Itajaí
Vice-governador Eduardo Pinho Moreira
Eu poderia ter sido candidato a governador na última eleição. Mas eu fui racional
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Para uns, Eduardo Pinho Moreira (PMDB) ainda não mostrou a que veio. Para outros, a racionalidade com que ele conduz sua vida política é prova de maturidade. Ano passado, depois de vencer as prévias dentro do partido na disputa contra o prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PMDB), o sempre vice tinha tudo para ser candidato a governador de Santa Catarina. No entanto, ele abriu mão da candidatura e apoiou Raimundo Colombo (DEM), sendo, mais uma vez, o vice da chapa. E retornou ao posto que já ocupou durante o primeiro mandato de Luiz Henrique da Silveira (PMDB): vice-governador pela segunda vez.
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Mesmo num momento em que a estratégia da comunicação do estado é isolar a cúpula do governo, ao menos dos veículos de fora da Capital, Eduardo recebeu os jornalistas Cláudio Eduardo e Mariana Vieira ...
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Mesmo num momento em que a estratégia da comunicação do estado é isolar a cúpula do governo, ao menos dos veículos de fora da Capital, Eduardo recebeu os jornalistas Cláudio Eduardo e Mariana Vieira no seu gabinete, no Centro Administrativo do Governo. No bate-papo, a política passou por todos os tempos verbais: o vice-governador recorda, avalia e prospecta. Uma entrevista sem rodeios. Um entrevistado que deu nome aos bois. Os cliques são de Minamar Junior.
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DIARINHO - Como está o seu relacionamento com o ex-governador Leonel Pavan (PSDB)?
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Eduardo Pinho Moreira Conversamos ontem [última segunda-feira] por telefone. Ele ligou me desejando feliz aniversário. Bom, eu conversei com o Pavan, ele já esteve aqui conversando comigo, eu fiquei de visitá-lo em Balneário Camboriú num momento oportuno. E isso vai acontecer, só não aconteceu ainda por causa da agenda. Mas é um relacionamento bom.
DIARINHO O que o senhor acha das pensões vitalícias aos ex-governadores do estado? O senhor recorreu da decisão da justiça que anulava a sua pensão?
Eduardo Não. Eu sou o único ex-governador que nesse momento não recebe nada porque eu exerço o mandato de vice-governador. Então eu ganho menos como vice do que eu ganharia como ex-governador. Na verdade eu sou o único ex-governador que ganha, praticamente, a metade dos outros, né? Eu acho que deve haver algum tipo de recompensa sim. Porque quando você se dedica ao mandato de governador, você larga toda a sua atividade em qualquer setor: comercial, empresarial, liberal. Eu, por exemplo, como médico, no período que eu vim ser vice-governador, em 2003, eu deixei a minha profissão de médico cardiologista. E depois então, como é que você retorna a uma atividade que muda a cada momento com drogas novas, com equipamentos novos? Eu acho que tem que ter algum tipo de compensação ou de garantia pra que as pessoas tenham um pouco de independência. Se é uma pensão integral ou não, ou de acordo com o tempo, isso deve ser discutido. Mas eu acho que algum tipo de garantia deve existir porque a gente, efetivamente, deixa totalmente as nossas atividades.
DIARINHO No governo LHS, os veículos de comunicação que ficam fora da Grande Florianópolis tinham acesso a informações e eram prontamente atendidos pelo governo. Hoje, há uma dificuldade grande em ouvir os secretários e especialmente o governador. A chamada imprensa do interior não tem vez no governo Colombo?
Eduardo Tem que ter, até porque o secretário [de Comunicação, Derly Massaud de Anunciação que não tem filiação partidária] é o mesmo que implantou, vamos chamar, a descentralização do ponto de vista de notícias também. O secretário Derly continua até com grande apelo dos veículos de comunicação do interior. A própria Acaert [Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão], Adjori [Associação dos Jornais e Revistas do Interior], ADI [Associação dos Diários de Interior], pediam a permanência do Derly exatamente porque ele fez isso. Ele multiplicou por todo o estado de Santa Catarina as notícias que não são exclusivas da capital. Eu acho que, se existe problema nesse momento, não deveria existir. Mas, se existe, é em função do governo numa fase inicial. Mas se isso chegar ao governador e ao secretário eu imagino que deva ser resolvido.
