Itajaí
PVC, A ENCICLOPÉDIA DO FUTEBOL
Se você optou por jornalismo porque era tarado por esse negócio, não pode deixar de ser tarado
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O jornalista não é a notícia. Por mais que repita isso em todas as suas palestras, Paulo Vinícius Coelho, mais conhecido como PVC, já ultrapassou a barreira de quem passa a informação simplesmente. Ele, de certa forma, já é parte dela. PVC é comentarista do canal de esportes a cabo ESPN, da rádio Estadão ESPN, tem uma coluna no jornal O Estado de SP, e ainda é um péssimo jogador de futebol assumido.
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Após duas horas de palestra no Centro de Eventos Itália, em Balneário Camboriú, no último dia 17, PVC recebeu o fotógrafo Minamar Júnior e os repórteres Anderson Silva e Hyury Potter pra um bate ...
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Após duas horas de palestra no Centro de Eventos Itália, em Balneário Camboriú, no último dia 17, PVC recebeu o fotógrafo Minamar Júnior e os repórteres Anderson Silva e Hyury Potter pra um bate-papo sobre futebol. Ele se debruçou sobre temas polêmicos como a Copa 2014, Olímpiadas do Rio, Clube dos 13 e corrupção no esporte.
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PVC, que já cobriu quatro copas do Mundo e sabe na ponta da língua a escalação de vários times e seleções clássicas da história do futebol, não deixa dúvidas sobre o apelido que carrega nos bastidores do jornalismo esportivo brasileiro: a Enciclopédia do Futebol.
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Acho possível fazer a copa de 2014 em 12 sedes, mas não podemos esconder que esse número e as cidades foram escolhidas pra fazer política, pra fazer conchavos e pra fazer arranjos.
Eu tive muita sorte no começo da carreira, mais ainda por ter iniciado numa boa escola de jornalismo, que é a editora Abril. Lá, ou você aprendia a fazer jornalismo ou era um débil mental. Talvez eu seja um débil mental
A flexibilização das licitações pra copa de 2014 era até legítima, o abuso é que agora vão poder ocultar gastos públicos e ocultar orçamentos. Com isso vão poder extrapolar o quanto quiserem. Então deixou de ser expectativa de corrupção e passou a ser perspectiva de corrupção
DIARINHO - Quando começou sua ligação com o futebol?
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PVC Com uns 10 anos eu passava numa banca no caminho pra escola e lia a cada dia um pouco da revista Placar [uma das principais revistas de esporte do Brasil. Criada em 1970 é líder de mercado nesse segmento, apesar de ser voltada exclusivamente pro futebol. Pertence ao Grupo Abril]. Até que certo dia, o dono da banca virou pra mim e disse: Ô moleque! Você não pode ler a revista inteira não! Tem que pagar!. No mesmo dia, fui em casa, voltei com o dinheiro, comprei a revista e nunca mais parei de comprar.
DIARINHO - Quando você decidiu que iria ser jornalista?
PVC Decidi em 1974 e ouvi duas coisas do meu pai. Que eu não ia ganhar dinheiro, e isso é uma verdade, apesar de eu não poder reclamar porque eu tenho uma situação legal. A segunda coisa foi que eu não podia ser jornalista sendo um moleque tímido como era. Com 14 anos eu já queria ser jornalista, mas eu fui bater o martelo mesmo no dia 29 de junho de 1986, quando a França bateu a Bélgica e ficou em 3º lugar na copa do México [o jogo foi disputado em 28 de junho]. Basicamente, foi numa conversa com a minha mãe que eu decidi que preferia viver sete dias na semana trabalhando ao invés de morrer cinco dias pra ter um final de semana.
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DIARINHO - Como começou sua carreira no jornalismo esportivo?
