Itajaí
Miss Brasil sofre ataques racistas pela internet
Monalysa passou a ser alvo de comentários preconceituosos depois de eleita
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Não é só o peso da responsabilidade que a jovem Monalysa Alcântara, 18 anos, está carregando desde sábado, quando foi eleita Miss Brasil e passou a ser a terceira mulher negra a ganhar o posto na história do concurso. Desde que a vitória foi anunciada, Monalysa vem sofrendo ataques racistas pelas redes sociais. Teve internauta até que desejou a morte da garota. Estudante de Administração, Monalyza é a representante do Piauí. Deixou em segundo lugar a gaúcha Juliana Mueller e em terceiro a capixaba Stephany Pim. Bonita pra lá da conta e simpática, Monalysa tem números de mulherão: 1,77m de altura, cintura de 69 centímetros para um quadril de 95, 87 centímetros de busto e mesmo assim apenas 57Kg. Mas nada disso a privou dos ataques nas redes sociais. “Credooo! A Miss Piauí tem cara de empregadinha, cara comum, não tem perfil de miss, não era pra estar aí. Sorry”, escreveu uma internauta pelo Twitter, numa das postagens que mais provocou reação nas redes sociais. Mas a mais grave de todas veio de um rapaz chamado Josimar Quintino, que chegou a desejar a morte da nova Miss Brasil. “Não é exagero. Só espero que ela morra antes do Miss Universo, pra Ju assumir o posto”, escreveu, fazendo referência à segunda colocada. Até ontem, Monalysa não havia se manifestado oficialmente sobre os ataques racistas em sua conta no Facebook. Mas já havia declarado, quando venceu, que representaria as mulheres em geral. “Quero dar voz para as mulheres e não vou aceitar ver nenhuma delas dizendo que não é capaz. Me chamavam de feia e hoje eu represento a beleza brasileira”, disse. Há um medo do “empoderamento do negro” Para a feminista e militante sindical Fátima Regina da Silva, no Brasil o racismo e o machismo sempre andaram juntos. “No caso de beleza negra ela ainda é vista por uma forma de ‘a negra bonita e gostosa’, mas ela não cabe, não serve para ocupar lugar de destaque a nível nacional”, alfinetou. “Esse ainda é o lugar da bela mulher com origem alemã, italiana, sem ter origem africana ou descender dos africanos”, completou. Militante feminista, Fátima é de Itajaí e integrante do conselho Estadual das Populações Afro (Cepa). Segundo ela, infelizmente é comum restringirem o papel da mulher negra ao de empregada doméstica. “Sem desmerecer essa categoria de mulheres, mas mesmo as negras tendo nível de escolaridade como doutorado, por exemplo, vai ser sempre considerada empregada doméstica”, analisa. Para ela, há um grande medo pelo chamado ‘empoderamento do negro’ na sociedade brasileira. “Principalmente neste caso, da ascensão da mulher nega”, conclui. Em 63 anos, apenas três mulheres negras foram Miss Brasil O concurso oficial do Miss Brasil existe desde 1954. Desses 63 anos do evento, apesar do Brasil ter metade da população considerada negra ou descendente de africanos, apenas três mulheres afrodescendentes ganharam o concurso. Monalysa é uma delas. Mesmo assim, sua vitória não escapou de comentários como esse da internauta Stephanie Condessa: “Brasil se diz país da miscigenação. Mas de um ano pra cá, parece que está tendo ‘preconceito’ ao nunca escolher uma mulher branca”. A primeira mulher negra a ser eleita Miss Brasil foi a gaúcha Deise Nunes, em 1986. Deise, que mora em Porto Alegre e tem uma escola de modelos, já disse à imprensa que nunca sofreu preconceito por ser negra. A segunda negra a ser coroada Miss Brasil foi Raíssa Santana, do Pará. Eleita no ano passado, foi Raíssa quem passou a coroa da brasileira mais bela à Monalysa.