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DIARINHO Um dos lemas de Raimundo Colombo (DEM) quando concorreu ao Senado era acabar com cabidões das secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs). Como governador, contudo, ele não mexeu na estrutura. Como o senhor vê essa permanência de estrutura das regionais?
Eduardo Eu sou favorável. Eu acho que a descentralização administrativa e, veja bem, isso aqui tem que ficar evidente, a descentralização administrativa trouxe grandes vantagens pro interior. Nós acabamos de falar dos veículos de comunicação. E eu estou falando em conquistas. Você vai no oeste catarinense, que é a região mais longínqua da capital. Você pergunta lá em São Miguel do Oeste, Dionísio Cerqueira, na divisa com a Argentina; São Lourenço do Oeste, em Itapiranga, na divisa com a Argentina e com o Rio Grande do Sul. Você fala em extinguir as secretarias regionais, eles não querem, porque era tudo muito difícil. Qualquer ação de governo tinha que ser na capital. Então os prefeitos, as lideranças políticas, empresariais, comunitárias tinham que vir à capital pra conseguir resolver seus problemas. Agora com os secretários regionais eles têm perto de si a porta de entrada no governo de Santa Catarina. Eu acho que o governo atual deve retomar com mais força a descentralização administrativa. Eu acho que nesse momento inicial a descentralização perdeu um pouco a sua característica, eu acho que tem que ser retomada, porque não foi apenas o Raimundo Colombo que ganhou a eleição. Quem ganhou a eleição foi um projeto. Porque em todos os discursos nós falávamos em descentralização administrativa. O próprio Raimundo, eu, o Luiz Henrique (PMDB), o Paulo Bauer (PSDB), que eram os componentes da chapa majoritária. E com relação ao número de cargos, se vocês voltarem a 2002, o último ano do governo Amin [Esperidião Amin (PP)], pra 2003, com a descentralização, vão verificar que não houve aumento do número de cargos. O que existiu é que os cargos ficavam na capital e eles foram transferidos pro interior. Então isso é que tem que ficar claro pra sociedade, que as regionais prestam um serviço relevante. E acho que o governo atual, volto a repetir, tem que retomar a plenitude dessa conquista que foi responsável por três vitórias pra governo do estado. Inédito. Três mandatos consecutivos da mesma corrente política. Duas vezes o Luiz Henrique e uma vez o Raimundo.
DIARINHO - Hoje há SDRs que não tiveram todos os gerentes nomeados ainda. Em Itajaí, por exemplo, nem o diretor geral foi definido. Essa demora não seria a confirmação de que o atual governo não atesta a importância das secretarias?
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Eduardo Pode existir essa leitura, mas eu vou debitar numa outra conta. O que existiu é aquilo que o governador Raimundo Colombo apresentou de que nós ficaríamos quatro meses fazendo um diagnóstico do estado, sabendo das condições econômicas, financeiras, das despesas que eram fundamentais, as que não eram tão importantes, enfim, estabelecer prioridades. Então tudo isso foi discutido ao longo de quatro meses. Fomos atropelados por uma greve prolongada [paralisação dos professores estaduais que começou em 18 de maio] que está aí e atrapalhou efetivamente as ações do governo. Eu debito, vamos chamar assim, até como débito, a nomeação das secretarias não estarem em toda a sua plenitude, a essas questões. Porque se nós voltarmos atrás desse processo de descentralização, acho que será um equívoco.
DIARINHO O prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PMDB), tinha por certa a candidatura dele ao governo no ano passado. Depois do balde de água fria, como ficou a situação dele dentro do partido?