PVC A minha primeira matéria foi publicada dia 15 de setembro de 1987, num jornal chamado Diálogo, de São Bernardo, no interior de São Paulo. Eu diria que hoje aquele moleque que queria ser jornalista tem mais tempo de profissão do que de vida quando queria ser jornalista. Depois de passar por alguns jornais pequenos de São Bernardo e terminar a faculdade, entrei pro programa treinamento da editora Abril. Após o programa de estágio, fui parar na revista Ação, em 1991. Com menos de um mês na revista, o diretor de jornalismo da Ação, Carlos Costa, que na época também era diretor da Quatro Rodas, entrou numa reunião de pauta, que eles chamavam de reunião de ideias, e disse: Vocês devem ter ouvido o boato de que a revista vai fechar. Não é boato não, ela fechou. Aí eu fiquei desempregado, e como eu não tinha nada pra fazer, ficava ciscando na editora. Até que se cansaram de mim e me chamaram pra revista Placar no dia 1º de maio de 91. Eu tive muita sorte no começo da carreira, mais ainda por ter iniciado numa boa escola de jornalismo, que é a editora Abril. Lá, ou você aprendia a fazer jornalismo ou era um débil mental. Talvez eu seja um débil mental [risos].
DIARINHO Como surgiu o apelido PVC?
PVC Eu assinava Paulo Vinícius Coelho no início da carreira. Na Placar era Paulo Coelho, mas o Juca Kfouri me disse que Paulo Coelho era o escritor. Então voltei a assinar Paulo Vinícius Coelho. Quando eu fui pro Lance em 1997, um cara chamado Chico Silva, que hoje está na revista IstoÉ, juntou as iniciais e me chamou de PVC. A primeira coisa que eu fiz foi xingar ele, mas depois eu percebi que era bom. Era mais forte do que eu. Então hoje eu assino Paulo Vinícius Coelho, o PVC.
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DIARINHO - Como o esporte costuma ter amplo faturamento publicitário, as empresas de comunicação enchem os programas esportivos de publicidade e merchandising, principalmente nas transmissões. Como um jornalista deve se portar diante disso?
PVC Um setor não pode interferir no outro. A gente tem problema em fazer matéria com a confederação Brasileira de Futebol (CBF), por exemplo, mas não pode dar porrada neles porque os caras não te vendem algum direito de transmissão ou não pode dar porrada porque ele é parceiro comercial. Por isso que jornalista não pode vender anúncio. Uma hora uma coisa vai atrás da outra. Em 2005, uma moça do comercial entrou na redação da ESPN e falou pro Trajano [José Trajano, jornalista carioca que trabalhou no Última Hora, Jornal dos Sports, O Globo, Revista Placar, Diário de Notícias, Jornal da Tarde, Aqui São Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal Panorama (de Londrina/PR), Tribuna da Imprensa, Revistas Veja e Isto, e que atualmente é diretor de jornalismo da ESPN] que o banco Santander queria comprar um programa com seis jogadores da seleção. Os seis eram: Ronaldo, Roberto Carlos, Cafu, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Eram seis jogadores que com certeza estariam na copa da Alemanha. Então pensamos um pouco e surgiu o programa Nas pegadas dos campeões, sobre a copa do Mundo. A lógica era que qualquer programa que fale sobre a Copa, teria os seis jogadores. Resumindo, o comercial tinha uma possibilidade e perguntou se a gente tinha algum produto que se encaixasse nessa possibilidade. E calhou. Mas a gente podia não ter. O que não pode é você ter que viver por isso. Se a gente não tivesse algo pro Santander, paciência.
DIARINHO - Historicamente o esporte sempre foi visto dentro dos jornais como algo de pouca importância. Isso está mudando hoje ou ainda é assim?
PVC Timidamente, porque as redações de esportes ainda são as que pagam menos em relação à política e à economia. Isso só vai mudar quando o futebol for encarado no Brasil como uma indústria maior do que as outras. Atualmente o esporte já é uma indústria maior do que a música e é uma indústria que rivaliza com o cinema. Se for entendido como isso talvez mude.
DIARINHO - Como foi o convite pra você trabalhar na ESPN Brasil e qual foi a sua expectativa?
