Itajaí
Ex-secretária de Saúde é indiciada por coação
Crime eleitoral teria sido praticado na eleição do ano passado na própria secretaria
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
A ex-secretária de Saúde de Camboriú e atual presidente da câmara de vereadores, Márcia Freitag, a Márcia da Saúde, foi indiciada pela polícia Federal por crime eleitoral durante as eleições de 2016, quando se elegeu vereadora pelo PSDB. O inquérito conduzido pelo delegado Carlos Alberto Fontanella Pilati concluiu que a parlamentar teria ameaçado funcionários da secretaria a votar nela durante a campanha, sob o risco de serem demitidos. A coação é considerada crime e teria sido confirmada por depoimentos. A investigação partiu de uma denúncia feita à PF, ainda em outubro de 2016. A denúncia dava conta que a então candidata usava do cargo para obrigar os funcionários não efetivos da pasta a trabalhar pela candidatura e votar nela. A ameaça era que a candidata, quando voltasse a assumir a secretaria, depois das eleições, iria demitir quem não tivesse votado nela. A base para a investigação foi uma gravação que mostra a conversa entre a ex-secretária e funcionários em uma das reuniões que a candidata fez durante a campanha eleitoral. Na transcrição do áudio feita pela perícia da PF, Márcia começa dizendo: “então, eu só quero dizer pra vocês assim ó. Obrigado por terem vindo. Eu preciso da ajuda de vocês, tá”. Para a polícia, a frase caracteriza um pedido de apoio. Na conversa, a então candidata reclama que a equipe com quem trabalhou nos oitos anos na secretaria não lhe dá apoio. “E na hora que eu mais preciso dessa equipe, essa equipe me vira as costas. Eu não posso tolerar mais isso, já tolerei uma vez”, fala. A ameaça aparece no fim do discurso, quando Márcia comenta que o responsável pelo setor de Recursos Humanos da secretaria “iria fazer o serviço”, em referência à exoneração dos desobedientes. “Agora se eu voltar... A minha equipe vai ser a minha equipe... Eu não vou nem... mas eu não vou nem pensar... mas eu não vou nem receber na minha sala... O Luis Henrique [da Silva, do RH] vai fazer o serviço... Porque eu cansei, eu cansei de ser boa, eu cansei de estender a mão, eu cansei de ser amiga, eu cansei de tudo...”, fala noáudio. Depoimentos Durante a investigação, Márcia foi ouvida pela PF e afirmou que não reconhecia sua voz na gravação, nem o local onde o áudio foi gravado. Ela ainda alegou que jamais coagiu alguém a votar nela ou em alguém que indicasse. No depoimento, a vereadora afirmou que iria dar uma gravação com o padrão de voz para que fosse comparado com o áudio da gravação. Até o fim do inquérito, no final de setembro, ela não entregou o material à PF. A polícia também ouviu pessoas que foram identificados como participantes da reunião em que a conversa foi gravada. Havia servidores e integrantes da campanha da ex-secretária. O encontro foi na casa dos pais de uma enfermeira da policlínica de Camboriú, em setembro do ano passado. Entre os funcionários ouvidos, três reconheceram a voz como sendo da Márcia. Outras sete pessoas afirmaram que a voz era parecida com a da vereadora. Seis depoimentos também deram conta que o discurso da então candidata foi entendido com ameaçador. Com a perícia da gravação e os depoimentos coletados, ficou claro para a PF que houve crime de coação. Márcia voltou a ser ouvida no processo, mas manteve as mesmas declarações iniciais. O inquérito foi encaminhado à justiça eleitoral. Vai se defender A vereadora Márcia Freitag (PSDB) informou que ainda não foi citada pela justiça. Ele confirmou que foi ouvida durante a investigação e que vai se defender no processo. Entre os argumentos está o de que a gravação teria sido manipulada. “Foi uma montagem”, garante, contrariando o laudo da PF que não encontrou indícios de edição. Márcia adiantou que pretende processar quem fez a denúncia. Segundo a vereadora, pode ser alguém querendo prejudicá-la politicamente. Sobre o motivo de não ter encaminhado o padrão de voz para a PF comparar com o áudio da gravação, Márcia esclareceu que seguiu a orientação do advogado. “Não fiz prova contra minha pessoa”, afirma.