Eduardo Bem... O Dário tá como prefeito de Florianópolis, que é uma missão extremamente importante, de grande repercussão. Prefeito da mais bela capital do Brasil, o melhor destino turístico do Brasil. Então, veja bem, Florianópolis é a vitrine de Santa Catarina. O prefeito Dário Berger tem uma missão importante, é um político importante e com certeza sua carreira política não vai se encerrar agora como prefeito. Ele vai pleitear outros cargos, com certeza. Inclusive o de próprio governador do estado não pode ser descartado, mas outras posições que ele queira no momento oportuno. No ano passado não deu, até porque ele estava recém-chegado no PMDB, ele tinha ainda dificuldades de conhecimento do partido, da máquina partidária. E agora ele está dedicado a isso. Acho que ele vai ter novas oportunidades.
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DIARINHO Como está o seu relacionamento com o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB)? Como foi resolvida a polêmica com possibilidade de sua expulsão do partido por causa da aliança com o DEM na última eleição?
Eduardo Superada. A partir do momento em que você se elege, mostra que você estabeleceu o caminho correto. E ganhamos no primeiro turno. Isso mostra que foi uma aliança consistente, forte, e hoje o próprio Michel Temer reconhece. Tanto que eu estive com ele em Brasília este ano, fui recepcioná-lo há poucas semanas no aeroporto de Joinville, na posse do presidente da associação comercial; estive semana passada, na quarta-feira, numa reunião da executiva nacional do PMDB, comandada pelo presidente Valdir Raupp (PMDB), em exercício. Tavam na mesa todas as grandes lideranças nacionais: o Renan Calheiros (PMDB), líder do Senado; Henrique Eduardo Alves (PMDB), líder da Câmara. Fui chamado para a mesa das autoridades como vice-governador de Santa Catarina e como presidente do PMDB estadual. Então, está superado. Michel só não estava lá porque foi o dia que caiu o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR) [que foi afastado do posto por suposto esquema de superfaturamento em obras da pasta], então a presidenta o chamou no Palácio do Planalto. Mas a relação formal, normal. O Michel é meu conhecido desde que nós fomos deputados juntos no final da década de 80.
DIARINHO E o PMDB de Santa Catarina está tendo voz no governo Dilma?
Eduardo No da Dilma, pouco. No do Raimundo, muito. A situação é complicada. O PMDB de Santa Catarina merecia mais espaço. Não eu, não o Luiz Henrique, o Casildo [Maldaner senador], que trabalhamos pro José Serra (PSDB). Eu, na verdade, trabalhei pro José Serra porque tentaram me expulsar do partido, senão eu teria trabalhado pra Dilma e pro Michel. Mas daí não tinha mais clima de ficar com eles, não é verdade? Mas o Luiz Henrique, o Casildo, eu, o pessoal que trabalhou contra não tem que ter espaço. Agora Paulo Afonso [ex-governador], João Matos [ex-deputado estadual], Celso Maldaner [deputado federal], o Peninha [Rogério Mendonça deputado federal], aquele pessoal que trabalhou, tinha que ter uma participação mais efetiva e voz mais ativa.
DIARINHO Na última eleição, enquanto Luiz Henrique fez de tudo pra que Paulo Bauer superasse Cláudio Vignatti (PT) na disputa pela segunda vaga no Senado, uma parte do PMDB defendia o petista, inclusive em cima de palanques, como segundo voto do partido. Como o senhor viu esse racha?
Eduardo Não é a primeira, nem a segunda, nem a vigésima, nem a centésima vez que há divisões e diferenças dentro do mesmo partido. Elas existem a cada momento e aqui em Santa Catarina tá muito evidente a situação entre a ministra Ideli [Salvatti (PT) ministra das Relações Institucionais] e o secretário executivo Cláudio Vignatti. Então, há dentro do PT uma divisão, um racha impressionante, né? [Com a nomeação de Ideli, Vignatti foi exonerado do cargo de secretário executivo nas Relações Institucionais]. Isso faz parte... Na verdade, volto a dizer, o que aconteceu é que teve uma convenção em Santa Catarina e a tese da minha candidatura a vice foi vitoriosa, a tese da candidatura do Luiz Henrique foi vitoriosa e a tese de apoio ao Paulo Bauer foi vitoriosa. Mas também a tese nacional, onde o PMDB apoiava o Michel Temer, foi uma decisão do diretório nacional. Então, erramos aqui e erramos lá. Tanto que eu não apoiei o Michel e a Dilma por causa da tentativa de expulsão. Então isso faz parte da situação que se vivencia, das dificuldades de momento, das condições locais, das condições regionais. Quer dizer, tudo interfere. Nós tivemos e vamos ter inúmeras outras vezes dissidências internas do partido. Faz parte.