PVC Achei que era uma oportunidade do caralho [risos após o palavrão]. Era uma coisa que eu queria fazer, tinha vontade de ser comentarista e colunista. Nos anos 94 e 95 a minha intenção era projetar isso pro futuro. Ao comentar com uns amigos, o Berg [Walterson Sardenberg Sobrinho foi repórter de Fatos & Fotos, Manchete e Ele & Ela; chefe de Reportagem, editor e diretor-adjunto de Contigo; editor especial de Placar; editor e diretor de Redação de Náutica; editor especial de Viagem & Turismo e editor-chefe da revista Próxima Viagem] e ele me falava que isso era loucura. Aí depois virei comentarista e o Berg disse que eu tinha razão, isso foi legal. O convite pra ir pra ESPN Brasil surgiu assim, eu tinha uma coluna de futebol internacional no Lance [jornal esportivo, que circula desde 26 de outubro de 1997, publicado pela Areté Editorial. Com sede na cidade do Rio de Janeiro, possui versões regionais pra outros estados e tem alcance nacional. Além das bancas, ele está presente na internet, com o site www.lancenet.com.br] e o Trajano é muito leitor de jornal, acho que ele lia as colunas e eu emplaquei boas colunas. A partir daí ele começou a se interessar por mim e me convidou pra participar de dois programas, um Futebol no Mundo e um Bola da Vez. Fui bem e o Trajano me convidou pra ser comentarista na copa da África, no ano passado. Ele gostou e eu fui ficando.
DIARINHO - No ar o Trajano é caracterizado pelo jeito brigão dele, até meio ranzinza. Como ele é fora do ar?
PVC O Trajano tem uma qualidade enorme e rara. Ele é o melhor chefe que eu conheci. Eu não falo isso porque ele é gente boa, e sim porque chefe não é o cara que manda, mas sim o que monta a equipe, protege a equipe e dá condições de trabalho a ela. Ele sabe quem tá trabalhando bem e quem tá trabalhando mal. Além disso, o Trajano trabalha pra que quem tá trabalhando bem seja reconhecido, e isso é uma qualidade que chefe não tem. Ele é um comentarista espetacular, mas é ainda melhor como chefe.
DIARINHO - Você faz parte de uma geração de jornalistas esportivos que utiliza muito as estatísticas. Como isso não era muito comum houve resistência a esse tipo de análise?
PVC Não posso reclamar, já que é muito grande o contingente de pessoas que gosta do meu trabalho. Eu sou visto muito mais com simpatia do que com resistência. Sobre isso tem uma história engraçada. O Orkut, agora, perdeu um pouco o sentido, mas no início tinha muita gente que fazia comunidade pra mim. Hoje mesmo a ESPN tem uma comunidade com 25 mil [25.925] pessoas e eu tenho uma com 18 mil [18.350]. De todos os comentaristas, no Orkut, eu sou o que tem mais adeptos. Tinha uma época que eu tinha 18 mil e a ESPN tinha 17 mil. Mas tinha uma comunidade contra mim que tinha seis caras e depois 18 caras [atualmente tem 61]. O nome da comunidade é: Eu odeio o PVC da ESPN. Na descrição os criadores falavam que admitiam que eu era uma enciclopédia e como tal deveria ficar em uma biblioteca e não na televisão. Bom, a inveja é uma merda, mas é engraçado como um cara cria o estereótipo. Pra minha felicidade eu tenho alguns estereótipos, sou o cara da grande memória, da estatística e da tática. Aí tem gente que diz que não gosta de mim porque só falo de tática. Mas eles se esquecem que, por exemplo, eu publiquei ano passado na Folha de S. Paulo uma matéria sobre a compra de votos da eleição do Clube dos 13. Então não acredito na especialidade esportes, porque natação e basquete são absolutamente antagônicos. Por isso tento ser especialista no que eu faço: ser um jornalista de futebol. Então tento me preparar pra falar sobre tática, saúde, política, economia, mas tudo dentro do futebol. Apesar disso, têm pessoas que dizem que não gostam de mim porque eu só dou um monte de números. Isso não é verdade. Eu gosto é de história, não é que eu goste de saber que o Messi [Lionel Andrés Messi, atacante argentino do Barcelona e da seleção que venceu as duas últimas edições do prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa] marcou 38 gols na Champions League. Quero é entender o que isso representa na competição e que, por exemplo, ele passou o Puskás [Ferenc Puskás Biró, atacante húngaro considerado um dos melhores do mundo no século 20]. A graça não é repetir números, mas descobrir algo que está nos números. Isso quando você consegue fazer bem dá um sabor pra matéria e se fizer mal não vai dar sabor nenhum. A graça não é repetir números, mas descobrir algo que está nos números. Então faço isso bem e mal, espero que mais bem do que mal.
