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Itajaí

Família zarpou de Itajaí para volta ao mundo

A bordo de um veleiro de 38 pés, fabricado em Itajaí, o casal e o filho pequeno estão há um ano e meio navegando

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Yasmim Kochhann, especial para o DIARINHO Fotos: divulgação/ sv.ventura

Já imaginou levar a vida a bordo de um veleiro singrando os mares do mundo na companhia de sua família?  Essa é a realidade da itajaiense Lorena Kreuger, 35 anos,  do marido, o norte americano Zac Watson, 37 anos, e do filho Ian Kreuger Watson, de três aninhos. Eles zarparam de Itajaí, em março de 2019, para uma aventura que ainda não tem data para acabar. Atracados numa ilha do Caribe desde o início da pandemia do coronavírus, a família espera as fronteiras reabrirem para dar prosseguimento na sua volta ao mundo.   

Lorena tinha o sonho de levar a vida em alto mar desde a infância. Neta e filha de navegadores, sua família foi a fundadora do estaleiro Kalmar, em Itajaí, e a vida de Lorena sempre foi mergulhada no universo náutico. “Sempre viajávamos em família, desde muito nova convivi constantemente com muitos veleiros e barcos,” relembra. Quando garota, chegou a competir nas categorias infantis das regatas de Floripa.  Mas, apesar do seu contato atlético com o esporte, o grande sonho de Lorena sempre foi ter a experiência de fazer travessias longas e explorar o lado offshore da vela, que é a prática em alto mar. O sonho ficou mais perto da realidade quando Lorena conheceu Zac, que fazia parte da tripulação de um barco. Lorena foi convidada para uma travessia de 10 dias, de Natal [Rio Grande do Norte] até Trindade e Tobago [país formado por duas ilhas no Caribe]. Durante a aventura, ela e Zac começaram a namorar. No fim da viagem, que aconteceu em 2014, Zac veio com Lorena para o Brasil. Desde a morte do pai Lars, ela tocava os negócios da família no estaleiro Kalmar.  Lorena e Zac se casaram e passaram a viver em Itajaí, mas com o plano de viabilizar num futuro próximo a aventura em alto-mar. “Desde que a gente se conheceu já traçamos esse plano de viver a bordo e viajar pelo mundo,” explica.



Lorena conta que a fase seguinte foi a de traçar um plano. “Tive que fazer uma saída estratégica da empresa, realizar todo um planejamento financeiro. Ainda acabamos decidindo que queríamos ter um filho antes,  para ser uma aventura em família,” narra. A ideia era iniciar a viagem quando o filho tivesse um aninho. Antes da mudança definitiva para o barco, o casal trabalhou muito na organização das etapas.

Quando Ian completou um ano e três meses, a família se mudou oficialmente para o veleiro Ventura, que foi construído pelo pai de Lorena, o engenheiro especializado em marcenaria naval, hoje falecido, Lars Kreuger. 

A família começou a viajar aqui na costa  catarinense, velejando trajetos curtos, até os arredores de Floripa. Tempo de ajustar as velas e a vida a bordo para a largada da grande aventura, em março de 2019. Eles subiram  então a costa do Brasil na direção do Caribe. Ilhabela, a região de Parati e Ilha Grande, subiram o Rio de Janeiro, Cabo frio, Vitória, Bahia, Salvador e Paraíba.


No percurso até o Caribe, acabaram precisando fazer uma parada não programada na exótica Ilha dos Lençóis Maranhenses, no litoral oeste do Maranhão, já que a travessia direta levaria em torno de 16 dias. O lugar isolado e  marcado pelas dunas é praticamente um deserto. Há uma pequena comunidade de moradores e o local mais próximo da “civilização”, fica a três horas de barco. “Com certeza, esse foi o lugar mais especial que paramos, é quase místico. A ilha fica perto da Amazônia e do rio Amazonas. Eu nunca na vida imaginei que iria velejar ou parar ali. Achávamos que cruzaríamos direto, mas foi uma surpresa maravilhosa,” relembra.

Já a primeira parada internacional foi na Guiana Francesa, na cidade de Kourou, onde ficaram um mês, seguindo  para Tobago e  na sequência para as ilhas de Grenada [Caribe], onde estão até hoje por causa da pandemia. Já são seis meses atracados, pois todas as fronteiras do país se fecharam em março. “Hoje estamos morando num barco, porém em um barco parado e que está sempre no mesmo lugar. Completamente diferente de quando a cada duas ou três semanas conhecíamos um novo lugar,” compara.

Navegando livres; agora ilhados

Apesar do impacto causado pela pandemia do coronavíru aos planos, Lorena faz questão de deixar claro que a vida a bordo, assim como a criação do filho no barco, são planos a longo prazo. “A gente resolveu que iria passar esses primeiros anos a bordo. Fomos aprendendo na prática, pois não sabíamos como fazer ao certo,” conta. Além dos desafios normais da criação do filho, o espaço limitado no veleiro e a dificuldade de interações sociais do pequeno com outras crianças também já preocuparam a família.

Quando questionada sobre os desafios, Lorena explica que o maior é conciliar todas as demandas de estar velejando e fazendo as travessias, de quatro ou cinco dias, com as necessidades  de uma criança pequena.  “A criança vai mudando rapidamente. São fases.  Não termos o apoio da escola,  de babá, avó,  pediatra, ou de um psicólogo é a nossa realidade. Navegando vivemos sem qualquer ajuda externa,” complementa.


