Itajaí
Violência a professores é cotidiana
Espancamento a professora catarinense traz à tona a situação em que vivem muitos professores
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Dayane Bazzo geral@diarinho.com.br A violência sofrida pela professora de língua portuguesa Márcia Friggi na segunda-feira, em uma escola de Indaial, expõe a realidade dentro das unidades de ensino catarinenses. Márcia foi agredida com socos, tapas e xingamentos por um aluno de 15 anos. Esse tipo de violência é mais comum do que se imagina e, se fosse registrado na polícia sempre, seria pelo menos um caso diário, estima a direção estadual do sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte). O governo do estado garante que está agindo e que, mês que vem, lança um sistema de registro e levantamento de dados de violência nas escolas da rede pública. Luiz Carlos Vieira, secretário de Assuntos Educacionais e Culturais do Sinte, comenta que a grande maioria das agressões, seja física ou verbal, não é divulgada. “Geralmente a escola abafa o caso, chama o professor e o aluno e resolve ali mesmo, não analisa qual é o problema maior”, diz. Por isso, reclama, o estado não possui dados sobre a violência dentro das escolas. De acordo com a secretaria de Estado da Educação, neste ano não houve nenhuma solicitação de afastamento ou transferência de professor por motivo de violência em sala de aula. Ou seja, oficialmente nenhuma agressão ocorreu nas escolas catarinenses. Na opinião dele, a escola não tem estrutura para resolver casos de violência contra professores ou alunos.“A violência não é resultado de apenas um fator, são vários e a escola teria que ter o auxílio de outros órgãos, como conselho Tutelar e ministério Público, alguém que acompanhe esses alunos, que veja o histórico deles e oriente os professores”, opina. E agora? O caso mobilizou a polícia Civil, o conselho Tutelar e o ministério Público. Até ontem, a secretaria de Educação ainda não havia decidido o que vai acontecer ao estudante que agrediu a professora. “Em conjunto será avaliado como deve ser o procedimento com relação ao aluno”, disse, em nota, a direção da secretaria de Educação da prefeitura de Indaial. Segundo ainda a prefeitura, oficialmente esse é o primeiro caso de agressão de um aluno a professor na rede municipal de ensino. “Estou dilacerada”, desabafa professora “Dilacerada”. Esta foi a palavra usada pela professora Márcia Friggi, 51 anos, para explicar como se sentia depois de agredida. Márcia dava aula para uma turma do centro de Educação de Jovens e Adultos na escola de Educação Básica Prefeito Germano Brandes Junior, em Indaial. Ela relatou que pediu para o aluno colocar o livro que estava sobre as pernas na mesa. O garoto respondeu que colocaria onde ele bem quisesse e depois mandou a professora “se foder”. Ele então se levantou e saiu da sala, mas antes jogou o livro na cabeça da professora. Os dois foram até à direção, onde o aluno acusou a professora de mentirosa. Em seguida começou a agressão física, com tapas e socos, sendo que o último soco jogou Marcia contra a parede. Ela ficou ferida e teve que receber pontos na altura do supercílio. “Estou dilacerada por ter sido agredida fisicamente. Estou dilacerada por saber que não sou a única, talvez não seja a última. Estou dilacerada por já ter sofrido agressão verbal, por ver meus colegas sofrerem. Estou dilacerada porque me sinto em desamparo, como estão desamparados todos os professores brasileiros. Estamos, há anos, sendo colocados em condição de desamparo pelos governos. A sociedade nos desamparou. A vida...”, desabafou. Confederação Nacional lança nota pública A confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) publicou ontem uma nota em solidariedade à professora Márcia Friggi. A nota ressalta que o caso trouxe à tona a brutalidade à qual estão expostos os docentes brasileiros e que não se trata de um caso isolado. “A violência física sofrida por Marcia e por tantos outros professores no país precisa ser combatida, mas ela também faz parte de uma violência simbólica que oprime e desvaloriza a docência”, diz o texto da entidade nacional dos professores. Segundo a confederação, a violência está presente na falta de atenção à escola pública, na baixa remuneração dos profissionais, nos contratos temporários, no rebaixamento da formação, nas jornadas exaustivas, no excesso de atividade extraclasse, na necessidade de outros empregos para complementação da renda. Novos casos serão registrados Rosimari Koch Martins, coordenadora de Educação em Direitos Humanos e Diversidade da Secretaria Estadual de Educação, diz que o governo está implantando um sistema para que as escolas registrem todo o tipo de violência dentro das unidades. O sistema será lançado em setembro e deve começar a funcionar em outubro. “Essa será uma ferramenta mais eficaz. Vamos ter relatórios e em cima desses dados iremos estudar e propor políticas públicas para reduzir esses números”, argumenta. Atualmente as escolas trabalham com base na Política Estadual de Educação, Prevenção, Atenção e Atendimento às violências na escola. No caso da professora Marcia, Rosimari comenta que o caso precisa de uma intervenção, mas, apesar de ter acontecido dentro de uma escola estadual, o CEJA pertence ao município e a secretaria de Educação municipal é que terá que administrar o problema.