. Eu adorei e comecei a calcular com a máquina. Mas hoje eu ainda prefiro fazer tudo na cabeça. Eu acho mais fácil. Hoje você vai no mercado, compra um pão que custa 8 reais e você dá 10. Você bota [na calculadora] 10 menos 8, sobra 2. Sobra 2! Eu acho isso vergonhoso.
DIARINHO – Telefone, computador e internet não existiram durante a maior parte da sua vida profissional. Como era trabalhar sem o auxílio de tecnologia?
Walter: Agora é muito melhor, hoje é tudo fácil. Aquela época era difícil, você não tinha contato com a família. Duas, três semanas, você ficava longe de casa sem contato. Não conseguia nem falar com a fábrica. Eu estava lá vendendo, levava o cartão de pedidos junto, fazia tudo de noite no hotel. Durante o dia vendia, à noite no hotel, na máquina lá, o representante tinha máquina, eu fazia mesmo de noite, no hotel. [E com a tecnologia isso ajudou, o senhor além de falar com família conseguia tirar dúvida com fábrica, agilizar o pedido.] Hoje é tudo fácil, tudo na hora, não tem mais que esperar, perder tempo. Você faz tudo fácil, faz tudo mais ligeiro, tudo mais prático hoje. Isso não tem nem dúvida. [E o senhor se adaptou bem ao telefone, ao computador?] A tecnologia... eu não quero mais saber de tudo. Eu só quero o meu tablet, lá eu faço o que eu tenho e quero. Porque não é mais hora de fazer coisas novas, acho que não vale a pena. Até vale a pena, mas eu não me interessei. [O senhor se interessou pelas redes sociais? Facebook, Instagram, WhatsApp?] Só o WhatsApp. Estava vendo hoje meu celular, eu tenho 50 coisas para responder de ontem [terça-feira]. Não respondi ainda. Já respondi 50, mas tem mais uns 50 agora. Todo mundo dá os parabéns. O Brasil todo me conhece. Sou conhecido do Norte até o Sul. Todo mundo me conhece, querem saber como é que estou, como que foi. Eu respondo todos, mas aos poucos.
DIARINHO – Houve uma festa na fábrica para comemorar os seus 100 anos na terça-feira. Quais os presentes que o senhor pediu pelo aniversário?
Walter: Eu pedi que ninguém desse presente, cada um viesse festejar. E se alguém quisesse oferecer alguma coisa, nós temos aqui a Rede Feminina de Combate ao Câncer, que minha esposa foi duas vezes presidente, que doasse para eles. Tudo que eu receber, que é útil, vou dar para eles venderem. Eles precisam muito. Eles trabalham de graça lá e ajudam muitas mulheres, tem umas 80 mulheres que estão todas as segundas-feiras reunidas, mulheres que têm câncer, as levando a Blumenau para fazer o tratamento. Isso é muito bonito.
DIARINHO – Qual o segredo da longevidade com tanta saúde e energia que o senhor tem?
Walter: Tem muita coisa. Alimentação, ter saúde. Você tem que se cuidar. Tudo que faz mal eu não boto na boca. De certos anos para cá, porque antes a gente não ligava, mas depois, quando a gente sente no corpo, você procura fazer as coisas certas. Eu jamais, nunca tomei Coca-Cola. Talvez tomei quando era criança, não sei. Refrigerante eu não tomo. Isso tudo é porcaria. Eu só tomo um vinhozinho, uma cervejinha, só na hora do almoço. Cerveja faz um ano que não tomo, mas vou tomar, não tem problema. Mas só na hora do almoço. Não de brincadeira, de brincadeira eu não tomo. Cada quatro meses faço exame de sangue para ver minha saúde. Porque no exame de sangue vai descobrir muitas coisas que muita gente não sabe. Às vezes, está doente sem saber. Eu tenho só um rim. Este rim tem que cuidar, tem que cuidar na parte de potássio. Qualquer coisa que é forte, o potássio é muito alto, eu posso sofrer um AVC. Isso tudo você tira no computador hoje. Eu tiro tudo no meu tablet. Tudo que faz mal, eu sei. O médico não fala tudo para você o que não deve se comer. Médico quer vender. Mas tem uns amigos médicos que me falavam “isso não pode comer, isso não deve”. O resto tiro tudo na internet. Você tem que cuidar da diabetes. Diabetes no Brasil… estamos cheio de diabetes. Isso é uma doença que qualquer outra doença vai aumentar mais por causa dela. Diabetes tem que se evitar ao máximo. Depois de certa idade, como no meu caso, eu passei dos 90, tem que cuidar do sangue, o sangue depois de mais velho fica mais grosso. Tem que tomar um remédio para afinar. [E exercícios, o senhor faz?] Uma hora por dia. Hoje de manhã já fiz uma hora de exercício. Todos os dias. É o alongamento, é um exercício que ajuda. Há muitos anos sofria com os nervos ciáticos. É uma dor incrível. Quantas vezes viajei e essa dor me atacava. Você não consegue nem dar um passo de tanta dor. Tem que tomar remédios fortíssimos. Isso faz mal para o corpo. Então eu comecei a fazer exercício. Mas não só isso. Além do nervo ciático, eu tinha muito problema de labirintite. Eu faço exercício para o pescoço. E à noite eu faço bicicleta uma hora também.