Como toda criança de três anos, Ian gosta de brincar e tem bastante energia para gastar. Também faz as suas birras, às vezes. A vida no barco tem rotinas parecidas a de qualquer família, mas também as específicas de quem vive a bordo. Chegar em lugares novos, descobrir onde conseguir água, comida. Ficar atentos aos possíveis perigos, à previsão do tempo e outras coisas que envolvem a vida no veleiro. “Muitas vezes estamos em uma situação que está correndo bem, mas de repente a criança começa a se comportar de um jeito ruim. Então a gente precisa parar tudo e entender o que está acontecendo com ele,” ensina Lorena.

Os dias mais difíceis são os das travessias em alto-mar, porque como Ian acaba dormindo pouco, e é preciso que o casal se divida em cuidados. Um se dedica à navegação enquanto o outro fica com o filho. 

O fato de estarem sempre juntos ajuda a intensificar a relação com o filho. “O Ian tem três anos e quatro meses, e nós vivemos todas essas mudanças muito intensamente, principalmente porque estamos sozinhos. Da hora que a gente acorda até a hora que a gente dorme, estamos sempre juntos, de segunda a segunda, não tem trégua,” frisa Lorena.

No início, a família chegou a ficar preocupada sobre a falta de socialização de Ian. “Durante esse período ele fez pouquíssima socialização, porque ficávamos pouco tempo nos lugares e já seguíamos viagem. No máximo ele conhecia uma ou outra criança num parquinho, mas não chegava a criar vínculos,” explica.


Quando chegaram em Grenada, aproveitaram que teriam que ficar atracados até o fim da pandemia e procuraram uma psicóloga para entender melhor as necessidades do pequeno. A profissional tranquilizou a família e explicou  que, até os três anos de idade, o que a criança mais precisa  é ficar perto da mãe e do pai. “Então, no fim, por mais desafiador que tenha sido para nós ter ficado junto com Ian durante todos esses três primeiros anos de vida,  foi uma das melhores coisas que poderíamos ter feito por ele,” analisa.

Com a estadia ainda sem data para acabar em Grenada, a família já tem amigos. Ian está indo para uma escolinha local e brincando com crianças. “A criança se adapta rápido e fica bem, mas não deixa de demonstrar suas confusões emocionais que são normais nessa fase,” completa.

A escolha pela vida a bordo não virou arrependimento em momento algum.  “Tem quem mora no barco, mas não se move muito. Tem gente que decide morar no barco pra ficar um ou dois anos e depois voltar pra casa. E tem gente como a gente que tem a intenção de se aventurar mais, e ir longe para outros países,” resume.

 

De olho nos furacões

A família considera a chegada ao Caribe a sua primeira vitória. “Velejamos 4000 milhas, e é coisa pra caramba! Em função da pandemia não teve como irmos para outras ilhas que são próximas, como era nosso plano entre março e junho de 2020. De junho a novembro é a temporada de furacões, então precisamos estar atentos e mais ao sul possível. Por sorte, Grenada é abrigada de furacões e a probabilidade que passe algum aqui é pequena, mas ainda assim estamos sempre de olho na previsão do tempo,” explica Lorena.


A família não pretende sair de onde está até novembro, mas de dezembro em diante, se as fronteiras estiverem abertas, a intenção é fazer o que não conseguiram este ano. “Quando chegar em junho do ano que vem a gente não sabe ainda se volta pro sul do Caribe. Não temos interesse de ir para a Europa. Queremos ir pro Pacífico, ilhas da Polinésia, mas aí é outra etapa. Se tudo der certo, vamos sempre mais a oeste,” explica. Ao ser questionada sobre a possibilidade de um dia voltarem a Itajaí, ela diz que isso só vai acontecer depois que a família der a volta ao mundo.

 

Recursos são mais finitos a bordo

A vida a qual Lorena e Zac optaram levar tem  relação direta com a sustentabilidade, que vai desde a energia do barco, captada através de painéis solares, até a valorização de recursos básicos. “Vivemos em uma “casa” com recursos completamente limitados, como a água, por exemplo. Temos dois tanques que carregam ao todo 500 litros. Há marinas que oferecem preço viável de água. Em alguns lugares em que passamos se pode pegar a água direto da torneira pública, daí a gente atraca e enche as caixas. Mas isso envolve todo o trabalho de reabastecimento. Encher os galões, colocar no bote, trazer para o barco. Valorizamos cada gota de água e temos um esquema de uso médio de 20 a 30 litros, dependendo do dia,” explica.

A mesma consciência acontece também com a questão do lixo, que nem sempre pode ser descartado corretamente, dependendo do local em que o barco se encontra. A família tenta reduzir ao máximo possível os resíduos. A própria energia utilizada para a locomoção do barco é limpa, pois o casal prefere navegar à vela do que com o motor. “É uma vida com recursos limitados, não temos mais lembrança do que é um banho longo ou internet ilimitada, por exemplo. Temos muita noção do quanto podemos usar de cada coisa, pois a consequência será sentida, seja no bolso ou no ombro, no caso de buscar água,”  brinca.

Acompanhe essa aventura

 

Quer saber mais sobre a vida da família Kreuger Watson em alto-mar?  Siga @sv.ventura no Instagram. Todos os registros da rotina e das aventuras, além de vídeos no IGTV, estão lá. Destaque para a série Crescendo a Bordo, que fala sobre os desafios diários enfrentados na criação do alemãozinho lindo Ian.




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