DIARINHO Na época que o senhor assumiu o governo do estado interinamente, no final do primeiro mandato do LHS, o senhor assinou uma medida provisória para fixar o piso nacional do magistério em R$ 1187. Como é sua postura agora diante da greve dos professores?
Eduardo A minha postura é de entendimento. O governo do estado avançou muito. Nós não fomos radicais. O governador, isso é inédito, recebeu os grevistas, os sindicatos e representantes dos grevistas em três oportunidades. As reuniões foram às dezenas. Ficou de forma muito transparente mostrado que nós julgamos a greve dos professores justa e a reivindicação justa. Pagamos o piso, isso nunca se discutiu. Apresentamos propostas, o aumento chegou em torno de 20 a 25%, em média. Nenhuma categoria recebe isso. O grande problema é que os professores queriam o impossível, que nós aplicássemos todo o aumento da folha numa tabela, numa carreira que foi feita em 1980, portanto, defasada. E nós apresentamos uma proposta que chega a quase R$ 28 milhões por mês a mais. Isso é muito dinheiro. O Estado não pode usar todo o seu recurso pra pagar folha e deixar outros compromissos da Segurança, da Saúde, Infraestrutura etc. Então acho que houve um pouco de radicalismo de uma parte dos professores, tanto é que o movimento tá dividido. Se você ler os jornais de hoje [terça-feira, dia 12 de junho], você vê que uma parte voltou às aulas, outra parte não voltou e outra parte voltou parcialmente. E aí ela radicalizou. Se você ler hoje a coluna do Moacir Pereira [no Diário Catarinense], que é um jornalista que servia de porta de entrada de todas as manifestações, hoje ele mostra que os sindicatos não se entendem porque têm duas correntes. Então, isso tá estabelecendo um conflito interno entre eles. Olha, um conflito interno dentro dos sindicatos que representam os trabalhadores. A situação do governo que chegou ao seu limite. Isso levou pra uma radicalização que tá prejudicando os nossos alunos, nossas crianças. Acho que é o momento de parar a greve, de continuar aquilo que foi proposto pelo governo pro segundo semestre, discutindo um plano de melhoria efetiva a partir de 2012, como o governo propôs, e recuperar registro de classe permanente a partir de janeiro do ano que vem. Mas houve um pouco de radicalismo do comando de greve, de uma parte. Isso é ruim pros professores. Mas eu acho que o governo chegou ao seu limite, não tem mais o que oferecer.
DIARINHO O governo sai arranhado politicamente da greve?
Eduardo Eu te diria que, momentaneamente, sim. Mas a população há de entender que o governo não pode privilegiar apenas uma classe. Veja bem, eu assumi o governo em 2006, e um mês depois que eu assumi o governo enfrentei uma greve do magistério de 45 dias. E, no entanto, o Luiz Henrique foi candidato logo a seguir e se elegeu. Só não ganhou em primeiro turno porque surgiu um escândalo na época. Eu acho que isso tem que ser superado, tem que passar uma régua, uma borracha em cima dessas desavenças do governo e o segmento dos professores e nós recuperá-los. Temos tempo pra isso.
DIARINHO - Hoje ainda não dá pra dizer que a saúde está descentralizada, já que moradores de municípios pequenos ainda precisam recorrer às cidades consideradas grandes pra conseguirem determinados exames. O que fazer pra que as pessoas tenham o atendimento necessário sem precisar pegar a estrada?