DIARINHO - Em seu livro Jornalismo Esportivo você afirma que a Folha de S. Paulo tinha o melhor caderno de política do esporte do mundo, mas não tinha um caderno de esportes. Explique.
PVC Na época o Melchiades Filho [jornalista que começou sua carreira na Folha De S.Paulo em dezembro de 1987. Também foi repórter do caderno Dinheiro, redator e editor-adjunto do caderno Mundo, correspondente em Washington, secretário de Redação da Agência Folha, redator da Primeira Página e editor de Esporte], era o editor do caderno e depois me levou pra trabalhar no jornal. Ele ficou meio puto, mas acho que ele entendeu. O que eu disse é que a Folha é um caderno que trata muito dessas questões políticas do esporte. E isso vale pro bem e pro mal. Apesar de deixar o caderno importante e indispensável, pois você não pode deixar de ler, o jornal não pode abdicar de fazer matérias de esporte. A Folha pecava por isso, mas hoje acho que já mudou um pouco e o caderno está mais esportivo. Já o caderno do Estadão, onde eu trabalho, precisa ser um pouco mais político, ou melhor, um pouco mais indispensável. Porque às vezes você passa dias lendo sem nada que chame atenção e isso precisa mudar. O leitor tem que criar o hábito de, ao deixar de ler o Estadão um dia, achar que perdeu algo importante. Apesar de às vezes abusar da política, a Folha consegue algo nesse sentido, por isso, me deu pena de sair de lá.
DIARINHO - Como você vê a escolha do Brasil como sede da copa do Mundo e das Olimpíadas?
PVC Em 2006, se perguntassem a minha opinião sobre o Brasil ser sede dessas duas competições, eu seria totalmente contra. Só que a partir do momento que o país é escolhido como sede, o nosso papel não é ser contra ou a favor, devemos sim nos tornar fiscais. Acho que esse trabalho de fiscalização está sendo bem feito pela imprensa. Todo dia sai matéria batendo no regime diferenciado de contratações públicas [aprovado pela Câmara no último dia o texto básico da medida provisória cria regras especiais de licitação pra construção de estádios pra Copa e as Olimpíadas], falando sobre o superfaturamento do Mineirão, [estádio de Belo Horizonte], sobre o custo da obra do Maracanã, comparando com o comitê organizador da copa da Alemanha [2006], que divulgava diariamente todos os custos na internet. Isso não é suficiente, mas que tem trabalho da imprensa fiscalizando tem. [Fora os veículos da Globo...]Não acompanhei se divulgaram timidamente ou não algo sobre o regime diferenciado de contratações. Vi que sobre a concorrência do Clube dos 13 foi divulgado só quando era conveniente pra eles. O jornalismo tem que ser independente, apesar dos compromissos comerciais que o veículo tem. No entanto, acredito que as duas competições vão representar oportunidades pro Brasil, pois muita gente vai trabalhar e ganhar dinheiro justo e legítimo. O pecado é a expectativa de corrupção. O pecado maior é a corrupção e o papel da imprensa é fiscalizar pra que ela não exista.
DIARINHO Sobre essa medida provisória, um país que gastou 10 vezes mais do que o previsto na realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007 merece tanta confiança assim?
PVC Não merece, como o Trajano disse no Pontapé Inicial. A flexibilização das licitações era até legítima, pois a gente tem um paquiderme estatal que faz demorar muito mais os processos licitatórios. E esses processos são importantes na construção dos estádios, já que eles são públicos. O abuso é que foram além disso, porque agora vão poder ocultar gastos públicos, ocultar orçamentos e sem precisar detalhar orçamento vão poder extrapolar o quanto quiserem. Então deixou de ser expectativa de corrupção e passou a ser perspectiva de corrupção.
DIARINHO - Com tantos problemas previsíveis, como falta de meios de transporte, hospedagem e estádios, qual a sua opinião sobre a escolha das 12 cidades-sedes pra copa do Mundo de 2014?