DIARINHO – O senhor era jovem quando houve a Segunda Guerra Mundial. Agora está tendo uma outra guerra, com a invasão russa à Ucrânia. O senhor acompanha a situação?
Walter: Não acompanho. É muito triste. É bom não ver. Coitados! Quem vai morrer são os pobres, coitados... Os grandões ficam escondidos. É muito triste isso. Não é saudável para ninguém ver essas coisas. O povo não se entende mais. Eu olhei muito a Bíblia, eu acompanho muito e gosto muito de religião. Eu sou evangélico luterano. Mas os outros, católicos, também para mim são todos iguais. Eu gosto muito disso: rezar não faz mal, só faz bem. Te ajuda muito quando você tem qualquer coisa. Sempre faço isso.
DIARINHO - Qual foi a coisa mais impressionante nesses 100 anos e o que o senhor gostaria que acontecesse com o Brasil ainda?
Walter: Eu tinha 12 anos quando levantei de manhã e o Zepelim passou. Sabe o que é Zepelim? [Zepelim é um balão dirigível inventado pelos alemães, de formato alongado, usado para travessias transatlânticas com passageiros, na década de 1930]. Ele subiu, passou em cima da nossa casa e veio passando. Foi a coisa mais incrível. Veio bem baixinho, parece um mundo que vai cair embaixo. Isso era a coisa mais linda que tinha. Se fizesse isso, eu acho que parava tudo só para ver. Coisa mais linda. Muita gente que está hoje viva não viu. Só quem tem 100 anos [o Zepelim passou por Brusque no dia 1º de dezembro de 1934]. [E o que o senhor deseja, o que o senhor gostaria que acontecesse no Brasil ainda?] Gostaria que o pessoal fosse mais honesto. Não roubasse tanto. Desse mais valor ao dinheiro que é tirado da gente todo mês. Aproveitasse mais o dinheiro para ajudar os que precisam. Não botar tudo só para roubar. Além de ganhar tanto, ainda roubam. Isso eu acho muito errado. Muito triste! E nós não conseguimos botar uma pessoa que seja honesta. Muito difícil. É em toda parte do Brasil, tanto federal, estadual, municipal. Todo lugar é a mesma coisa: chegou no poder, já muda de jeito. Isso eu sou contra totalmente. [O senhor vota ainda?] Eu não preciso votar. Eu acho que não vou votar, não sei. Vou pensar ainda. Quanto mais vota, mais erra…
DIARINHO – Qual foi o dia mais feliz e o mais triste de sua vida?
Walter: Tristes foram vários dias, né. Eu perdi dois filhos. Um perdi ano passado; coronavírus. Um filho de 28 anos, meu caçula. Passou 40 dias no hospital, na UTI, e de repente veio a falecer. Muito forte, muito querido. Muito inteligente. E infelizmente perdemos ele. E o outro filho que perdi foi assaltado. Pegaram ele em casa, levaram, mataram e pegaram todo dinheiro que ele tinha… [E o dia mais feliz?] Feliz? Feliz para mim é poder trabalhar. Meus dias felizes são quando eu posso sair de casa, acordar, que tenho alguma coisa para fazer. Se você ficar em casa, como aconteceu no coronavírus, eles não me deixaram trabalhar, me obrigaram a ficar em casa, embora eu tivesse um tablet em casa para acompanhar tudo. Eu me sentia perdido. Quando voltou, o seu Roberto [funcionário da empresa] me ligou avisando que eu podia começar a trabalhar – já tomei duas doses da vacina. Foi um dia queridíssimo, ver os meus amigos, continuar meu trabalho. Foi um dia espetacular.
DIARINHO – Do que o senhor sente saudades? E o que ainda gostaria de viver?
Walter: Eu não digo mais saudades. Eu não conto com isso. Não penso nisso. Eu penso que à noite vamos dormir e só penso que amanhã vou acordar, vou tomar meu café, vou fazer meu exercício e vir para o trabalho. Esse é o pensamento. Quero ser útil enquanto eu puder. Enquanto puder, eu não vou parar. Isso é minha alegria. E com qualquer dor de cabeça, eu quase não tenho, mas quando dá qualquer dor no corpo fico com medo que não, não chegou minha hora ainda... Eu quero ainda ser útil. Isso me deixa alegre, quando uma dor passa, e opa, tô bom, não tenho nada.
Raio X
NOME: Walter Orthmann
NATURALIDADE: Brusque
IDADE: 100 anos
ESTADO CIVIL: casado
FILHOS: oito filhos - sendo cinco com a primeira esposa, já falecida, e três com a atual esposa. Dois deles já são falecidos
FORMAÇÃO: ensino fundamental completo
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: começou a trabalhar na RenauxView em 17 de janeiro de 1938 como auxiliar de escritório, no setor de expedição; depois passou ao cargo de office-boy; foi promovido ao setor de faturamento; passou para o departamento comercial, onde até hoje é gerente comercial