Itajaí
Você já se perguntou como é ser estrangeiro no Brasil?
O DIARINHO foi atrás de respostas através do relato de pessoas que fizeram do nosso país sua pátria
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
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As fronteiras de um país nem sempre coincidem com a cultura de um lugar. Há gaúchos no Brasil, mas também no Uruguai e na Argentina, e no oeste de Santa Catarina, afinal, hábitos como tomar chimarrão e fazer churrasco não ficam restritos a limites geográficos, mas se espalham a medida que populações avançam e fazem trocas culturais.
E, de tempos em tempos, ocorre uma nova diáspora, o deslocamento de grandes contingentes, seja por catástrofes naturais, guerras ou crises econômicas. No especial do DIARINHO deste Natal, resolvemos buscar histórias de pessoas que não tiveram medo de recomeçar. Mesmo que para isso, em alguns casos, tivessem que atravessar continentes, fugindo da guerra, sem dominar a língua da nova pátria e sem qualquer garantia de que fosse dar certo essa mudança tão radical. A migração é um fenômeno que não é novo, mas ganhou visibilidade com a crise dos refugiados e o aumento da intolerância com populações fragilizadas.
Se, desta vez, são sírios, haitianos e africanos que arriscam a vida para ter alguma chance de futuro em outro país, nos anos 40, foram os europeus que, castigados pela fome e pela guerra, buscavam uma saída no novo mundo. Foi o caso de Stefan Toth, 81 anos, e Tamara Kauffman, 81. Ele, húngaro, veio da extinta Iuguslávia, país que penou nas mãos do Marechal Tito, aliado de Stalin. Já Tamara veio da Rússia, sequestrada pelos nazistas. A família de ambos fugiu, em alguns momentos à pé, passando fome e frio, atravessando longas distâncias, durante o duro inverno europeu, até chegarem a um campo de refugiados. No Brasil, tiveram a chance de ter uma vida longa e produtiva.
No caso dos uruguaios Marcelo e Sílvia, e de Mei, de Taiwan, o motivo para terem vindo para Itajaí foi a crise econômica, em lados opostos do mundo. O casal do Uruguai ficou sem perspectiva quando a Argentina quebrou, no início do século 21, pois o pequeno país dependia fortemente do vizinho do Mercosul. Já a família de Mei buscava uma alternativa quando os chamados “tigres asiáticos” começaram a sofrer com a forte concorrência com os produtos chineses, em meados dos anos 90. No caso do argentino Juan e do alemão Reiner, o Brasil foi amor à primeira vista. Ambos vieram conhecer Balneário Camboriú nas férias, e só voltaram para buscar a mudança. Aqui, fizeram e continuam fazendo história, o primeiro como dono da boate mais famosa da Barra Sul nos anos 80 e 90, e o segundo, como artista plástico, comunicador e agitador cultural através do grupo de estrangeiros que preside. Ou seja, neste mundo líquido, as fronteiras estão cada vez mais tênues, e querer evitar que as culturas se cruzem é tempo perdido. Melhor aproveitar os frutos destes encontros neste Brasil que vive um momento de revisão de valores, de terapia coletiva, mas que continua sendo o país que muitos querem chamar de seu.