PVC Talvez o interesse da confederação Brasileira de Futebol (CBF) fosse fazer política com mais gente, mas acho que algumas justificativas até pras sedes que vão ter elefantes brancos são boas. Por exemplo, ter uma sede na Amazônia é muito legítimo, ter a copa verde no Pantanal é justo, passar a imagem do Brasil ecológico é legal. Só acho que isso deveria ser acompanhado por um trabalho de base pra fortalecer o futebol desses estados, mas isso não foi feito. Não tem que construir um estádio pra ser um elefante branco, precisa ter uma quantidade de times pra usar esse estádio. Acho possível fazer em 12 sedes, mas não podemos esconder que esse número e as cidades foram escolhidas pra fazer política, pra fazer conchavos e pra fazer arranjos. Isso fica muito claro no caso da escolha de Cuiabá/MT. Os inspetores da Fifa ficaram poucas horas em Goiânia/GO, poucas horas em Campo Grande/MS, já em Cuiabá chegaram no dia anterior a inspeção. Tava certo que a cidade seria sede, pois o Gilmar Mendes [presidente do Superior Tribunal Federal de 2008 a 2010 e considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009] entrou na história pra levar pra lá, o Blairo Maggi [ex-governador do estado de Mato Grosso e atual senador, também considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009], trabalhou muito pra isso também. Então teve um lobby ali e eu falei que Cuiabá seria sede um ano antes disso ser anunciado oficialmente.
DIARINHO - Recentemente a Fifa vem sendo alvo de várias denúncias, respingando também na CBF. Você acredita que essas denúncias podem resultar em mudanças nessas entidades?
PVC A médio prazo deve representar uma mudança de postura da Fifa que hoje em dia está muito mais borrada de cocô de passarinho do que o COI [Comitê Olímpico Internacional]. Tempos atrás era diferente, no COI o Jacques Rogge [belga formado em medicina com especialidade em cirurgia ortopédica e o atual presidente], passou um pano, não é que o modo de operação mudou, mas ele passou um paninho ali. Então, hoje, pelo menos, não é tão visível, já a Fifa tá o COI de antigamente.
DIARINHO - Esse racha no Clube dos 13 pode prejudicar financeiramente os times em futuras negociações?
PVC Acho que pode criar um abismo financeiro entre uma parte dos clubes e a outra. Por exemplo, o Flamengo vai ganhar R$ 50 milhões a mais que o Botafogo. Isso a médio prazo pode representar um desequilíbrio de forças no campeonato brasileiro. Pode ser que não represente e o Botafogo consiga compensar isso de outra maneira. O Internacional conseguiu compensar a falta de dinheiro de patrocínio na camisa com uma campanha de sócio-torcedor, então se você tiver receitas criativas pode compensar esse provável desequilíbrio.
DIARINHO - O futebol paulista tem fama de bem organizado, bem administrado, enquanto o futebol do Rio tem fama de ser desorganizado. É isso mesmo ou há um exagero nessas imagens?
PVC Há um exagero, mas a diferença estrutural existe. O centro de treinamento do São Paulo foi inaugurado em 1988, o do Palmeiras em 1991, e no mesmo ano o Corinthians já treinava no CT de Itaquera que era insipiente, era o seu local de treinamento. Enquanto isso os quatro grandes do Rio continuam até hoje tentando descobrir onde vão construir o seu CT. Essa é a diferença, mas não é só isso que ganha título.
DIARINHO - O que falta pro futebol catarinense se firmar no cenário nacional?
PVC Falta mais um título de copa do Brasil pra impulsionar. O Criciúma foi campeão em 1991, num período que o futebol de Florianópolis praticamente não existia a nível nacional. Com isso, o interior puxou a capital e depois a capital puxou o interior. Agora falta uma projeção maior nacional.
DIARINHO - A Federação Catarinense de Futebol tem o mesmo presidente desde 1985. Quando veremos o fim desse tipo de coisa no futebol brasileiro?
PVC Quando for estabelecido, como já foi estabelecido no passado, o limite de uma reeleição. Isso tem que partir da legislação.
DIARINHO - Na sua opinião o quase monopólio do tema futebol dentro do noticiário esportivo prejudica as outras modalidades?
