Itajaí
GUIA DE ESCOLAS 2020 | “Nada substitui a sala de aula"
Lições deixadas pela pandemia farão de 2021, certamente, um ano de recomeços
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O período de mais de sete meses de pandemia trouxe um novo cenário para educandos e educadores. Foi repentino quando, em março de 2020, uma decisão do governo Estadual interrompeu o ensino presencial e determinou o isolamento social de crianças e adolescentes. Não houve tempo para despedidas, planejamento de estratégias, ou treinamentos. As escolas fecharam repentinamente, os alunos se recolheram e todos tiveram que se adaptar ao ensino à distância. Desafio para os mestres, que tiveram que se reinventar para se fazerem presentes, através de uma tela, na vida dos educandos. Desafio para os alunos que tiveram que se afastar dos amigos, da convivência com os professores, e se acostumar a estudarem sozinhos. Desafio igualmente para as famílias que tiveram que dar suporte para que esse elo com a escola fosse mantido, suportando custos econômicos e emocionais, e ajudando na descoberta de novas tecnologias. Houve em comum perdas, frustração e um misto de sentimentos negativos que envolveram a pandemia de Covid-19 em todo o mundo. O ano letivo, apesar de todas as dificuldades, continuou. Alunos, mestres e as famílias se aproximam, agora, do final do terceiro trimestre e já se preparam para a conclusão dos trabalhos. A única certeza, por ora, é que a comunidade escolar e as famílias precisarão continuar unidas para essa volta presencial à escola. Para os diretores das escolas particulares de Itajaí e Balneário Camboriú entrevistados pela reportagem, são dois pontos principais que ficarão como ‘legado’ desse período único vivido em 2020. O primeiro, e o mais importante, é a necessidade do convívio dentro do ambiente escolar, que permite trocas afetivas para a construção do conhecimento. “Nada substitui a sala de aula,” foi a frase mais ouvida entre os entrevistados para definir a lição do momento atual. O amparo proporcionado pela equipe pedagógica da escola também foi determinante para que esse período fosse vivenciado da melhor maneira possível. O segundo ponto é o aprimoramento do uso de tecnologias e dos meios virtuais para complementar o ensino. A grande maioria das escolas da região já trabalhava com plataformas online, mas tanto os professores, quanto os alunos, puderam explorar de maneira inédita e aprofundada essas plataformas e descobriram como elas podem auxiliar e enriquecer o processo de aprendizado. Por isso, muitas escolas particulares anunciam que vão ampliar as atividades e os conteúdos online a partir do próximo ano. A expectativa é voltar à sala de aula sim, mas com o suporte permamente das novas tecnologias no processo de educar. Suporte emocional será importante Bruna Heleno Zarske de Mello é psicóloga, especialista em sociologia da educação e mestre em educação. Ela viveu de perto o momento de pandemia dentro do ambiente escolar do Colégio de Aplicação da Univali (CAU), em Itajaí, onde trabalha atualmente. “Uma das questões que ficou mais aparente para docentes e estudantes durante as atividades remotas foi o papel determinante da afetividade na construção da cognição. Ainda é possível perceber na educação brasileira uma forte herança positivista, que insiste em separar ciência e afeto e aposta na ideia de neutralidade científica, mas o processo de aprendizagem depende tanto da racionalidade, quanto do que é sensível às pessoas, ou seja, emoções, percepções, sentimentos e crenças”, defende a especialista. Para Bruna, as mudanças impostas pelo período de ensino virtual “foram sentidas por grande parte dos estudantes e dos professores, que apontaram que ensinar e aprender viraram atividades solitárias e menos motivadoras. A lição aqui é que fazemos educação juntos e juntas,” ensina Bruna. Com a grande probabilidade da volta às aulas presenciais a partir do próximo ano letivo, as escolas precisarão adotar novas estratégias para a readaptação dos alunos em sala de aula e a garantia que estar no ambiente escolar será seguro. A principal preocupação, contudo, será com o comportamento dos estudantes diante desse novo momento. “Enquanto profissionais da área da educação precisaremos ser compreensivos. É possível que alguns conteúdos do ano letivo de 2020 não tenham sido completamente compreendidos pelos estudantes. Pode ser que os alunos tenham dificuldades na compreensão dos novos conteúdos. E essas dificuldades podem gerar insegurança, ansiedade e sentimentos de inadequação que precisarão ser acolhidos pelas escolas,” explica. “Para além de questões educacionais, precisaremos também estar atentos às consequências emocionais de viver em meio a uma pandemia e de adotar uma medida de distanciamento social, que nos privou em grande parte de um aspecto essencial para a nossa sobrevivência, que é a vida em comunidade. Nesse processo, escutar o estudante e reconhecer o seu sofrimento será essencial na procura de estratégias para um ano letivo saudável”, completa. Outro aspecto que mudou durante o período de pandemia foi a maior participação dos pais e responsáveis na educação das crianças e adolescentes. É possível que 2020 tenha sido o ano com maior acompanhamento e interações das famílias com os professores. “Não é possível esperar que uma mãe, por exemplo, assuma a responsabilidade da educação de seu filho sem que existam perdas. Mas é claro que, uma vez que as crianças e jovens passam os seus dias em casa, as famílias conseguem ter maior acesso ao processo de ensino e de aprendizagem. As famílias conseguem perceber quais são as potencialidades dos estudantes e quais são as habilidades que ainda estão em desenvolvimento ou que precisam ser melhor desenvolvidas. Percebem também o conhecimento e o esforço de professores e professoras”, conclui Bruna.