Eduardo É um assunto complexo, deixa eu te dizer, eu sou médico por formação profissional... É difícil você impedir que um indivíduo saia lá de Ilhota pra consultar em Itajaí, ou saia de Luís Alves ou saia até de Gaspar pra ir, às vezes pra Blumenau, ou pra Itajaí, na busca de um hospital de referência. O hospital Marieta Konder Bornhausen é um grande hospital que resolve os problemas dos pacientes. Então, essa ambulancioterapia, o deslocamento, isso nunca vai se acabar. O que nós temos que acabar é o deslocamento pra capital, de longas distâncias. Deslocamento regional, esse, você não pode ter um hospital de grande resolutividade em cada município. Agora, você tem que ter regionalmente . É o que o governo pretende. Que se tenha um hospital em Itajaí, em Blumenau, em Criciúma, Florianópolis, Tubarão, Chapecó, em Lages, Joinville, enfim... Investir maciçamente na capacitação técnica destes hospitais, pra que a ambulancioterapia fique regional e não estadual. [Mas quanto aos exames de alta complexidade que ainda se concentram muito na capital?] Os exames de alta complexidade você tem que levar pra regiões, né? Você não precisa ter uma ressonância magnética em Ilhota, mas tem que ter em Itajaí. Então, nunca vai se impedir esse deslocamento. Essa questão é complexa. Mas nós temos essa decisão, o doutor Dalmo Claro de Oliveira, que é o secretário da Saúde, de hipertrofiarmos, crescermos, o atendimento e a resolutividade em cada região de Santa Catarina. Nós teremos só o deslocamento regional e é claro que o governo do estado é obrigado a investir 12% da sua receita líquida em saúde. Os governos municipais têm que investir 15% da sua receita líquida em saúde. E eles o fazem. O grande problema, o grande entrave tá no governo federal pela tabela do SUS [Sistema Único de Saúde] que paga poucos reais por uma consulta, poucos reais por uma cirurgia. Ou seja, não remunera de forma adequada os profissionais. Então, este é um problema. O outro problema é a emenda 29 que tá no congresso nacional, que não é regulamentada, e que tem que estabelecer um xis de repasse do governo federal pra investimentos em Saúde. Eu acho se nós... 1% em Brasília é uma fortuna. Se nós aumentarmos 5%, pra chegar a 10%, hoje eles [o governo federal] investem 4,5% em saúde. Se eles chegarem a 10%, acredito que nós teremos um grande ganho. É isso que o governo federal não tá deixando fazer, que é a regulamentação da emenda 29 que está no congresso.
DIARINHO - O senhor abriu mão de ser candidato a governador pra apoiar a candidatura do Raimundo Colombo. Os correligionários dele já deixam claro que o compromisso deles é a reeleição do governador. Então, só em 2018 o PMDB poderá lançar um candidato ao governo?
Eduardo Negativo. O PMDB provavelmente vai ter projeto em 2014. O nosso compromisso foi pra 2010. Eu tenho dito que em 2014 o PMDB vai estar junto com o projeto do governador Raimundo, mas, pra isso, depende muito mais dele do que do PMDB. Se o PMDB for bem tratado, for bem atendido, se nós estivermos satisfeitos com aquilo que pretendemos aplicar em Santa Catarina, se a descentralização administrativa, que é uma bandeira do PMDB, estiver sendo respeitada... Enfim, se as conquistas que o PMDB teve em oito anos de administração continuarem sendo implementadas. Porque o PMDB tem o projeto efetivo da municipalização, que foi a marca do Paulo Afonso, e da descentralização, que foi a marca do Luiz Henrique. E eu acho que tudo isso tem que estar em discussão. Mas nada impede que o maior partido do estado venha ter candidato daqui a três anos. Isso vai depender da situação do momento, da época, mas principalmente da relação que tivermos com o governo Raimundo Colombo.
DIARINHO - Ideli Salvatti atribuiu a derrota dela às pesquisas eleitorais que a colocavam abaixo do real número de votos que fez nas urnas. O senhor acha que as pesquisas favoreceram a vitória de vocês no primeiro turno?
