Potável?

Análises da água deixam dúvidas por falta de transparência

Empresas divulgam relatórios apenas com dados básicos de potabilidade; contaminação por metais pesados é risco real, diz especialista

Substâncias listadas na análise estão na natureza, mas podem chegar à captação da rede de água por meio da mineração e construção civil, alerta especialista
(foto: joão batista)
Substâncias listadas na análise estão na natureza, mas podem chegar à captação da rede de água por meio da mineração e construção civil, alerta especialista (foto: joão batista)
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O Mapa da Água, divulgado em março pela Agência Pública e que apontou contaminação da água tratada em 763 cidades do país, alertou para o problema da falta de transparência dos testes de qualidade feitos pelas companhias de saneamento. Conforme portaria do Ministério da Saúde, as empresas devem informar sobre a presença de substâncias acima do limite, mas não é possível consultar testes de todos os elementos que aparecem na água fornecida à comunidade.

Embora possam monitorar diversas substâncias, as companhias geralmente divulgam apenas os parâmetros básicos de potabilidade, que incluem aspectos físicos da água, como cor e turbidez, e taxas de cloro residual e coliformes. Conforme especialistas ouvidos pelo DIARINHO, a questão é importante porque uma série de elementos, como metais pesados, detergentes e agroquímicos, que podem estar presentes, não aparecem nesses relatórios.

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Para o professor Marcus Adonai Castro Silva, doutor em microbiologia agrícola e do ambiente, as empresas deveriam informar os valores medidos de uma maneira mais detalhada. “Essa falta de detalhamento nas análises é um fator que aumenta a insegurança sobre a qualidade da água”, avalia. “Eu entendo que eles deveriam informar claramente, afinal, é uma instituição pública e está utilizando dinheiro público”, considera.

Em Balneário Camboriú, o Mapa da Água listou 12 substâncias químicas na água tratada que representam riscos à saúde. Com base em teste de 2018, foi apontado presença acima do limite de arsênio, cádmio, chumbo, cromo, níquel, selênio, antimônio, bário, cobre, mercúrio, urânio e trihalometano, esse último um subproduto do próprio processo de tratamento.

A cidade apareceu no estudo como a com mais contaminantes na região da Amfri. Piçarras e Penha, com duas substâncias, e Ilhota e Porto Belo, com um elemento cada, também foram listadas. A Emasa contestou o resultado explicando que "houve erros na inserção dos dados à época do teste e que as substâncias listadas não são características da bacia do rio Camboriú".

Impacto de atividades humanas

O professor Marcus Castro Silva entende que os elementos podem não ser, de fato, característicos da água captada do rio. Mas ele explica que quase todas as substâncias listadas para a cidade, exceto o trihalometano (que pode se formar durante o tratamento com cloro) ocorrem naturalmente no meio ambiente, podendo ser encontradas em rochas.

Nesse sentido, Marcus considera que os materiais podem chegar ao ponto de captação de água por meio de atividades humanas. “Principalmente por mineração, mas a construção civil também pode contribuir”, observa. Em razão da ocorrência natural e do que é fruto de atividade humana, o professor informa que é daí que existem os limites de quantidades aceitáveis na água.

Ainda sobre os contaminantes listados no estudo para Balneário, Marcus afirma que as substâncias não têm “nenhuma relação” com agroquímicos porque são de outra categoria de elementos, e não pesticidas. Mas isso não quer dizer que não haja resquícios de agroquímicos no rio Camboriú, dependendo, conforme o professor, do tipo de produto que é aplicado na região, onde há plantações de arroz.

O último levantamento do Ministério Público sobre a qualidade na água constatou presença de agrotóxicos nos mananciais de 43 cidades catarinenses, incluindo Balneário, onde apareceu resíduo do herbicida 2,4-D. O produto também constou em estudo de agrotóxicos na bacia do rio Camboriú, que identificou, ainda, o carbofurano, de uso proibido, ambos ligados a atividades como rizicultura e cultivo de pastagens.

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Emasa reafirma que água de BC atende padrões

 Dados divulgados pelo Emasa se limitam a aspectos físicos, turbidez e a presença de coliformes fecais (foto: João Batista)

Em nota, a Emasa voltou a assegurar que a água captada, tratada e distribuída à população de Balneário Camboriú e Camboriú está de acordo com os padrões de qualidade e potabilidade definidos pela portaria 5/2017, alterada pela portaria 888/2021, do Ministério da Saúde, que trata dos procedimentos de controle e parâmetros de monitoramento da água.

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“Desta forma, não há qualquer risco de contaminantes que estejam acima do Valor Máximo Permitido (VPM) da legislação vigente”, se limita a dizer a autarquia. Sobre os testes de qualidade, a empresa diz que segue a lei municipal 4066/2017, que prevê obrigatoriedade da divulgação dos resultados das análises periódicas e eventuais pareceres técnicos.

A publicação deve ser feita por meios eletrônicos, inclusive nos sites da Emasa e da prefeitura. A autarquia orienta que demais informações das análises podem ser consultadas no site do Ministério da Saúde. O portal contempla resultados de alta complexidade de todo o país.

O presidente do Comitê da Bacia do Rio Camboriú, Gilmar Capelari, observa que na conta de água da Emasa também constam informações sobre a qualidade da água. Ao menos no que tange aos dados das características básicas da água ao consumidor, ele entende que a empresa cumpre a legislação.

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“Mas não tem nada relacionado a traços, por exemplo, de agrotóxicos”, observa, lembrando que há estudos da Epagri, da Univali e do Ministério Público sobre pesticidas na água do rio Camboriú. Ele informa que o comitê se vale desses estudos para melhorar o monitoramento da qualidade da água e que há projeto junto aos rizicultores sobre o manejo das águas das plantações após uso de agrotóxicos.

Itajaí monitora substâncias ligadas aos pesticidas

Na Amfri, Itajaí foi destaque entre as quatros cidades da região sem contaminação de água tratada no Mapa da Água. O município informou que a Vigilância Sanitária faz um intenso trabalho de monitoramento da qualidade e também é responsável por inserir os dados do tratamento de água no sistema do Ministério da Saúde.

O Semasa, autarquia municipal, destaca que também cumpre os requisitos da portaria 888/2021 e monitora diariamente ao menos 42 elementos ligados a agroquímicos, agrotóxicos e pesticidas. Os relatórios que atendem às normas da portaria e de decreto federal estão disponíveis no site da empresa.

Em Santa Catarina, o Ministério Público defende a ampliação dos parâmetros de potabilidade da água, com a inclusão de mais substâncias a serem monitoradas. O órgão tem projeto de avançar para todas as cidades catarinenses o levantamento que analisa o nível de agrotóxicos na água tratada. O órgão também compõe frente contra a “Lei do Veneno”, que flexibiliza as medidas de controle dos agrotóxicos.






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