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Itajaí

Piedade de nós!

Estreia foi com poucos ônibus, menos linhas, atrasos e passagem paga só no dinheiro; busões têm wi-fi e acessibilidade

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Empresa começou a operar na madrugada em Itajaí
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Usuários do transporte coletivo de Itajaí tiveram que rezar muito ontem para conseguir pegar um ônibus depois de serem surpreendidos com a operação de uma nova empresa de transporte coletivo, a paranaense Transpiedade, nas primeiras horas da manhã. A prefa não avisou ninguém antecipadamente, e os vermelhões que operavam há 53 anos na cidade foram trocados pelos novos amarelinhos. Houve uma redução drástica no número de ônibus, apenas 15 vão operar nos próximos dias, no lugar dos cerca de 50 ônibus que a Coletivo mantinha nas ruas - isso significa que várias linhas foram suprimidas e itinerários mudados, além disso, o cartão SIM (vale-transporte) não será aceito até que um novo sistema de bilhetagem seja implantado. E toda essa mudança aconteceu, literalmente, da noite para o dia, na calada da madrugada, enquanto a prefeitura encerrava o contrato com a Transporte Coletivo Itajaí e assinava o contrato emergencial com a Transpiedade Transportes Coletivos. A empregada doméstica Vera Lúcia Costa, 59 anos, estava no terminal da Fazenda para ir até ao bairro Cordeiros e foi uma das milhares de usuárias que foi pega de surpresa com a alteração. “Estamos perdidos aqui, cadê os ônibus? A gente não sabe nem onde embarca ou onde eles param e que horas vão chegar. Sem contar que na segunda-feira eu enchi meu cartão com R$ 100 e agora não sei o que vai acontecer com meu dinheiro”, reclamou. Ela estava ao lado da aposentada de 82 anos, Rosa Schaeffer, que saiu de casa cedinho para pegar um ônibus em Cordeiros em direção à Fazenda. Segundo ela, o carro saía sempre às 7h30. “Ele só saiu às 9h30 e agora eu tenho que ir para Cabeçudas e não sei que horas vou chegar lá”, lamentava dona Rosa. A troca de empresas foi concluída depois de várias reuniões que vararam a madrugada de terça-feira. Por isso, segundo o prefeito Volnei Morastoni (PMDB), não houve tempo para divulgar e nem orientar a população. A justificativa não convenceu a promotora de vendas, Iris Ferreira, 47 anos, que estava no terminal da Fazenda esperando ônibus para levar a filha de um ano e sete meses ao médico. Reclamou que quando saiu de Cordeiros em direção ao centro enfrentou um ônibus lotado com a pequena Maria Eduarda no colo e o outro filho João, de nove anos. “Eu costumo usar o transporte coletivo só para levar minha filha ao médico, mas hoje está um caos. Minha outra filha, por exemplo, chegou atrasada no trabalho e só conseguiu ir porque pediu carona”, disse. Andressa Santana, 33 anos, também reclama da falta de um comunicado anterior sobre a mudança. “Foi tudo de supetão. Isso prejudica quem não tem carro, quem mora no Espinheiro, na Canhanduba e que não tem outra opção de ônibus. Eu pelo menos posso pegar a Praiana”, contou. Cleuza Regina Callai, 58 anos, é funcionária da secretária de Educação e também teve muita dor de cabeça com a mudança. Ela conta que sempre pegou o ônibus no Santa Regina por volta das 10h. “Eu estava esperando pelo vermelho e chegou só o amarelo, atrasado mais de uma hora. Agora vou pra Ressacada e já passa do meio-dia quando ele deveria ter chegado às 11h30. O resultado é que vou chegar atrasada. Não quero nem pensar na volta pra casa”, contou. No ponto do Itaú, na Sete de Setembro, a muvuca era maior que na Fazenda. Indignada que estava, a auxiliar de talhação, Rosimere de Aragão, 47 anos, estava esperando o ônibus para ir a uma consulta na policlínica da Itaipava. 