PVC Quando o Gustavo Kuerten foi campeão em Roland Garros pela terceira vez a capa do Lance foi o Guga, na semana seguinte a capa que falava da vitória do Corinthians sobre um time do interior de São Paulo vendeu três vezes mais. Então o jornalismo de esportes olímpicos tem menos espaço porque os jornais dão menos espaço ou porque vendem menos? Eles vendem menos porque as pessoas não têm a cultura de ler ou as pessoas não têm a cultura de ler porque os jornais não fazem as matérias? Acho que essas respostas passam por quem nós somos como povo. A gente é um povo que gosta de futebol e que gosta de ganhar. Então se tem o Ayrton Senna a gente vai comprar o Senna, mas se ganhar demais também enche o saco porque ninguém aguenta mais falar da nossa seleção de vôlei masculino. Os grandes jornais de esporte do mundo, não só do Brasil, são sobre futebol. As únicas exceções são as revistas americanas Sports Illustrated e ESPN, mas porque os Estados Unidos é um país diferente. Lá tem muita gente com muito dinheiro, então se fizer revista de parafuso eles compram. Fora isso, o que chega mais perto de ser um jornal esportivo é o LEquipe [tradicional jornal francês], mas que basicamente tem na capa futebol, ciclismo, tênis e fórmula 1. Na Itália o Gazzetta dello Sport tem futebol, futebol, futebol, eventualmente fórmula 1, e nas férias ciclismo porque tem a Volta da Itália. Isso não é um problema brasileiro é uma questão mundial, pois os outros esportes são ótimos, mas não têm o mesmo apelo.
DIARINHO - Você já cobriu quatro copas do Mundo. Quais foram os fatos mais marcantes nesses mundiais?
PVC O que me marcou foi a copa do Mundo, copa do Mundo é copa do Mundo [risos]. Se eu puder cobrir 15, eu quero. A primeira em 1994 marcou muito. Fiquei em Los Gatos, na Califórnia. Era o Brasil do Parreira, do Romário e a cobertura de uma seleção que era fechada. Em 1998 passei 40 dias na França e foi sensacional, saí de lá falando francês. Em 2006 eu aprendi a falar 10 palavras em alemão todas elas relacionadas a cerveja [risos].
DIARINHO - Você torcia por algum clube antes de se tornar jornalista?
PVC Eu afirmo que não digo nunca o meu time, salvo quando é relevante, ou seja, toda vez que me perguntam. Quando isso acontece exerço a primeira missão da minha profissão: dar a informação certa. Meu avô era Portuguesa, meu pai Santista e eu torço pro Palmeiras desde que era criança.
DIARINHO - Que dica você deixa para o jovem que está começando a faculdade ou sonha em fazer jornalismo?
PVC Eu só acredito em uma receita: não perder a paixão. Se você optou por jornalismo porque era tarado por esse negócio, não pode deixar de ser tarado. Depois disso é trabalhar, apurar, checar, tentar ter fonte e quando tiver fonte tem que saber que a relação com a fonte tem que ser no fio da navalha. Se você ficar longe da fonte não vai ter a proximidade que lhe dá informação. Mas se você ficar próximo demais corre o risco de achar que o cara é seu amigo. Caso ele vire seu amigo, danou-se. Aí você não vai deixar de dar informação pra não ferrar o seu amigo e vai perder a fonte, consequentemente vai perder a notícia.
RAIO-X
NOME: Paulo Vinícius de Melo Coelho
NATURALIDADE: São Paulo
IDADE: 41
ESTADO CIVIL: casado
FILHOS: dois
FORMAÇÃO: jornalista graduado pela Universidade Metodista de São Bernardo/SP
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: Gazeta de São Bernardo, 88 a 90; revista Diálogo, 87; Jornal de São Bernardo, 87; MotoLife, 89; Diário do Grande ABC, 90; revista Ação, 91; Placar, 91 a 97; Lance, 97 a 2000; Placar, 2000 a 2001; Lance, 2001 a 2008; Folha de SP, 2008 a abril de 2011; Estadão, desde maio de 2011; ESPN Brasil, desde 2000.