Eduardo Nem um pouquinho, nem um pouquinho. Nós tínhamos pesquisas internas que mostravam nosso avanço muito antes. Nós tínhamos pesquisas diárias, e isso nos deu um panorama muito interessante. E foi bem evidente que, a partir de agosto, quando o PMDB entrou efetivamente na campanha, houve um crescimento mais acelerado da candidatura de Raimundo e eu junto como vice-governador. Então, é impressionante isso, como é nítido nessas pesquisas internas, quando o PMDB se motivou, quando os prefeitos foram às ruas, quando os nossos deputados... Todo mundo pegou junto e a coisa cresceu. Tínhamos um bom candidato, um projeto que, como nós já falamos aqui sobre a descentralização, uma aliança fortíssima com três grandes partidos: Democratas, PSDB e PMDB, juntando com PPS, PTB, aliança realmente forte. O tempo de televisão era muito grande, isso permitia que as propostas fossem apresentadas, aliado que o PT não vivia um momento muito bom em Santa Catarina. Eu disse isso pra Ideli Salvatti, no início de junho, quando ela estava hospitalizada no hospital Sara Kubitschek. Eu fui lá pra pedir que eles desistissem e nos apoiassem pra que nós fizéssemos um grande projeto. Ela não quis, achou que quando o Lula viesse a Santa Catarina mudaria tudo. Não mudou porque eles estavam vivendo um momento inadequado no estado.
DIARINHO - Como o senhor avalia a criação do PSD? Tem lideranças do PSDB, por exemplo, que mudaram pra nova sigla. Isso pode prejudicar a união dentro da tríplice aliança?
Eduardo É possível. Por parte do PMDB nada é expressivo, nada de importante migrou pro PSD. Porque não seria justo haver convites, porque, se nós ajudamos a colocar o Democratas no governo, não era justo que eles tirassem, pelo exercício do poder, aqueles de um dos partidos que os ajudaram a se eleger. Achei inadequado o Maurício Eskudlark [deputado estadual que anunciou a saída do PSDB pra se filiar ao PSD], acho que ele foi por manifestação pessoal, um equívoco do ponto de vista, pela relação de confiança que ele tinha com o ex-governador Leonel Pavan. Eu acho que política é uma das condições fundamentais, além do respeito à sociedade, mas é a lealdade às pessoas e ao projeto político. Eu acho que, por isso, o PMDB não teve nenhuma defecção importante. E o PSDB parece que se restringiu a essa dissidência. [Pela sua experiência política e administrativa, o senhor considera que esse desgaste pra conseguir assinaturas pra criação do PSD e pra conseguir lideranças fortes pro novo partido, em algum momento, prejudicou o andamento do trabalho de prefeituras e câmaras de Santa Catarina?] Acho que criar um novo partido é muito difícil. Ele foi bem criado em Santa Catarina porque está no poder. Se não tivesse, teria dificuldade. Tu vê que em São Paulo foi indo razoavelmente, mas nos outros estados estão com muitos problemas. Não é fácil. Em Santa Catarina, eu volto a dizer, por causa do poder do governador, em São Paulo por causa do prefeito [Gilberto Kassab, que liderou a criação do PSD], e assim sucessivamente. Em outros estados eles estão tendo muita dificuldade. E tá tudo muito conturbado ainda. Mas existem políticos responsáveis dentro desse novo partido que vão saber conduzir isso. E isso não muda a realidade política de Santa Catarina, não. Aqui não mudou nada, pode ter mudado em outros estados. No nosso estado não aconteceu nada. Simplesmente quem era Democratas migrou pro PSD. O Democratas definhou e o PSD cresceu.
DIARINHO - Pras eleições municipais, nas cidades em que o prefeito é do PMDB, a orientação, onde não houver a possibilidade de reeleição, é de que o novo candidato seja também peemedebista? E quanto às alianças municipais, vai existir restrições ou cada diretório municipal terá a liberdade de se coligar com o partido que bem entender?