12h21 e nada do ônibus. “Isso é uma sacanagem, é um descaso com o povo”, falou. A dona de casa Orlandina Adriano, 59 anos, também esperava revoltada o mesmo ônibus de Rosimere. “É uma falta de respeito, nem o fiscal sabe informar a gente sobre o que está acontecendo”, disse. A agente de educação Luciana Constantino, 41 anos, desistiu de esperar um ônibus para chegar no centro. Disse que esperou por uma hora e meia no ponto lotado do Portal e nada. “É um descaso com a gente que trabalha e depende do transporte. Quer mudar que mude, mas que pelo menos venha ônibus”, disse. Coletivo tava mal das pernas Segundo a procuradora geral do município o contrato com a Coletivo foi rompido por “inconsistência e falência financeira do serviço”. Com o julgamento de uma ação civil pública de 2009 que declarou a nulidade do edital de licitação vencido pela Coletivo, a procuradora explicou que a prefeitura não teve que ressarcir nenhum valor à empresa. “Eles podem procurar as vias judiciais caso achem necessário. Nenhum centavo veio e nenhum centavo vai”, disse. Segundo ela, os três terminais que foram construídos pela Coletivo estão em posse da prefeitura desde a madrugada da discórdia. “Pegamos as chaves às 00h36, conferimos, fizemos a vistoria, fotografamos o estado de entrega. Daqui pra frente a manutenção, os banheiros que são uma grande reclamação, tudo será tarefa do município, tendo em vista que é um prédio público”, afirmou. Agora, a prefeitura se organiza para elaborar um plano de mobilidade que embasará o edital para a nova licitação do transporte público coletivo na cidade. O objetivo é que em no máximo um ano a nova concorrência aconteça. Pagamento, a partir de hoje, só em dinheiro Além de todo o transtorno causado pela redução do número de ônibus e fusão de linhas, os usuários não poderão mais bancar suas viagens com os créditos do cartão SIM partir de hoje. A Transpiedade até isentou quem mostrasse o bilhete de plástico ao motorista ontem, mas agora todo mundo terá que desembolsar R$ 4 em dinheiro para poder pegar o ônibus até que a empresa implante seu próprio sistema. Somente o grupo prioritário (idosos, deficientes e estudantes) continua com a gratuidade assegurada, segundo a prefeitura. Os estudantes também ficarão isentos da passagem até que a Transpiedade disponibilize os passes a R$ 2. O diretor superintendente da empresa, Rodrigo Corleto Hoelzl, acredita que até o final dessa semana a empresa consiga providenciar um sistema para a venda de passes de papel. A bilhetagem eletrônica só daqui a 60 dias. Enquanto isso, a Transpiedade vai fazer um recadastramento dos idosos e dos portadores de necessidades que gozam da gratuidade para uso do sistema. Segundo ele, cerca de 22% dos usuários do transporte em Itajaí são isentos do pagamento da tarifa. “Esse número é elevado. Trabalhamos em cidades que não chega a 10%”, disse. Outra mudança é que não haverá mais cobrador nos ônibus. “O motorista fará a cobrança a partir de agora e depois com a bilhetagem eletrônica acreditamos que cerca de 30% pague em dinheiro”, explicou. Coletivo terá que devolver crédito do cartão SIM em dinheiro A notícia da troca de empresas e a que o cartão ão seria mais aceito pela Transpiedade deixou muita gente de cabelo em pé. O agente penitenciário Alisson Roberto, 38, foi um que deu com a cara na porta ao chegar na sede administrativa da Coletivo, na rua Camboriú. Ele queria ser ressarcido, ou pelo menos receber informações sobre os R$ 370 que colocou de crédito no seu cartão na sexta-feira passada. “Como é que eu faço agora? Voltei de férias e na sexta já completei meu cartão porque o prefeito tinha dito que nada ia mudar nesse ano. Agora eu tenho que pagar passagem. Todo mundo tem que colocar a boca no trombone”, disse, revoltado. A estudante do ensino médio, Maria Eduarda Wippel, 15 anos, também queria saber o que vai acontecer com os cinquentão de crédito que tem em seu cartão. “Quero saber quando vou receber meu dinheiro de volta”, disse. Segundo a prefeitura, a legislação obriga a Coletivo a ressarcir todos os passageiros que possuem créditos no cartão, com exceção aos que estão sem usar o bilhete há mais de 12 meses. A empresa já teria sido notificada para que comece a reembolsar os usuários. Caso isso não aconteça, a recomendação é que todos procurem o Procon para registrar a queixa e reforçar as medidas judiciais que serão tomadas contra a Coletivo. Além disso, a prefeitura também exigiu que a empresa apresente uma listagem individual dos passageiros e dos valores a serem ressarcidos para que possa acompanhar. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Coletivo informou que vai respeitar o que determinar a lei quanto ao ressarcimento dos créditos aos usuários. Entretanto, essa será uma decisão administrativa da empresa que poderá fazer uma programação para o reembolso. O Procon atende pelo telefone (47) 3348-6906 ou na avenida Joca Brandão, no prédio do Fórum Universitário. Mudanças na rota de Brusque e Balneário A troca de empresas não vai afetar as coisas só dentro de Itajaí. As rotas de ônibus que ligam Brusque e Balneário Camboriú terão limitações a partir de 14 de agosto. Quem, por exemplo, usa a Praiana nas linhas entre Itajaí e Balneário vai sentir na pele. Agora terá que pagar duas passagens quem pegar o ônibus na prefeitura de Itajaí rumo à Balneário. Isso porque os ônibus intermunicipais serão proibidos de passar pelo centro e pelos bairros Vila Operária e São Judas. Apesar de as empresas de transporte intermunicipal não terem sido notificadas até o fim da tarde de ontem, as novas rotas estão listadas em um decreto que cria a comissão que fiscalizará o transporte coletivo em Itajaí. O engenheiro Marcelo Zimmer, que preside a comissão que acompanhará os serviços do sistema de transporte, disse que a mudança é para garantir a saúde financeira na operação do transporte já que a operadora perdia passageiros para os intermunicipais. Menos busões para o povo A partir de agora até o dia 20 de agosto, 15 ônibus vão operar na cidade e outros três ficam na reserva em vez dos cerca de 50 da Coletivo. O cronograma apresentado é que a frota receba mais 10 veículos até o fim de agosto e no dia 15 de setembro cheguem os outros 10 que completarão a frota contratada de 35 carros contando com mais três na reserva. Segundo a prefeitura, a redução do número de ônibus acompanharia a diminuição do número de passageiros que chegou a cair pela metade nos últimos anos. Segundo Morastoni, Itajaí já chegou a ter 800 mil passageiros em seu ápice e agora, de acordo com dados do ano passado, quase 400 mil passageiros/mês usariam o sistema. Com a redução do número de ônibus, a consequência foi a fusão de linhas e mudanças nos seus itinerários. O diretor superintendente da Transpiedade, Rodrigo Corleto Hoelzl, disse que toda a equipe vai acompanhar os problemas que surgirem. “Hoje a operação não é mais a mesma que ontem. Estamos operando com 15 veículos e não há como cobrir uma operação que antes contava com mais de 40 carros. Temos que entender que é uma urgência na emergência e aos poucos tudo vai se acomodar”, falou. De qualquer maneira, Rodrigo disse que a quantidade de ônibus na rua não significa um bom sistema. Segundo ele, Itajaí possui uma boa estrutura com os terminais, trajetos curtos e cidade plana o que vai propiciar um serviço de qualidade para os usuários em breve. “Não consigo enxergar essa cidade com 100 ônibus rodando”, disse. A procuradora geral do município, Silvia Wanderlinde Benvenutti, explicou que a comissão formada pela prefeitura fiscalizará diariamente os serviços da nova contratada. Segundo ela, serão verificados a quantidade de passageiros, a quilometragem rodada e todos os outros encargos que possam afetar na oferta de um serviço de qualidade. “Queremos o equilíbrio entre a prestação de serviço e a prefeitura. Temos agora 60 dias para avaliar os problemas e até o déficit financeiro para repor o caixa caso haja prejuízo”, garantiu. Funcionários da Coletivo terão prioridade A Coletivo Itajaí tem 53 anos de história com a cidade. Fundada em 64 e comprada em 1967 pelo empresário Sérgio Rizzi se firmou como uma empresa familiar e se transformou em um império comandado por ele até sua morte, em dezembro de 2009. A empresa controlava a exploração dos coletivos urbanos na cidade desde a década de 70 e a última licitação aconteceu em 2006 e seria válida durante 15 anos. Entretanto, com as dificuldades financeiras nos últimos meses, greves repetidas, a situação entre a empresa e a prefeitura se tornou insustentável. Apesar de a prefeitura afirmar que o contrato foi rompido de maneira amigável, a assessoria de imprensa da empresa informou que também foi pega de surpresa com a decisão. Outra informação divulgada pela assessoria é que mesmo com o fim do contrato, motoristas e cobradores continuariam empregados até segunda ordem. Entretanto, a procuradora geral, Silvia Benvenutti, disse em coletiva que sabia da demissão de 54 funcionários. A Transpiedade informou que não vai absorver o passivo trabalhista da Coletivo. Por isso, motoristas e cobradores que quiserem buscar uma vaga na nova empresa terão que passar pelo processo seletivo para ter um novo contrato em carteira. A Transpiedade afirmou que os funcionários da Coletivo teriam prioridade na seleção. [kaltura-widget uiconfid="23448188" entryid="0_yfytkjds" responsive="true" hoveringControls="true" width="100%" height="56.25%" /]




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