Eduardo Cada um vai ter liberdade, não haverá nenhum tipo de restrição. Nós vamos ter o maior número possível de prefeitos. O PMDB luta, e é isso que nós estamos fazendo... Eu viajei semana passada pelo Vale do Araranguá, pela região de Tubarão, estarei em Taió, defendendo candidaturas em todos os municípios, se fosse possível. Como não é, o maior número possível de candidaturas a prefeito. O PMDB é o maior partido de Santa Catarina, de longe o maior, em número de prefeitos, em número de vice-prefeitos, de vereadores, deputados estaduais, federais, em número de senadores. O PMDB é o maior partido do estado e esse é um desafio que nós temos: continuar sendo o maior partido de Santa Catarina. E pra isso nós vamos percorrer o estado, e já estamos percorrendo, com vistas nas eleições do ano que vem. Queremos ter candidato, se possível, em todos os municípios. Se não der, que tenhamos, como na última eleição, mais de 220 candidatos a prefeito no estado.
DIARINHO - Pra quebrar o estigma de eterno vice, o senhor pensa em seguir os passos do Luiz Henrique e tentar o Senado? Ou tem outras pretensões?
Eduardo Pode ser. Eu te diria que a política é dinâmica. Eu era candidato a governador no ano passado, trabalhei pra isso, e muito, ganhei umas prévias internas. E ganhei contra um candidato forte, prefeito da capital, com apoio de inúmeros deputados e lideranças de todo estado. Eu poderia ter sido candidato a governador na última eleição. Mas eu fui racional. Quando nós nos dividíssemos, PSDB, Democratas e PMDB, nós corríamos o risco de perder as eleições num projeto da descentralização, voltamos sempre nela, que estava em curso. Um governo aprovado e a gente iria proporcionar o retorno. Esse foi o meu raciocínio. Então, como alguém me disse lá em Concórdia, eu seria o herói em junho, pra ser candidato, e o vilão em outubro, quando tivesse a derrota. Foi muito doloroso pra mim, foi extremamente desgastante do ponto de vista pessoal e político a minha decisão. Mas a tomei racionalmente e hoje as pessoas dizem: Eduardo, você estava certo. Tem um ditado de um filósofo alemão [Friedrich Schiller] que diz o seguinte: breve é a loucura; longo o arrependimento. Então, espero que a gente não se arrependa da decisão que tomou e que isso tenha sido bom e importante pra Santa Catarina e pros catarinenses. Este é o objetivo. [E existe algum objetivo pessoal? Algum cargo político que o senhor ainda queira ocupar?] Olha, você sabe que eu já fui longe na política, né? Fui prefeito de Criciúma, deputado federal secretário de estado, presidente da maior empresa estatal, a Celesc [Centrais Elétricas de Santa Catarina], fui governador por nove meses. Então, já ocupei muitos cargos. Tenho experiência e conhecimento pra saber dar os passos e em 2014 eu saberei dar o meu passo. E ele vai ser sempre norteado na coerência e na racionalidade, por isso que eu acho que minha carreira ainda não se encerrou. Tem espaço pra mim no processo político de Santa Catarina.
O grande problema é que os professores queriam o impossível, que nós aplicássemos todo o aumento da folha numa tabela, numa carreira que foi feita em 1980, portanto, defasada
O PMDB provavelmente vai ter projeto em 2014. O nosso compromisso [com Raimundo Colombo] foi pra 2010
Eu acho que o governo atual deve retomar com mais força a descentralização administrativa
RAIO-X
Nome: Eduardo Pinho Moreira
Naturalidade: Laguna/SC
Idade: 62 anos
Estado civil: casado
Filhos: quatro
Formação: médico cardiologista também especialista em medicina e segurança no trabalho
Trajetória profissional: Deputado federal constituinte (1987-1991), deputado federal (1991-1995), prefeito de Criciúma (1993-1996), secretário de Estado da Casa Civil (1997); vice-governador, eleito em 2002, governador (de 9 de abril de 2006 até 31 de dezembro de 2006). Logo que deixou o comando do governo do estado, Eduardo assumiu a presidência das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), onde ficou até julho de 2009. Desde 2004, Eduardo é presidente da executiva estadual do PMDB, licenciando-se apenas durante o período em que foi governador.